São Paulo, sexta-feira, 03 de abril de 2009

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Em dez anos, classe média evita ainda mais o ônibus

Preferência pelo carro na faixa de renda de R$ 3.040 a R$ 5.700 cresce no período

Ampliação da oferta de vagas no transporte coletivo fez aumentar o número de usuários de renda menor no sistema na Grande São Paulo


RICARDO SANGIOVANNI
EVANDRO SPINELLI
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

A expansão do transporte coletivo na região metropolitana de São Paulo atraiu os mais pobres, mas não conseguiu seduzir a classe média alta em dez anos. Esses, ao contrário, continuaram aderindo ao carro e abandonando os ônibus, como apontam dados da pesquisa Origem/Destino 2007 do Metrô -a mais completa do setor, que norteia políticas de desenvolvimento da rede de transportes- divulgados ontem.
A pesquisa ouviu 92 mil pessoas na Grande São Paulo.
A preferência pelo carro cresceu de 38,8%, em 1997, para 45,8%, em 2007, entre pessoas com renda de R$ 3.040 a R$ 5.700, que usam o automóvel como principal transporte. Ônibus, metrô e trem são usados por 26,8% -eram 30,5%.
Na faixa com renda superior a R$ 5.700, 67% das viagens são feitas de carro (dois pontos percentuais a mais) contra 14,8% que usam coletivos.
Dados parciais da pesquisa, antecipados em setembro passado pela Folha, mostraram que o uso de transporte coletivo havia aumentado em relação ao individual pela primeira vez em 40 anos -saltou de 51% para 55%, contra 45% de meios individuais.
O perfil da renda dos usuários mostra que o aumento registrado deveu-se sobretudo à adesão da faixa mais pobre da população, que passou a ter mais acesso ao transporte devido ao aumento da renda e a integração entre ônibus, trens e metrô, principalmente o Bilhete Único, que reduziu custos.
"O que preocupa é que não está acontecendo a atração do usuário do automóvel para o transporte coletivo. Para isso, é preciso, além de oferecer transporte de qualidade, criar mecanismos de restrição ao carro [entre eles o pedágio urbano]", diz o engenheiro de transportes e professor da Unicamp Carlos Alberto Bandeira Guimarães. A prefeitura descarta implantar o pedágio urbano em São Paulo.
Entre 1997, ano da pesquisa anterior, e 2007, houve ampliação de 45% da oferta de vagas no metrô; os trens ganharam 83% mais vagas e os ônibus, 20%, segundo a secretaria -além da criação de corredores exclusivos. "O aumento das viagens está pressionando a demanda [por trem e metrô]. Se não houver uma inflexão [melhorias], o sistema vai ficar caótico", disse o secretário dos Transportes Metropolitanos José Luiz Portella.
Do plano de expansão da rede de trens e do metrô da atual gestão, os resultados mais significativos -a linha 4-amarela, entre Luz e Vila Sonia, e a conclusão do prolongamento da linha 2-verde até a Vila Prudente- só devem ser vistos a partir do primeiro semestre de 2010.
"É preciso que esses projetos se concluam para que a próxima pesquisa [em 2017] possa mostrar números diferentes", diz a professora da Fatec de São Caetano Adriane Fontana.


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