São Paulo, quinta-feira, 03 de março de 2011

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Brincadeira tem hora

Crianças não são poupadas da disciplina do samba na Beija-Flor; em época de Carnaval, ensaios duram até a madrugada

CIRILO JUNIOR
DO RIO

Criança não tem vida mansa na Beija-Flor. Na escola de Nilópolis, na Baixada Fluminense, nem mesmo os mais pequenos escapam de uma preparação de adulto.
Meninos e meninas, de 3 a 17 anos, vivem uma rotina de disciplina e certo sacrifício imposta a quem quer desfilar no Carnaval carioca.
Nas noites de quinta, viram a madrugada no ensaio semanal -há revezamento para que não deixem de ir ao colégio todas as sextas.
A Beija-Flor adota um método diferente para ensaiar. Ao contrário das outras agremiações, a escola é armada na quadra como se estivesse no sambódromo carioca.
Põe os integrantes para cantar e sambar a noite toda, das 23h até pouco mais de 3h horas da manhã. E as crianças não são poupadas, até porque têm de se acostumar: a escola vai entrar na Sapucaí na madrugada de terça.
A Beija-Flor parece seguir à risca o lema de alguns clubes de futebol, de fazer craques em casa. Prepara as crianças, desde cedo, para o mundo do samba. A partir dos 3 anos, elas aprendem o necessário para se tornarem autênticos sambistas.
Esse aprendizado faz parte do projeto Sonho do Beija-Flor, que engloba ações sociais, escolinhas de esporte e de samba. Aos sábados, 270 crianças e adolescentes tem aulas coordenadas pela porta-bandeira da escola, Selminha Sorriso, para a formação de mestres-salas, porta-bandeiras e passistas.
"O samba exige disciplina, mas nosso ensinamento é feito de forma tranquila. Pego no pé e ao mesmo tempo dou carinho", afirma Selminha.
A intenção é produzir estrelas na própria comunidade, como Raíssa, atual rainha de bateria, e Deivid, segundo mestre-sala, que passaram pela escolinha.
Roberta Gallego, 11, quer ser pediatra e rainha de bateria, mas não disfarça a preferência pela função carnavalesca. Ela frequenta a escolinha da Beija-Flor desde os 3 anos. Ao contrário de 90% dos alunos, não é de Nilópolis. Mora em Campo Grande, zona oeste do Rio, e é levada duas vezes por semana, por sua tia, para ensaiar.

SEM EXCESSOS
Para a psicóloga Nathália Arcuri, a cultura do samba faz parte do universo de regiões influenciadas por escolas de samba, como é o caso de Nilópolis. Mas ela alerta que não deve haver excessos.
"É interessante a criança viver a cultura do samba. Mas não há necessidade de elas ficarem expostas a noite todo num ensaio", afirma.


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