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Expansão da periferia amplia tempo de locomoção
População cresce longe do centro; emprego, o oposto
DA REPORTAGEM LOCAL
Enquanto a população cresce
na periferia, a oferta de emprego cresce no centro. O fenômeno não é novo, mas a mais recente pesquisa Origem/Destino do Metrô, divulgada ontem,
mostra que ele se intensificou
na última década. Com isso, os
deslocamentos ficaram ainda
mais demorados -em média,
71 minutos por trajeto no
transporte coletivo, 13% a mais
do que em 1997-, o que prejudicou ainda mais o trânsito.
Essa tendência de centralizar
o emprego e afastar a população reforça a necessidade de
aumentar a oferta de transporte de massa -mais ônibus, mais
metrô, mais trens, etc.- para
viagens longas, o que, para especialistas, é a principal causa
de congestionamentos e queda
da qualidade de vida.
Regiões como Itaim Paulista,
Lajeado, Cidade Tiradentes, todas no extremo leste, e Campo
Limpo e Capão Redondo, na
zona sul, que já eram altamente
adensadas, ficaram ainda mais
entre 1997 e 2007, período considerado pela pesquisa.
Por outro lado, o mapa do
emprego revela que, às áreas
com maior oferta de vagas, onde já estavam República, Santa
Cecília, Jardins e Pinheiros,
por exemplo, juntaram-se outras como Barra Funda, Itaim
Bibi (zona oeste), Vila Mariana
(zona sul), Bom Retiro e Liberdade (centro).
As regiões com maior adensamento populacional têm
mais de 150 moradores por
hectare. Nas áreas com maior
oferta de emprego, são mais de
150 postos de trabalho por hectare. O que ocorre é que os bairros residenciais se esvaziam de
dia e os bairros com mais empresas se esvaziam à noite.
Para se ter uma ideia, só a linha 3-vermelha do metrô, que
liga a zona leste ao centro,
transporta diariamente mais
de 3 milhões de passageiros
-toda a população do Uruguai.
"O adensamento da cidade é
tarefa para os urbanistas. A
nossa é levar o transporte onde
existe demanda", diz o diretor
de planejamento da expansão
do Metrô, Marcos Kassab.
Ele afirma que, embora o objetivo do plano de expansão seja conciliar o desenvolvimento
urbano nos locais onde as pessoas moram com a chegada do
transporte de massa a regiões
extremas, a prioridade imediata é atender à demanda atual.
"A política de desenvolvimento do transporte não pode
ficar a reboque do modo como a
cidade se desenvolve. Se você
só facilita o acesso à periferia,
estimula que as pessoas morem
cada vez mais longe", diz o professor da Unicamp Carlos Alberto Bandeira Guimarães.
Solução
"A solução é levar emprego
para a periferia e trazer gente
para morar no centro. O que foi
feito nesse sentido não surtiu
efeito algum", diz o urbanista
Candido Malta, autor de uma
tese de doutorado que sugere o
estímulo ao adensamento populacional das regiões próximas às linhas de trem como
melhor política para o desenvolvimento da cidade. A tese foi
apresentada em 1973.
"Se tivesse sido feito o adensamento nos eixos das linhas de
trem como sugeri em 1973, não
teríamos tantos congestionamentos e os deslocamentos seriam menores." Ele diz que levar a população para morar
perto das linhas de trem é uma
boa opção porque é mais barato
fazer metrô nessas regiões. E
ainda é possível fazer isso.
Para Malta, a cidade deve
perseguir a meta de que os moradores não precisem se deslocar mais de 5 km para ir ou voltar do trabalho. Hoje, a população de Cidade Tiradentes, por
exemplo, fica a mais de 25 km
do polo gerador de empregos
mais próximo.
(RICARDO SANGIOVANNI, EVANDRO SPINELLI e ALENCAR IZIDORO)
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