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A trote de burro, pedreiro cruza mais de 1.200 km para voltar para casa
TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO
Devagar, ele já foi longe.
Na companhia da mulher e
da cadela Peluda, o pedreiro
Marcos Antônio Pimentel,
30, viaja há 60 dias numa
carroça puxada pelo burro
Chico. Partiu de Porto Seguro (BA). O destino é Ubatuba
(SP). Anteontem, ele se instalou sob uma pedra, protegido da chuva, em frente ao
luxuoso Club Med de Mangaratiba (a 100 km do Rio).
Com a mulher, Keli Santos, 21, Pimentel já percorreu 1.200 km e ainda tem
200 pela frente. Natural de
Ubatuba, ele foi para a Bahia
empregado por uma empreiteira. Ganhava R$ 350. Seis
meses atrás, a empresa faliu
e ele não conseguiu outro
emprego. Decidiu voltar.
Comprou o burro e a carroça de um delegado. Disse
ter pago R$ 1.200. Com o delegado deixou a jibóia de estimação e o pastor alemão,
que dariam trabalho na viagem. "Mas a Peluda eu não
podia deixar. Está na família
há 15 anos."
Chico é outro que agora
faz parte da família. Quando
o comprou, o pedreiro já
pensava em vendê-lo em
Ubatuba. "Lá esse burro vale
uns R$ 3.000", avalia. As ferraduras já foram trocadas 18
vezes e isso deve ocorrer
mais duas vezes, pelo menos.
As compras são feitas com
dinheiro dos "bicos" que tem
feito nas cidades onde descansa. A comida é feita à lenha. Ontem, o cardápio foi
feijão e farinha. Na carroça, o
casal traz poucas coisas; apenas roupas, cobertas, um
lampião e panelas. Para a
mulher, o mais difícil é o cansaço. "O corpo dói", diz.
Enquanto o tempo não
melhorar, o casal fica sob a
pedra. Depois, segue viagem.
Como não há regulamentação para carroça, Pimentel
não é multado pela baixa velocidade. Por isso, deve continuar até Ubatuba aos trotes lentos dos 25 km/h que
calcula ser o máximo capaz
de Chico.
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