São Paulo, terça-feira, 03 de abril de 2007

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Controladores afirmam que não haverá greve na Páscoa

No centro de controle em Brasília, clima entre operadores foi de medo e desilusão

Críticas do presidente Lula à paralisação e valor considerado baixo da gratificação repercutiram mal entre os operadores

LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em nota oficial, os controladores prometeram que não haverá paralisação na Semana Santa, mas no Cindacta-1 (Brasília) o clima ontem foi de nervosismo, medo e desilusão. Os sargentos que realizaram o motim na sexta-feira estão há três dias chefiando os próprios trabalhos e temem a represália militar quando a poeira baixar. A sensação interna é de desgaste e abandono. Avaliam que se a reunião de hoje com o governo não trouxer uma renovação da garantia de não-punição e uma definição do valor da gratificação, terão sido derrotados. Nova greve é vista como improvável. Alguns discutiram a possibilidade de demissão coletiva.
No início do dia, ainda havia algum otimismo com a expectativa de que hoje ficasse definida uma gratificação emergencial de pelo menos R$ 3.000 e com a criação de uma estrutura civil para chefiar e coordenar a transição da desmilitarização, o que poderia ocorrer por meio de medida provisória. Logo no começo do dia a ABCTA (Associação Brasileira dos Controladores de Tráfego Aéreo) soltou uma nota à imprensa para desmentir qualquer intenção de paralisação no feriadão de Páscoa.
Essa ameaça de nova greve teria sido transmitida pelo advogado da associação, Normando Cavalcanti, na noite de sexta. Segundo a nota, "foi dada num momento de nervosismo e não condiz com a realidade". A retomada da paralisação também havia sido ameaçada por sargentos amotinados como opção se houvesse qualquer punição pela rebelião.
Porém, a mudança de tom do presidente Lula -que chamou os sargentos de "irresponsáveis"- e as informações de que a gratificação a ser oferecida teria um teto de R$ 1.500 repercutiram mal internamente. Controladores militares e um representante do sindicato civil da categoria tiveram a mesma reação: "O governo está brincando com a gente?" "Não nos interessa essa gratificação", disse Ernandes Pereira, diretor do sindicato que representa a minoria civil de controladores e que avaliava ontem indicativo de greve.
Os controladores militares afirmam que esse nível de gratificação já foi proposto pela FAB e rejeitado pelos controladores em negociações secretas com o ex-comandante Luiz Carlos Bueno. A Folha teve acesso a circulares eletrônicas da categoria que classificava de "irrisória" a quantia de R$ 600 oferecida anteriormente.
O anúncio de que haveria IPMs (Inquério Policial Militar) também abalou os ânimos nas salas de controle. Além disso, controladores repetiram o temor de que -isolados da área técnica e do restante do sistema aéreo- poderiam ser culpados por falhas técnicas de equipamento. Um controlador relatou que sargentos da área de Defesa Aérea -considerados pelo governo como potenciais substitutos de grevistas- estiveram na sala de controle. Além disso, a luz falhou durante meia-hora, o que poderia indicar uma queda de energia ou pane.
O temor de punição levou um dirigente da ABCTA a fazer lobby no Congresso. José Ulisses Fontenele pediu que o governo concedesse "anistia" aos controladores por meio de um projeto de lei. "O que foi prometido foi uma anistia prévia." O sargento Carlos Trifilio, presidente da Federação Brasileira das Associações dos Controladores de Tráfego Aéreo, afirmou que não há risco de uma nova greve da categoria durante o feriado da Páscoa. Ele ressaltou, no entanto, que a estrutura de trabalho é precária. "A gente vai continuar trabalhando, mas trabalhando com a condição que a gente tem", afirmou.


Colaboraram LETÍCIA SANDER , da Sucursal de Brasília e EVANDRO SPINELLI


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