São Paulo, segunda-feira, 03 de maio de 2004

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"CIDADE DE DEUS"

Eles reclamam da abordagem de seguranças e soldado em unidade da marginal Pinheiros; acusados negam

Atores acusam Carrefour e PM de racismo

Andrea Felizolla/Folha Imagem
Leandro Firmino, Luis Carlos Lomenha e Emerson Gomes, que acusam o Carrefour e um PM de racismo


DO "AGORA"

Três atores que participaram do filme "Cidade de Deus" registraram ontem, em São Paulo, uma queixa contra o Carrefour e contra um policial militar por constrangimento ilegal, denunciação caluniosa e injúria racial.
Leandro Firmino da Hora, 25, que fez o personagem Zé Pequeno, Emerson Gomes, 13, que interpretou Barbantinho, e Luis Carlos Lomenha, 27, reclamaram da abordagem que sofreram no Carrefour da marginal Pinheiros.
Eles contaram que, após perder o horário do café da manhã no hotel Meliá, onde estão hospedados, decidiram ir até o supermercado. Ali, dirigiram-se ao caixa eletrônico do Banco do Brasil para sacar dinheiro.
Na saída, segundo relatam, foram abordados por dois seguranças do supermercado. O primeiro teria perguntado se havia algum problema com o caixa eletrônico. O segundo teria dito que os três foram flagrados pelo circuito interno dando pancadas na máquina. Os três negaram.
Em seguida, um policial militar teria aparecido. Segundo Firmino, o PM disse que o correto seria jogá-los no chão e fazer uma revista. O soldado teria afirmado que eles deviam se sentir bem com isso porque ele, que era branco, sentia orgulho ao ser abordado pela polícia quando estava sem farda. "Nessa hora, eu me senti vítima de um crime de racismo", disse Firmino.
Os três atores foram liberados, segundo contaram, quando um terceiro segurança disse que havia ocorrido uma confusão: a imagem das pancadas teria sido registrada no caixa do Banespa.
Os atores estão em São Paulo para realizar palestras em escolas e divulgar a ONG Nós do Cinema, dirigida por Lomenha.
O advogado dos atores, Hédio Silva Jr., disse que vai entrar com um processo contra o supermercado. De acordo com Silva, a indenização pedida deverá ser proporcional à imagem pública dos três atores cariocas.
"Queremos receber uma indenização e usar esse dinheiro para montar uma filial da Nós do Cinema em São Paulo", disse Firmino. A queixa foi registrada no 11º DP (Santo Amaro).

Outro lado
A assessoria de imprensa do Carrefour disse que o supermercado não teve responsabilidade no evento, pois a abordagem dos três atores foi realizada por um policial militar.
Clientes teriam avisado um segurança que três homens estavam dentro de um caixa eletrônico, esmurrando o equipamento. De acordo com o Carrefour, como os seguranças são orientados a não abordar clientes na área externa, um carro da PM que passava pelo local foi acionado.
A Secretaria da Segurança informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que a "abordagem foi feita dentro dos padrões, sem fazer distinção quanto a idade, raça ou condição social dos averiguados", e que os três foram liberados assim que se constatou que o equipamento do caixa eletrônico não havia sido danificado.

Colaborou a Reportagem Local


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