São Paulo, domingo, 03 de junho de 2007

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Túnel em Curitiba pode ter sido construído por imigrantes para fuga

Pesquisadores afirmam que obra é de alemães e italianos que temiam ataques

MATHEUS PICHONELLI
DA AGÊNCIA FOLHA

Debaixo do alçapão que leva à adega de um antigo reduto alemão em Curitiba, foi encontrado um túnel que pode ter sido construído como possível rota de fuga por imigrantes na época da Segunda Guerra (1939-1945).
O túnel foi localizado pelo empresário Marcos Juliano Ofenbock, 29, e pelo jornalista Alexandre Costa Nascimento, 24, que há um ano realizam incursões pela cidade em busca de vestígios que comprovem relatos de antigos moradores.
Embora não saibam a data da construção, eles acreditam que o túnel tenha sido construído por alemães e italianos que temiam um eventual ataque de milícias nacionalistas durante o Estado Novo (1937-1945).
Documentos da Sociedade Garibaldi, fundada em 1900 por italianos, relatam que em 1942 milícias nacionalistas invadiram a sede do clube e promoveram destruição e roubos. Depredações e saques também foram registrados no fim dos anos 30 no Clube Concórdia, antes chamado de Deutscher Sängerbund (associação alemã de cantores), fundado em 1887.
Segundo historiadores, o clima de hostilidade contra imigrantes no final dos anos 30 poderia ter levado as comunidades a tomar precauções.
Na tentativa de resgatar essas histórias, os pesquisadores tiveram acesso à antiga adega no subsolo do Concórdia. Segundo relatos de antigos moradores, haveria ali um túnel que ligava o clube à Catedral Basílica Menor de Nossa Senhora da Luz. Eles encontraram uma grade de ferro presa a uma parede, colocada na intervenção sofrida pelo clube em 1942. Ao removerem a grade, acharam um estreito túnel de cerca de oito metros de extensão.
Segundo eles, a passagem ia em direção ao centro antigo da cidade, mas a laje de uma construção dos anos 50 impede hoje a conclusão do percurso.
Carlos Mader, presidente do clube, diz que ouve relatos sobre a existência das vias desde criança. "Até hoje não sabemos se eram histórias ou lendas. Mas alguma coisa tem."
Para os pesquisadores, essas outras vias teriam outra finalidade: pelos túneis eram levados corpos de leprosos e tuberculosos tratados no Largo das Meninas, antigo leprosário e hoje sede da Pastoral da Criança.
"A gente não tem documento nem provas. Mas, quanto mais fuça, mais esbarra em uma história já contada em lendas urbanas", diz Ofenbock.
Para o ex-prefeito de Curitiba Rafael Greca (1993-96), especialista em urbanismo, a idéia dos túneis ligados à igreja é apenas "mirabolante", já que nunca foram encontrados em obras realizadas na cidade.


Colaborou MARI TORTATO, da Agência Folha, em Curitiba


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