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Empresas "retalham" asfalto nas ruas de SP
Intervenções de concessionárias de luz e gás e de empresas de água e telefonia destroem pavimentação; reparos demoram ou são malfeitos
Prefeitura não se responsabiliza por conserto; pesquisadora da USP vê procedimentos técnicos incorretos das empresas
TALITA BEDINELLI
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
Há mais de um mês, um buraco começou a aparecer no asfalto em frente ao prédio de número 196 da rua Derval, na Vila
Mascote, zona sul paulistana.
Depois de ver um motoqueiro "quase se arrebentar todinho" no que hoje virou uma
cratera, o zelador do prédio começou uma cruzada que parece
sem fim: achar quem conserte
corretamente o problema.
"A prefeitura diz que a Sabesp é que tem que vir olhar.
Mas já faz mais de mês e ninguém veio", conta José Amaro
da Silva, o zelador do prédio,
que espetou no buraco uma viga de madeira e uma lata.
O mesmo empurra-empurra
faz o drama ser frequente em
outros pontos da cidade. As
obras de ampliação ou manutenção das redes causam buracos e saliências no asfalto, que
demoram a ser arrumados. O
serviço das concessionárias
também causa um desnível entre as tampas de ferro e a rua.
A Folha avisou à prefeitura,
por meio do SAC, sobre quatro
buracos na Vila Mascote, incluindo o da rua Derval, em 8
de fevereiro. Quatro dias depois, recebeu resposta de que
três eram de responsabilidade
da Sabesp; o único que não era
foi consertado.
Na semana passada, a Folha
percorreu por dez horas dezenas de ruas da capital e encontrou ao menos 50 irregularidades no asfalto. Fruto da ação de
concessionárias de luz e gás ou
empresas de telefonia e água.
O roteiro incluiu bairros onde as concessionárias realizaram obras no primeiro semestre de 2009, segundo informações da própria prefeitura, como Vila Madalena, Perdizes,
Pompeia, Pinheiros e o centro.
A prefeitura diz que o problema é recorrente. Segundo
uma regulamentação do órgão
de 2004, o limite máximo de
desnível, no caso de valetas paralelas ao meio fio, é de 1 cm.
Nas valas que rasgam a rua, a
medida aceitável é de 0,5 cm.
"O erro, em última análise, é
da prefeitura, responsável por
fiscalizar a obra", diz João Virgílio Merighi, engenheiro especialista em pavimentação.
Apesar das fortes chuvas dos
últimos meses, a professora
Liedi Bernucci, do Laboratório
de Tecnologia de Pavimento da
USP, afirma que os obstáculos
encontrados nas ruas da cidade
são resultado do uso de procedimentos técnicos incorretos.
"Pode ter faltado compactação dentro da vala e, com isso,
ela afunda com o tráfego. Ou o
material colocado não é correto. Ou faltou manutenção para
prever os primeiros problemas", diz a especialista.
Segundo ela, defeitos que
surgem principalmente em
menos de dois ou três anos são
quase sempre sinal de serviço
malfeito. "O material tem que
ser adequado, a equipe deve estar bem treinada e a técnica
utilizada precisa ser a correta."
No item técnicas utilizadas,
diz Paulo Dequech, presidente
da Associação Brasileira de
Tecnologia Não Destrutiva, já
há avanços. As principais concessionárias utilizam métodos
não destrutivos, mas que não
poupam totalmente o asfalto.
"Os buracos são abertos, mas
são menores. Não dá para garantir que eles [métodos] são
usados em 100% dos casos."
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