São Paulo, quinta-feira, 03 de abril de 2008

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ANA MARIA MOREIRA QUINTELLA

Voz sem pudor da professora da Mooca

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Ela acordava as crianças no grito, Ana Maria Moreira Quintella, no afã de ensinar aos pequenos moquenses as primeiras letras da vida -foi lá que a moça "enérgica" passou a vida dando aula. "Nasceu e morreu na Mooca."
Na rua Madre de Deus, no miolo do bairro conhecido pela gente italiana de fala alta, nasceu e muito brincou de atender clientes na venda do avô. "Desde pequena falava muito e muito alto." Na venda da Mooca se sentia em casa. Por ali passou toda a vida, entre a rua do Oratório e a dos Campineiros, onde, até hoje, moram os pais e a irmã.
Estudou no colégio São Judas, lá concluiu a faculdade de letras, e tinha seus 20 anos quando virou professora de primeira a quarta série. Diz o filho que não havia quem não a conhecesse na escola. Porque a senhora loira, aquela gordinha de óculos, "adorava falar palavrão", sem dissimular sua alegria.
Como sempre deu aula em escola pública, e "como professor sempre ganhou pouco", fez bicos para criar os dois filhos ao se separar do marido. Fazia tapetes e vendia pijamas, mas nunca deixou de passar as duas férias por ano no Guarujá, aproveitando a praia -são as melhores lembranças do filho.
Em outubro descobriu um câncer em estado avançado, mais rápido em sua metástase que a esperança de conhecer o neto, esperado para daqui a três semanas. "A doença foi mais rápida que a ansiedade dela." Morreu sexta, aos 53 anos, em São Paulo.


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