São Paulo, sexta-feira, 03 de abril de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Expansão da periferia amplia tempo de locomoção

População cresce longe do centro; emprego, o oposto

DA REPORTAGEM LOCAL

Enquanto a população cresce na periferia, a oferta de emprego cresce no centro. O fenômeno não é novo, mas a mais recente pesquisa Origem/Destino do Metrô, divulgada ontem, mostra que ele se intensificou na última década. Com isso, os deslocamentos ficaram ainda mais demorados -em média, 71 minutos por trajeto no transporte coletivo, 13% a mais do que em 1997-, o que prejudicou ainda mais o trânsito.
Essa tendência de centralizar o emprego e afastar a população reforça a necessidade de aumentar a oferta de transporte de massa -mais ônibus, mais metrô, mais trens, etc.- para viagens longas, o que, para especialistas, é a principal causa de congestionamentos e queda da qualidade de vida.
Regiões como Itaim Paulista, Lajeado, Cidade Tiradentes, todas no extremo leste, e Campo Limpo e Capão Redondo, na zona sul, que já eram altamente adensadas, ficaram ainda mais entre 1997 e 2007, período considerado pela pesquisa.
Por outro lado, o mapa do emprego revela que, às áreas com maior oferta de vagas, onde já estavam República, Santa Cecília, Jardins e Pinheiros, por exemplo, juntaram-se outras como Barra Funda, Itaim Bibi (zona oeste), Vila Mariana (zona sul), Bom Retiro e Liberdade (centro).
As regiões com maior adensamento populacional têm mais de 150 moradores por hectare. Nas áreas com maior oferta de emprego, são mais de 150 postos de trabalho por hectare. O que ocorre é que os bairros residenciais se esvaziam de dia e os bairros com mais empresas se esvaziam à noite.
Para se ter uma ideia, só a linha 3-vermelha do metrô, que liga a zona leste ao centro, transporta diariamente mais de 3 milhões de passageiros -toda a população do Uruguai.
"O adensamento da cidade é tarefa para os urbanistas. A nossa é levar o transporte onde existe demanda", diz o diretor de planejamento da expansão do Metrô, Marcos Kassab.
Ele afirma que, embora o objetivo do plano de expansão seja conciliar o desenvolvimento urbano nos locais onde as pessoas moram com a chegada do transporte de massa a regiões extremas, a prioridade imediata é atender à demanda atual.
"A política de desenvolvimento do transporte não pode ficar a reboque do modo como a cidade se desenvolve. Se você só facilita o acesso à periferia, estimula que as pessoas morem cada vez mais longe", diz o professor da Unicamp Carlos Alberto Bandeira Guimarães.

Solução
"A solução é levar emprego para a periferia e trazer gente para morar no centro. O que foi feito nesse sentido não surtiu efeito algum", diz o urbanista Candido Malta, autor de uma tese de doutorado que sugere o estímulo ao adensamento populacional das regiões próximas às linhas de trem como melhor política para o desenvolvimento da cidade. A tese foi apresentada em 1973.
"Se tivesse sido feito o adensamento nos eixos das linhas de trem como sugeri em 1973, não teríamos tantos congestionamentos e os deslocamentos seriam menores." Ele diz que levar a população para morar perto das linhas de trem é uma boa opção porque é mais barato fazer metrô nessas regiões. E ainda é possível fazer isso.
Para Malta, a cidade deve perseguir a meta de que os moradores não precisem se deslocar mais de 5 km para ir ou voltar do trabalho. Hoje, a população de Cidade Tiradentes, por exemplo, fica a mais de 25 km do polo gerador de empregos mais próximo.
(RICARDO SANGIOVANNI, EVANDRO SPINELLI e ALENCAR IZIDORO)


Texto Anterior: Há 50 Anos
Próximo Texto: Conselho limita número de professores temporários
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.