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Brincadeira tem hora
Crianças não são poupadas da disciplina do samba na Beija-Flor; em época de Carnaval, ensaios duram até a madrugada
CIRILO JUNIOR
DO RIO
Criança não tem vida mansa na Beija-Flor. Na escola de
Nilópolis, na Baixada Fluminense, nem mesmo os mais
pequenos escapam de uma
preparação de adulto.
Meninos e meninas, de 3 a
17 anos, vivem uma rotina de
disciplina e certo sacrifício
imposta a quem quer desfilar
no Carnaval carioca.
Nas noites de quinta, viram a madrugada no ensaio
semanal -há revezamento
para que não deixem de ir ao
colégio todas as sextas.
A Beija-Flor adota um método diferente para ensaiar.
Ao contrário das outras agremiações, a escola é armada
na quadra como se estivesse
no sambódromo carioca.
Põe os integrantes para
cantar e sambar a noite toda,
das 23h até pouco mais de 3h
horas da manhã. E as crianças não são poupadas, até
porque têm de se acostumar:
a escola vai entrar na Sapucaí na madrugada de terça.
A Beija-Flor parece seguir
à risca o lema de alguns clubes de futebol, de fazer craques em casa. Prepara as
crianças, desde cedo, para o
mundo do samba. A partir
dos 3 anos, elas aprendem o
necessário para se tornarem
autênticos sambistas.
Esse aprendizado faz parte
do projeto Sonho do Beija-Flor, que engloba ações sociais, escolinhas de esporte e
de samba. Aos sábados, 270
crianças e adolescentes tem
aulas coordenadas pela porta-bandeira da escola, Selminha Sorriso, para a formação
de mestres-salas, porta-bandeiras e passistas.
"O samba exige disciplina,
mas nosso ensinamento é feito de forma tranquila. Pego
no pé e ao mesmo tempo dou
carinho", afirma Selminha.
A intenção é produzir estrelas na própria comunidade, como Raíssa, atual rainha de bateria, e Deivid, segundo mestre-sala, que passaram pela escolinha.
Roberta Gallego, 11, quer
ser pediatra e rainha de bateria, mas não disfarça a preferência pela função carnavalesca. Ela frequenta a escolinha da Beija-Flor desde os 3
anos. Ao contrário de 90%
dos alunos, não é de Nilópolis. Mora em Campo Grande,
zona oeste do Rio, e é levada
duas vezes por semana, por
sua tia, para ensaiar.
SEM EXCESSOS
Para a psicóloga Nathália
Arcuri, a cultura do samba
faz parte do universo de regiões influenciadas por escolas de samba, como é o caso
de Nilópolis. Mas ela alerta
que não deve haver excessos.
"É interessante a criança
viver a cultura do samba.
Mas não há necessidade de
elas ficarem expostas a noite
todo num ensaio", afirma.
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