São Paulo, sábado, 03 de junho de 2006

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SP desiste de arrancar árvores para a Copa

Plantas atrapalhariam a visão de um telão; a remoção chegou a ser autorizada pela gestão de Kassab no Diário Oficial

Elas seriam transplantadas, mas prefeitura diz que empresa começou trabalho antes de assinar termo de compensação ambiental


Rogério Cassimiro/Folha Imagem
Árvores que seriam removidas do Anhangabaú por causa de telão


AFRA BALAZINA
LUÍSA BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Foi por muito pouco que 23 árvores quase foram arrancadas do vale do Anhangabaú ontem, com autorização da Prefeitura de São Paulo, porque atrapalhariam a visão de um telão que transmitirá os jogos da Copa do Mundo.
Logo pela manhã, funcionários da empresa responsável pelo evento "Torcida Brasil no Vale do Anhangabaú" começaram a cavar buracos para a remoção das árvores.
A Prefeitura de São Paulo, que anteontem liberou no "Diário Oficial da Cidade" o transplante das árvores, no final da tarde determinou a suspensão do serviço.
A gestão Gilberto Kassab (PFL) alegou que a empresa Playcorp começou os trabalhos antes de assinar um termo de compensação ambiental.
A decisão foi anunciada pela prefeitura após órgãos de imprensa questionarem a administração sobre a necessidade da remoção das árvores.
Em nota oficial, a SP Turis diz que, "tão logo foi informada de que a Playcorp havia iniciado a intervenção na área antes da assinatura do termo de compromisso ambiental", determinou a suspensão das ações.
Segundo a nota, não está autorizada nenhuma intervenção ambiental na área e "nenhuma árvore foi ou será retirada".
No "Diário Oficial da Cidade" de anteontem, a Secretaria do Verde autorizou o transplante das 23 árvores -seriam arrancadas 13 palmeiras, um araribá, dois ipês-roxos, quatro goiabeiras e três jabuticabeiras.
Segundo o secretário Eduardo Jorge, o pedido inicial era para retirar 40 árvores e replantá-las longe do Anhangabaú, que é uma área tombada.
A secretaria diz que chegou a um acordo e permitiu o transplante das 23 espécies no próprio vale. Ele diz ter levado em conta não só esse evento "mas também a possibilidade de ter um local seguro e de fácil acesso para outros eventos com grande número de pessoas".
"É uma forma de não pressionar a avenida Paulista, por exemplo, e mesmo manter nossa proibição de uso da praça da Paz no Ibirapuera", disse.
A arquiteta Rosa Kliass, uma das autoras do projeto do vale do Anhangabaú, afirmou que as árvores que seriam retiradas ontem não fazem parte do planejamento original do local e foram postas lá sem aval dos idealizadores da área. "São árvores espúrias ao projeto. Em São Paulo tudo é feito sem critério", afirmou a arquiteta.

Riscos
O transplante não garantiria a vida das 23 árvores. Sempre há risco, segundo especialistas, de as plantas não conseguirem sobreviver ao procedimento.
Segundo a engenheira florestal Vera Lex Engel, professora da Unesp em Botucatu, esse período mais frio e seco não favorece os transplantes. É mais difícil para a planta fazer fotossíntese e, dessa forma, recuperar suas raízes.
De acordo com Engel, há uma série de cuidados necessários para a planta resistir. "O transplante de palmeiras não é tão problemático porque as raízes são bem coesas. Mas é preciso irrigar bastante porque o sistema radicular fica abalado."
No caso das árvores frutíferas, o procedimento é mais complicado. "É preciso retirar um bloco de terra maior, pois as raízes se espalham mais."
Segundo o engenheiro agrônomo responsável pelo serviço no Anhangabaú, Renato Madeiro, o transplante de árvores de pequeno porte custa até R$ 1.000; o de uma árvore de porte médio custa até R$ 5.000 e o gasto com uma de grande porte pode chegar a R$ 10 mil.


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