São Paulo, sábado, 03 de abril de 2004

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EDUCAÇÃO

Para presidente, sistema de ciclos serve para melhorar estatísticas, mas elimina o controle da qualidade do ensino público

Lula critica falta de reprovação de alunos

DA ENVIADA ESPECIAL A TRÊS LAGOAS

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem em Três Lagoas (MS) o sistema de ciclos no ensino fundamental (1ª a 8ª série), que chamou de "aprovação continuada", por considerá-lo uma forma de melhorar estatísticas, comprometendo a qualidade da escola pública. Disse ainda que "o povo não está querendo mais elefante branco".
"É preciso colocar nas estatísticas que toda criança está na escola. É preciso mostrar para Unicef [braço das Nações Unidas para a infância], ONU e todo mundo que toda criança está na escola. E a qualidade desse ensino? E a qualidade dessa educação? É isso que vamos começar a mudar profundamente", afirmou o presidente, na inauguração de uma termelétrica da Petrobras.
Indiretamente foi uma crítica ao governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), que incentivou os Estados a adotarem o sistema de ciclos, previsto na Lei de Diretrizes e Bases. Ao final da gestão FHC, cerca de 98% das crianças de 7 a 14 anos estavam matriculadas, mas 60% das que concluíam a 4ª série não sabiam ler.
O sistema de ciclos substitui as séries tradicionais. O aluno só pode ser reprovado ao final de duas, três ou quatro séries. É considerado um avanço por garantir a permanência e o aprendizado, mas é visto como tentativa de mascarar a repetência.
"Você não resolve o problema da repetência anulando um critério de aferição da qualidade de ensino. Se não, é muito fácil. [É falar:] eu não quero que tenha repetência porque vai aparecer o índice do IBGE dizendo que tantas crianças repetem de ano e ficam ocupando o banco da escola, então vamos passar direto. Que história é essa?", questionou Lula.
E completou, ao dizer que tem pedido a ministros a melhoria de serviços existentes em vez de tentar criar novos: "O povo não está querendo mais um elefante branco. O povo está querendo ser atendido com respeito. Precisamos respeitar o nível de ensino que as crianças estão tendo em nossas escolas".
Segundo Lula, as escolas particulares, "onde estão os filhos dos ricos", adotam prova a cada dois ou três meses e, se o aluno não está bem, tem reforço. "Se estabeleceu como critério que a criança vai lá [na particular] para estudar e aprender. Na escola pública, a criança vai porque tem que ir."


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