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Após tremores, casas são abandonadas no CE
Com medo de desabamentos, moradores do município de Sobral preferem dormir em barracas improvisadas na rua
Número de abalos na região diminuiu, mas ainda são freqüentes; desde sexta-feira, foram 800 -a maioria dos sismos é imperceptível
DANILO VERPA
REPÓRTER-FOTOGRÁFICO, EM SOBRAL
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA
Desde o tremor de 3,9 graus
na escala Richter na madrugada da última sexta-feira, a cidade de Sobral (240 km de Fortaleza) não adormece. Apesar de
terem diminuído no fim de semana, os abalos ainda são freqüentes, e é difícil encontrar
um morador que se sinta seguro dentro ou fora de casa.
A maioria deles tenta dormir
em barracas de lona improvisadas, que foram espalhadas pelas ruas da comunidade de Jordão (distrito de Sobral), o local
mais afetado pelos tremores.
Quem consegue descansar
desperta assim que sente um
novo tremor. Maria das Dores,
66, mora na comunidade há 26
anos. Quando sentiu o abalo de
sexta, correu apavorada para
fora de casa. "Achei que iria
morrer. Minha pressão subiu,
tive tonturas e dor no peito."
Das Dores às vezes tenta cochilar dentro de casa, mas toma
precauções como dormir perto
da porta e deixá-la aberta.
A reportagem da Folha passou duas madrugadas em Jordão, sentiu os abalos e pôde observar as reações dos moradores. Às 21h57 de sexta-feira, um
novo tremor, de 3,2 na escala
Richter, fez com que todos os
que não haviam deixado suas
casas saíssem correndo com
medo de desabamento. Pelas
ruas, era possível ouvir o choro
de crianças. Naquela noite, ninguém dormiu dentro de casa. O
clima na cidade era tenso.
"Não volto mais para casa.
Vou arrumar uma lona e dormir por lá, é mais seguro", disse
José Ciqueira, 62, apontando
para um campo de futebol.
Ele acordou assustado e com
dores no peito, após sentir o
primeiro tremor da noite de
sexta. Para tentar acalmar o
marido, Lucia Ciqueira preparou um chá de capim-santo que
lhe serviu na rede improvisada
em frente à sua casa, num conjunto habitacional.
"Já ouvi gente dizer que Sobral irá afundar", disse Maria
Santos, 44, mãe de quatro filhos -todos dormem espremidos em barracas improvisadas
na rua. Os moradores dizem
não ter informações sobre as
causas dos tremores.
"Aqui, quando falta água, a
gente bebe lama. E quando acaba a lama, tem terremoto. Isto é
o Ceará", desabafou o morador
Cleidivando de Arruda.
Menos tremores
Segundo Eduardo Alexandre
de Menezes, técnico em sismologia da UFRN (Universidade
Federal do Rio Grande do Norte), as atividade sísmicas diminuíram no fim de semana em
comparação à sexta-feira.
Da 0h às 9h de ontem, foram
registrados 50 tremores. Desde
a madrugada de sexta, Menezes
contabilizou 800 abalos -a
maioria é imperceptível.
Não houve pessoas feridas
nem muitos prejuízos financeiros até agora. Ontem, o responsável pelo monitoramento de
eventos sísmicos no Estado,
Francisco das Chagas Brandão
Neto, disse que foram localizadas em Meruoca (a 277 km de
Fortaleza), município próximo
a Sobral, três casas que sofreram danos mais graves, com
destelhamento parcial.
"Ainda temos de analisar melhor, mas parece que o epicentro está indo para o norte, para
Meruoca", disse Brandão Neto.
Pelos estudos até agora, os
sismos são causados pela acomodação da terra, por haver falhas geológicas na região. Não
há como prever quando os abalos irão cessar.
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