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Controladores afirmam que não haverá greve na Páscoa
No centro de controle em Brasília, clima entre operadores foi de medo e desilusão
Críticas do presidente Lula à
paralisação e valor
considerado baixo da
gratificação repercutiram
mal entre os operadores
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em nota oficial, os controladores prometeram que não haverá paralisação na Semana
Santa, mas no Cindacta-1 (Brasília) o clima ontem foi de nervosismo, medo e desilusão. Os
sargentos que realizaram o motim na sexta-feira estão há três
dias chefiando os próprios trabalhos e temem a represália
militar quando a poeira baixar.
A sensação interna é de desgaste e abandono. Avaliam que
se a reunião de hoje com o governo não trouxer uma renovação da garantia de não-punição
e uma definição do valor da gratificação, terão sido derrotados.
Nova greve é vista como improvável. Alguns discutiram a possibilidade de demissão coletiva.
No início do dia, ainda havia
algum otimismo com a expectativa de que hoje ficasse definida uma gratificação emergencial de pelo menos R$ 3.000
e com a criação de uma estrutura civil para chefiar e coordenar
a transição da desmilitarização,
o que poderia ocorrer por meio
de medida provisória.
Logo no começo do dia a
ABCTA (Associação Brasileira
dos Controladores de Tráfego
Aéreo) soltou uma nota à imprensa para desmentir qualquer intenção de paralisação
no feriadão de Páscoa.
Essa ameaça de nova greve
teria sido transmitida pelo advogado da associação, Normando Cavalcanti, na noite de sexta. Segundo a nota, "foi dada
num momento de nervosismo
e não condiz com a realidade".
A retomada da paralisação
também havia sido ameaçada
por sargentos amotinados como opção se houvesse qualquer
punição pela rebelião.
Porém, a mudança de tom do
presidente Lula -que chamou
os sargentos de "irresponsáveis"- e as informações de que
a gratificação a ser oferecida teria um teto de R$ 1.500 repercutiram mal internamente.
Controladores militares e
um representante do sindicato
civil da categoria tiveram a
mesma reação: "O governo está
brincando com a gente?"
"Não nos interessa essa gratificação", disse Ernandes Pereira, diretor do sindicato que representa a minoria civil de controladores e que avaliava ontem indicativo de greve.
Os controladores militares
afirmam que esse nível de gratificação já foi proposto pela
FAB e rejeitado pelos controladores em negociações secretas
com o ex-comandante Luiz
Carlos Bueno. A Folha teve
acesso a circulares eletrônicas
da categoria que classificava de
"irrisória" a quantia de R$ 600
oferecida anteriormente.
O anúncio de que haveria
IPMs (Inquério Policial Militar) também abalou os ânimos
nas salas de controle. Além disso, controladores repetiram o
temor de que -isolados da área
técnica e do restante do sistema aéreo- poderiam ser culpados por falhas técnicas de
equipamento.
Um controlador relatou que
sargentos da área de Defesa Aérea -considerados pelo governo como potenciais substitutos
de grevistas- estiveram na sala
de controle. Além disso, a luz
falhou durante meia-hora, o
que poderia indicar uma queda
de energia ou pane.
O temor de punição levou
um dirigente da ABCTA a fazer
lobby no Congresso. José Ulisses Fontenele pediu que o governo concedesse "anistia" aos
controladores por meio de um
projeto de lei. "O que foi prometido foi uma anistia prévia."
O sargento Carlos Trifilio,
presidente da Federação Brasileira das Associações dos Controladores de Tráfego Aéreo,
afirmou que não há risco de
uma nova greve da categoria
durante o feriado da Páscoa.
Ele ressaltou, no entanto,
que a estrutura de trabalho é
precária. "A gente vai continuar trabalhando, mas trabalhando com a condição que a
gente tem", afirmou.
Colaboraram LETÍCIA SANDER , da Sucursal de
Brasília e EVANDRO SPINELLI
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