São Paulo, sábado, 03 de abril de 2004

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Agentes do FBI e conhecidos de suspeito reagiram com desconfiança à primeira versão apresentada por Jossiel dos Santos

Confissão surpreendeu vizinhos de caseiro

ELVIRA LOBATO
FABIANA CIMIERI
DA SUCURSAL DO RIO

A confissão de Jossiel Conceição dos Santos já havia sido recebida com ceticismo pela Embaixada dos Estados Unidos, por funcionários da Shell e por moradores da favela Tijuquinha, onde mora, antes de ele mudar sua versão sobre o crime na Barra da Tijuca.
Em nota emitida durante o dia, a embaixada disse entender que a investigação ainda está em andamento. "O FBI [a polícia federal norte-americana] continua a acompanhar o caso e à disposição para oferecer apoio investigativo se necessário."
A Folha apurou que os quatro agentes do FBI que acompanham as investigações desconfiaram da confissão, mas não se pronunciaram porque tiveram acesso à notícia pela imprensa. Para eles, o depoimento diverge dos indícios encontrados pela própria polícia.
Na sua primeira versão para o crime, Santos havia dito ter sido vítima de discriminação racial por parte de Todd Staheli e que isso teria motivado os crimes. O caseiro afirmou inicialmente que o executivo teria dito a ele, em português, que "não queria um crioulo em cima da laje da casa".
A versão foi contestada por funcionários da Shell ouvidos pela Folha. Segundo eles, Staheli não tinha domínio suficiente da língua para dizer a frase. Ele havia tido poucas aulas de português e só se comunicava em inglês.
Na Tijuquinha, vizinhos e amigos do caseiro reagiram com desconfiança à primeira confissão. O presidente da associação dos moradores, Ideraldo Luz, disse, antes de saber da nova versão de Santos, que não acreditava na confissão tanto pelo comportamento do rapaz -"não há nada que o desabone na comunidade"- como pela discrepância entre os requintes do crime e o perfil do réu.
"O assassinato foi divulgado como um crime quase perfeito porque nem os agentes do FBI conseguiram descobrir pistas do autor. Isso não combina com o Jossiel, um rapaz calmo, tímido, de pouca instrução", afirmou Luz.
Também os porteiros do condomínio Porto dos Cabritos -onde Santos trabalhava e onde moravam as vítimas- desdenharam da motivação alegada. Eles afirmaram que chamavam o rapaz de "crioulo", de brincadeira, e que ele nunca esboçara reação.
O ex-motorista de Staheli, Sebastião Moura, que é negro, disse que não sofreu discriminação racial por parte da família e que o ex-patrão não falava português.
A Folha tentou entrar em contato com os filhos do casal nos EUA, mas a pessoa que atendeu aos telefonemas disse que eles não falariam com jornalistas.


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