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Agentes do FBI e conhecidos de suspeito reagiram com desconfiança à primeira versão apresentada por Jossiel dos Santos
Confissão surpreendeu vizinhos de caseiro
ELVIRA LOBATO
FABIANA CIMIERI
DA SUCURSAL DO RIO
A confissão de Jossiel Conceição
dos Santos já havia sido recebida
com ceticismo pela Embaixada
dos Estados Unidos, por funcionários da Shell e por moradores
da favela Tijuquinha, onde mora,
antes de ele mudar sua versão sobre o crime na Barra da Tijuca.
Em nota emitida durante o dia,
a embaixada disse entender que a
investigação ainda está em andamento. "O FBI [a polícia federal
norte-americana] continua a
acompanhar o caso e à disposição
para oferecer apoio investigativo
se necessário."
A Folha apurou que os quatro
agentes do FBI que acompanham
as investigações desconfiaram da
confissão, mas não se pronunciaram porque tiveram acesso à notícia pela imprensa. Para eles, o depoimento diverge dos indícios encontrados pela própria polícia.
Na sua primeira versão para o
crime, Santos havia dito ter sido
vítima de discriminação racial
por parte de Todd Staheli e que isso teria motivado os crimes. O caseiro afirmou inicialmente que o
executivo teria dito a ele, em português, que "não queria um
crioulo em cima da laje da casa".
A versão foi contestada por funcionários da Shell ouvidos pela
Folha. Segundo eles, Staheli não
tinha domínio suficiente da língua para dizer a frase. Ele havia tido poucas aulas de português e só
se comunicava em inglês.
Na Tijuquinha, vizinhos e amigos do caseiro reagiram com desconfiança à primeira confissão. O
presidente da associação dos moradores, Ideraldo Luz, disse, antes
de saber da nova versão de Santos, que não acreditava na confissão tanto pelo comportamento do
rapaz -"não há nada que o desabone na comunidade"- como
pela discrepância entre os requintes do crime e o perfil do réu.
"O assassinato foi divulgado como um crime quase perfeito porque nem os agentes do FBI conseguiram descobrir pistas do autor.
Isso não combina com o Jossiel,
um rapaz calmo, tímido, de pouca
instrução", afirmou Luz.
Também os porteiros do condomínio Porto dos Cabritos
-onde Santos trabalhava e onde
moravam as vítimas- desdenharam da motivação alegada. Eles
afirmaram que chamavam o rapaz de "crioulo", de brincadeira, e
que ele nunca esboçara reação.
O ex-motorista de Staheli, Sebastião Moura, que é negro, disse
que não sofreu discriminação racial por parte da família e que o
ex-patrão não falava português.
A Folha tentou entrar em contato com os filhos do casal nos
EUA, mas a pessoa que atendeu
aos telefonemas disse que eles não
falariam com jornalistas.
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