São Paulo, sábado, 03 de junho de 2006

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A trote de burro, pedreiro cruza mais de 1.200 km para voltar para casa

TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO

Devagar, ele já foi longe. Na companhia da mulher e da cadela Peluda, o pedreiro Marcos Antônio Pimentel, 30, viaja há 60 dias numa carroça puxada pelo burro Chico. Partiu de Porto Seguro (BA). O destino é Ubatuba (SP). Anteontem, ele se instalou sob uma pedra, protegido da chuva, em frente ao luxuoso Club Med de Mangaratiba (a 100 km do Rio).
Com a mulher, Keli Santos, 21, Pimentel já percorreu 1.200 km e ainda tem 200 pela frente. Natural de Ubatuba, ele foi para a Bahia empregado por uma empreiteira. Ganhava R$ 350. Seis meses atrás, a empresa faliu e ele não conseguiu outro emprego. Decidiu voltar.
Comprou o burro e a carroça de um delegado. Disse ter pago R$ 1.200. Com o delegado deixou a jibóia de estimação e o pastor alemão, que dariam trabalho na viagem. "Mas a Peluda eu não podia deixar. Está na família há 15 anos."
Chico é outro que agora faz parte da família. Quando o comprou, o pedreiro já pensava em vendê-lo em Ubatuba. "Lá esse burro vale uns R$ 3.000", avalia. As ferraduras já foram trocadas 18 vezes e isso deve ocorrer mais duas vezes, pelo menos.
As compras são feitas com dinheiro dos "bicos" que tem feito nas cidades onde descansa. A comida é feita à lenha. Ontem, o cardápio foi feijão e farinha. Na carroça, o casal traz poucas coisas; apenas roupas, cobertas, um lampião e panelas. Para a mulher, o mais difícil é o cansaço. "O corpo dói", diz.
Enquanto o tempo não melhorar, o casal fica sob a pedra. Depois, segue viagem. Como não há regulamentação para carroça, Pimentel não é multado pela baixa velocidade. Por isso, deve continuar até Ubatuba aos trotes lentos dos 25 km/h que calcula ser o máximo capaz de Chico.


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