São Paulo, quarta-feira, 03 de maio de 2006

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SISTEMA PRISIONAL

Cópias de plantas e códigos de acesso foram levados de serralheria em SP; secretário e governador não falam

Furtados segredos de fechaduras de prisões

Jorge Santos/"Oeste Notícias"
Buraco feito pelos ladrões para entrar na serralheria


CRISTIANO MACHADO
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA,EM PRESIDENTE PRUDENTE

Dois computadores e vários disquetes contendo dados sigilosos sobre o sistema de segurança de presídios paulistas foram furtados de uma serralheria de Presidente Prudente (565 km de SP). Entre o material levado estavam cópias de plantas e códigos de fechaduras de portões e celas.
A empresa, a Serralheria Guimarães, presta serviços para empreiteiras contratadas pela Secretaria da Administração Penitenciária para reforma e construção de presídios no Estado. Ela executou trabalhos para mais de 20 dos 74 presídios paulistas.
Segundo um dos sócios da empresa, Rodrigo Fernandes Guimarães, 33, entre os arquivos contidos nos CPUs e disquetes estão plantas dos prédios, que mostram a estrutura das unidades, e informações sigilosas, como segredos de fechaduras das prisões.
Ele disse que as cópias desses dados ficam em poder da empresa para eventual manutenção ou reparos dos serviços efetuados.
A assessoria de imprensa da secretaria informou que os originais ficam com o setor de engenharia da coordenadoria regional da administração penitenciária de cada localidade. Cópias ficam arquivadas na unidade prisional e na própria sede do órgão, em São Paulo.
Guimarães procurou a polícia na segunda-feira para registrar o furto, que teria ocorrido possivelmente no final de semana.
Conforme relatou no boletim de ocorrência, os assaltantes entraram pelo telhado. Como não conseguirem arrombar a porta do escritório, fizeram um buraco na parede. Ainda segundo o empresário, foram levados, além dos computadores e disquetes, aparelhos telefônicos e um fax.
"O que nos deixa intrigado é que coisas de maior valor, como furadeiras, lixadeiras e outras ferramentas, não foram sequer tiradas do lugar. Talvez quem tenha feito isso sabia o que estava levando", afirmou Guimarães.
Segundo o delegado seccional da cidade, Marcos Mourão, uma equipe especializada trabalha no caso. A Folha apurou que a principal linha de investigação sobre o furto é a eventual participação de integrantes de facções criminosas que atuam em presídios.
O dono da serralheria disse que a empresa tem 20 anos de atuação em Presidente Prudente. Ele diz que há três anos passou a prestar serviço a empreiteiras contratadas pela secretaria, fabricando portões, grades, janelas e coberturas metálicas das prisões.
No final da tarde de ontem, Guimarães, contrariando o que havia relatado a princípio à reportagem e à polícia, afirmou que ainda não havia concluído um levantamento preciso sobre o conteúdo dos dados furtados. Ele disse que "nada compromete a segurança" do sistema prisional do Estado.
Roberto Fernandes Guimarães, irmão de Rodrigo e sócio da serralheria, disse que a maior parte dos dados furtados se refere a serviços nas penitenciárias de Irapuru e Flórida Paulista. Disse ainda que a família está "amedrontada" e contratará um guarda para fazer a segurança da empresa.

Sem comentários
A Folha procurou o secretário de Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, mas ele não quis comentar o furto de dados sigilosos sobre os presídios.
Por meio de uma nota oficial, a secretaria informou que "a entrega dos projetos é um procedimento normal, pois quando da execução da obra é entregue o arquivo eletrônico dos projetos para que a empresa que participa da licitação possa fabricar as peças".
A nota também reafirma a segurança nos presídios paulistas. "As medidas de segurança e precauções nas unidades prisionais são tomadas, independentemente de ações externas como essa."
O governador Cláudio Lembo disse, por meio de sua assessoria, que não falaria sobre o caso.


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