São Paulo, quarta-feira, 03 de março de 2010

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Empresas "retalham" asfalto nas ruas de SP

Intervenções de concessionárias de luz e gás e de empresas de água e telefonia destroem pavimentação; reparos demoram ou são malfeitos

Prefeitura não se responsabiliza por conserto; pesquisadora da USP vê procedimentos técnicos incorretos das empresas

TALITA BEDINELLI
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

Há mais de um mês, um buraco começou a aparecer no asfalto em frente ao prédio de número 196 da rua Derval, na Vila Mascote, zona sul paulistana.
Depois de ver um motoqueiro "quase se arrebentar todinho" no que hoje virou uma cratera, o zelador do prédio começou uma cruzada que parece sem fim: achar quem conserte corretamente o problema.
"A prefeitura diz que a Sabesp é que tem que vir olhar. Mas já faz mais de mês e ninguém veio", conta José Amaro da Silva, o zelador do prédio, que espetou no buraco uma viga de madeira e uma lata.
O mesmo empurra-empurra faz o drama ser frequente em outros pontos da cidade. As obras de ampliação ou manutenção das redes causam buracos e saliências no asfalto, que demoram a ser arrumados. O serviço das concessionárias também causa um desnível entre as tampas de ferro e a rua.
A Folha avisou à prefeitura, por meio do SAC, sobre quatro buracos na Vila Mascote, incluindo o da rua Derval, em 8 de fevereiro. Quatro dias depois, recebeu resposta de que três eram de responsabilidade da Sabesp; o único que não era foi consertado.
Na semana passada, a Folha percorreu por dez horas dezenas de ruas da capital e encontrou ao menos 50 irregularidades no asfalto. Fruto da ação de concessionárias de luz e gás ou empresas de telefonia e água.
O roteiro incluiu bairros onde as concessionárias realizaram obras no primeiro semestre de 2009, segundo informações da própria prefeitura, como Vila Madalena, Perdizes, Pompeia, Pinheiros e o centro.
A prefeitura diz que o problema é recorrente. Segundo uma regulamentação do órgão de 2004, o limite máximo de desnível, no caso de valetas paralelas ao meio fio, é de 1 cm. Nas valas que rasgam a rua, a medida aceitável é de 0,5 cm.
"O erro, em última análise, é da prefeitura, responsável por fiscalizar a obra", diz João Virgílio Merighi, engenheiro especialista em pavimentação.
Apesar das fortes chuvas dos últimos meses, a professora Liedi Bernucci, do Laboratório de Tecnologia de Pavimento da USP, afirma que os obstáculos encontrados nas ruas da cidade são resultado do uso de procedimentos técnicos incorretos.
"Pode ter faltado compactação dentro da vala e, com isso, ela afunda com o tráfego. Ou o material colocado não é correto. Ou faltou manutenção para prever os primeiros problemas", diz a especialista.
Segundo ela, defeitos que surgem principalmente em menos de dois ou três anos são quase sempre sinal de serviço malfeito. "O material tem que ser adequado, a equipe deve estar bem treinada e a técnica utilizada precisa ser a correta."
No item técnicas utilizadas, diz Paulo Dequech, presidente da Associação Brasileira de Tecnologia Não Destrutiva, já há avanços. As principais concessionárias utilizam métodos não destrutivos, mas que não poupam totalmente o asfalto. "Os buracos são abertos, mas são menores. Não dá para garantir que eles [métodos] são usados em 100% dos casos."


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