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Nordeste e Norte do país recorrem a médico "ilegal"
Profissional sem registro no Brasil é aceito no interior
FELIPE BÄCHTOLD
DA AGÊNCIA FOLHA
Com uma proporção de médicos inferior à de países africanos em algumas regiões, Estados do Norte e do Nordeste sofrem para atrair profissionais
para trabalhar no interior e até
cometem irregularidades.
No Acre, por exemplo, o Ministério Público chegou a "autorizar", por meio de um acordo, duas cidades a continuar
empregando médicos sem registro no CRM (Conselho Regional de Medicina), formados
em outros países, como Cuba.
De acordo com levantamento do Conselho Federal de Medicina, o interior de Roraima
possui um médico para cada 10
mil habitantes, índice pior que
o de Guiné-Bissau, na África.
Poucos médicos se interessam por postos de trabalho em
localidades afastadas de grandes centros, com escassa estrutura de trabalho e, frequentemente, instabilidade política.
Nem salários de R$ 16 mil ao
mês são suficientes. De acordo
com o conselho, na maioria dos
Estados a maior parte dos médicos se concentra nas capitais.
Na Bahia, com mais vagas do
que profissionais disponíveis,
as prefeituras fazem "concorrência predatória" por médicos, de acordo com a Fundação
Estatal Saúde da Família, criada por municípios para solucionar o problema.
"Oferecendo R$ 200, R$ 500
a mais, [a prefeitura] tira um
médico de um lugar e leva para
outro", afirma o diretor do órgão, Hêider Pinto.
Segundo ele, outro "atrativo"
criado pelos municípios para
compensar a transferência a
uma localidade afastada é diminuir clandestinamente a carga
de trabalho abaixo da prevista
no Programa Saúde da Família,
do governo federal.
No Piauí, uma irregularidade
comum é um mesmo médico
trabalhar em até quatro municípios ao mesmo tempo para
atender à demanda.
Diploma no exterior
Com 7.500 habitantes, o município acriano de Manoel Urbano (226 km de Rio Branco)
tem quatro médicos. Dois são
brasileiros formados em Cuba.
Sem diploma revalidado no
Brasil, o que legalizaria sua situação, esses profissionais não
poderiam exercer a medicina,
mas são contratados de modo
informal pela cidade, ganhando
R$ 5.500 ao mês.
O Ministério Público do Estado soube do caso, que ocorre
também na cidade de Porto
Acre, e decidiu dar um prazo de
sete meses para que a situação
seja regularizada.
A Promotoria, por meio de
sua assessoria, disse que fixou o
período porque "a população
não pode ficar sem médico".
Mas se comprometeu com o
CRM a não repetir a estratégia
em outras cidades.
O secretário da Saúde de Manoel Urbano, Eduardo Santos,
diz que a cidade não tem outra
opção e que o trabalho de médicos irregulares é só na orientação e em "coisas simples". "Coisas mais complexas passam por
médicos com CRM."
No Amazonas, o conselho já
soube de quatro casos de médicos sem CRM neste ano.
No Tocantins, fiscalização de
2007 mostrou que quase metade dos 48 municípios verificados tinha médicos ilegais. O
conselho local diz que a situação já foi contornada.
O ex-secretário da Saúde do
Piauí, Assis Carvalho, que deixou o cargo em março, diz que
os alunos de medicina são formados no país só para trabalhar
com especialidades, o que prejudica a oferta de mão de obra.
"Ninguém quer trabalhar
com a prevenção, com a saúde
da família", afirma Carvalho.
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