São Paulo, segunda-feira, 03 de março de 2008

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Após tremores, casas são abandonadas no CE

Com medo de desabamentos, moradores do município de Sobral preferem dormir em barracas improvisadas na rua

Número de abalos na região diminuiu, mas ainda são freqüentes; desde sexta-feira, foram 800 -a maioria dos sismos é imperceptível

DANILO VERPA
REPÓRTER-FOTOGRÁFICO, EM SOBRAL

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

Desde o tremor de 3,9 graus na escala Richter na madrugada da última sexta-feira, a cidade de Sobral (240 km de Fortaleza) não adormece. Apesar de terem diminuído no fim de semana, os abalos ainda são freqüentes, e é difícil encontrar um morador que se sinta seguro dentro ou fora de casa.
A maioria deles tenta dormir em barracas de lona improvisadas, que foram espalhadas pelas ruas da comunidade de Jordão (distrito de Sobral), o local mais afetado pelos tremores.
Quem consegue descansar desperta assim que sente um novo tremor. Maria das Dores, 66, mora na comunidade há 26 anos. Quando sentiu o abalo de sexta, correu apavorada para fora de casa. "Achei que iria morrer. Minha pressão subiu, tive tonturas e dor no peito."
Das Dores às vezes tenta cochilar dentro de casa, mas toma precauções como dormir perto da porta e deixá-la aberta.
A reportagem da Folha passou duas madrugadas em Jordão, sentiu os abalos e pôde observar as reações dos moradores. Às 21h57 de sexta-feira, um novo tremor, de 3,2 na escala Richter, fez com que todos os que não haviam deixado suas casas saíssem correndo com medo de desabamento. Pelas ruas, era possível ouvir o choro de crianças. Naquela noite, ninguém dormiu dentro de casa. O clima na cidade era tenso.
"Não volto mais para casa. Vou arrumar uma lona e dormir por lá, é mais seguro", disse José Ciqueira, 62, apontando para um campo de futebol.
Ele acordou assustado e com dores no peito, após sentir o primeiro tremor da noite de sexta. Para tentar acalmar o marido, Lucia Ciqueira preparou um chá de capim-santo que lhe serviu na rede improvisada em frente à sua casa, num conjunto habitacional.
"Já ouvi gente dizer que Sobral irá afundar", disse Maria Santos, 44, mãe de quatro filhos -todos dormem espremidos em barracas improvisadas na rua. Os moradores dizem não ter informações sobre as causas dos tremores.
"Aqui, quando falta água, a gente bebe lama. E quando acaba a lama, tem terremoto. Isto é o Ceará", desabafou o morador Cleidivando de Arruda.

Menos tremores
Segundo Eduardo Alexandre de Menezes, técnico em sismologia da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), as atividade sísmicas diminuíram no fim de semana em comparação à sexta-feira.
Da 0h às 9h de ontem, foram registrados 50 tremores. Desde a madrugada de sexta, Menezes contabilizou 800 abalos -a maioria é imperceptível.
Não houve pessoas feridas nem muitos prejuízos financeiros até agora. Ontem, o responsável pelo monitoramento de eventos sísmicos no Estado, Francisco das Chagas Brandão Neto, disse que foram localizadas em Meruoca (a 277 km de Fortaleza), município próximo a Sobral, três casas que sofreram danos mais graves, com destelhamento parcial.
"Ainda temos de analisar melhor, mas parece que o epicentro está indo para o norte, para Meruoca", disse Brandão Neto.
Pelos estudos até agora, os sismos são causados pela acomodação da terra, por haver falhas geológicas na região. Não há como prever quando os abalos irão cessar.


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