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MIRETA OLIVEIRA LIMA CANTISANI (1904-2009)
A dentista aqueceu com xales 70 mães
ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL
Mireta Cantisani, formada
no início dos anos 20 em
odontologia, passou a trabalhar num consultório onde o
dono, também dentista, tinha horror a sangue. Foi fazer a tarefa que o chefe não
fazia: extrair dentes.
Da segunda turma da extinta Escola de Farmácia e
Odontologia de Itapetininga,
exerceu a profissão até 1950.
Mas nunca sonhou em ser
dentista: as amigas escolheram a faculdade por ela, anotou numa das 150 páginas do
calhamaço que escreveu a
mão, quando tinha 96, e que
deixou aos netos com o título
de "Memórias de uma Avó".
Quando aluna, como só havia livros estrangeiros sobre
a área, traduzia as obras do
francês para os amigos.
Nascida em Itaberá (SP),
morou em Lençóis Paulista,
Itapetininga, Birigui, Lins,
Santos, Itu e São Paulo.
Em Santos, quando largou
a profissão, doou seus instrumentos para um barco que
atendia populações ribeirinhas. No fim da vida, brincava que, se topasse com os
equipamentos, ainda saberia
fazer uma coroa dentária.
Por anos, dedicou-se à pintura, à escultura e à costura
-ficou três anos caprichando no vestido de debutante
da filha. Em Itu, criou um
clube de mães carentes, onde
ensinava costura. No frio, fez
e distribuiu a elas 70 xales,
com lã doada pelos vizinhos.
Morreu sábado, aos 105,
"devido a idade". Deixa filha,
três netos e seis bisnetos. A
missa de sétimo dia será
amanhã, às 12h, na igreja
Santíssimo Sacramento, SP.
obituario@grupofolha.com.br
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