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Lula deixa com FAB decisão sobre punição
Presidente quebrou item do acordo com controladores que dava garantias de que não haveria pena para os amotinados
Pretexto para recuo foi a abertura de inquéritos contra os líderes pelo Ministério Público Militar, que é independente do governo
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em reunião com os comandantes da Aeronáutica, do
Exército e da Marinha, ontem,
o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva disse que "reavaliou" a
decisão de não punir os controladores de vôo que se amotinaram na sexta-feira.
Com isso, a FAB aceitou retomar hoje o controle do tráfego
aéreo, com a volta dos oficiais
aos postos de chefia abandonados desde o sábado em reação
ao acordo assinado pelo ministro Paulo Bernardo (Planejamento) com os amotinados.
Assim, às vésperas do feriado
da Páscoa, o governo rasgou o
item 1 do acordo com os amotinados, que dava "garantias" de
que não haveria punição aos
amotinados, e o comandante da
Aeronáutica, Juniti Saito, voltou a ter poder de decisão para
tratar da questão -inclusive
para definir como e quantas serão as eventuais punições.
Por outro lado, segundo disse
a interlocutores, Lula poderá
estudar uma anistia aos controladores caso eles venham a ser
punidos judicialmente. Mas isso dependeria de um acordo
posterior com a cúpula da FAB
e da normalização da crise no
setor aéreo.
IPMs
O pretexto para o recuo de
ontem foi um fato consumado
legal: o anúncio da abertura de
IPMs (inquéritos policiais militares) contra os líderes do motim pelo Ministério Público
Militar, que é independente do
governo.
Mas o fato real é que Saito
não só estimulou os IPMs como levou pela manhã a Lula
dois alertas: o motim dos controladores poderia ter um efeito-cascata sobre as demais categorias do controle aéreo e
provocar uma contaminação
no Exército e na Marinha.
Foi por isso que Lula chamou
para uma nova reunião, no final
da tarde, também os comandantes do Exército, general Enzo Martins Peri, e da Marinha,
almirante Júlio Soares de Moura Neto. A Lula, eles disseram
que a quebra de hierarquia de
sexta afetava a autoridade deles
e a do próprio presidente.
Lula então fez elogios à disciplina e à hierarquia e citou o futuro envio de projeto que coibirá greve em serviços essenciais
no funcionalismo.
Na conversa, o presidente
justificou que impediu Saito de
dar ordem de prisão aos amotinados e determinou que a área
civil do governo negociasse
com eles porque estava viajando para os Estados Unidos e recebeu relatos precários e incompletos da situação ainda no
vôo. Disse, ainda, que Saito lhe
levara ontem um "quadro mais
completo", daí a "reavaliação".
O que é incerto é a reação dos
controladores com o não-cumprimento do acordo. Além de
eventuais punições, a desmilitarização do setor pode ser posta em banho-maria e o aumento salarial pretendido, menor.
Tensão
Na avaliação feita pelos militares a Lula, a questão principal
da crise continua existindo: se
os controladores resolverem
parar de novo, o governo não
sabe se terá condições de cobrir
os grevistas.
Apesar de o governo falar em
"quadro completo" agora, nem
mesmo Saito tem noção exata
da extensão do movimento
nem de que contingente teria
para manter o sistema funcionando. O clima de tensão, portanto, continua.
Quanto às punições, o Comando da Aeronáutica decidiu
que não deve punir os controladores por "transgressão disciplinar", pois inviabilizaria uma
posterior penalização do Ministério Público Militar por crime, que é bem mais grave. Assim, se Saito decidir punir os líderes, será por crime em flagrante, caso repitam a greve.
A intenção é, se não houver
novo motim, remanejar os líderes do movimento dos consoles
de controle para funções administrativas, para evitar choques
com os oficiais -que eles já não
reconhecem como chefes. Isso
ficou de ser estudado.
O andamento independente
dos IPMs é considerado pela
FAB como fator crucial para o
restabelecimento de ordem. Se
a impunidade aos sargentos rebeldes fosse garantida pelo governo, como havia sido acertado na sexta-feira, não haveria
condições de enviar oficiais de
volta às salas de controle.
A Folha apurou que a proposta em elaboração ontem no
Palácio do Planalto está longe
de atender às solicitações da
categoria. O principal ponto da
pauta de reivindicações, a criação de uma gratificação, será
atendido, mas o valor ficará no
máximo em R$ 1.500. Os controladores queriam R$ 3.000,
enquanto o governo já havia
oferecido R$ 600.
As propostas que serão colocadas na mesa por parte dos representantes do governo são
aquelas que o Planalto considera importantes e que já vinham
sendo tratadas pela comissão
que foi criada depois do acidente da Gol, em setembro.
Ou seja, o processo de desmilitarização do setor, o valor da
gratificação salarial e o plano
de carreira.
(ELIANE CANTANHÊDE, KENNEDY ALENCAR, LEILA SUWWAN, JULIANNA SOFIA e VALDO CRUZ)
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