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15% dos usuários do SUS em SP pagam planos de saúde
Índice apontado em pesquisa equivale a 1,1 milhão de moradores da capital paulista
Clientes recorrem à rede pública porque planos
impõem carências e não cobrem serviços como
hemodiálise e transplantes
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
Todo mês, um terço do salário da professora Andréa Baro,
37, vai para os planos de saúde
dela e do filho Guilherme, 11.
Apesar do gasto, é da rede pública que ela depende para os
tratamentos do filho.
"Achava que ficaria tranqüila
com o convênio. Nada disso. O
plano não cobre o remédio de
crescimento que meu filho toma. E a fonoaudiologia só agora
entrou nos planos, mas com
um número limitado de sessões", diz ela, que mora num
bairro de classe média de São
Paulo. "Nunca tinha me imaginado num posto de saúde."
Pouco mais de 1,1 milhão de
pessoas na cidade de São Paulo
estão em situação parecida, segundo uma pesquisa do Ibope à
qual a Folha teve acesso. Dos
moradores da capital que usam
o SUS (Sistema Único de Saúde), 15% têm plano médico.
Os pesquisadores visitaram
quase 25 mil pessoas entre dezembro de 2007 e fevereiro de
2008. O estudo foi encomendado pela Secretaria Municipal
da Saúde, com o objetivo de
identificar os bairros onde
mais se depende do SUS.
Hoje se comemoram os dez
anos da Lei dos Planos de Saúde, que contempla 39 milhões
de brasileiros. Com a lei, atitudes abusivas das operadoras,
como alta exagerada e ausência
de certos procedimentos médicos, passaram a ser inibidas.
Para especialistas, a pesquisa
mostra problemas da saúde
brasileira. "Se tantas pessoas
com plano de saúde procuram
o serviço público é porque o
plano deixa a desejar", diz Hélio Gastaldi, diretor do Ibope.
Um dos problemas é a lista
de serviços médicos pagos pelos convênios, considerada curta. Quem precisa de procedimentos caros, como hemodiálise e transplantes mais complexos, deve recorrer ao SUS.
O médico e deputado José
Aristodemo Pinotti (DEM-SP)
dá mais uma explicação para a
existência de pessoas que fazem uso simultâneo das redes
privada e pública. Diz que operadoras pressionam seus médicos a transferir doentes para
hospitais públicos quando são
necessários exames e cirurgias
caros. "Para as operadoras, o
ideal é que o médico tenha um
emprego público e um privado.
Elas objetivam lucro", critica.
Outro problema são os períodos de carência impostos
até que se possa ter direito a todos os serviços do convênio.
Além disso, muitos clientes
têm contratos coletivos ou antigos (anteriores à Lei dos Planos de Saúde). A esses dois casos, a lei não se aplica integralmente. Os planos antigos e os
coletivos muitas vezes não cobrem todos os procedimentos
fixados pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar).
Segundo o Ibope, 58% dos
convênios em São Paulo são
coletivos e 42% são antigos.
"Como a ANS deixa tanta gente
descoberta?", afirma Mário
Scheffer, do Centro Brasileiro
de Estudos de Saúde.
O grupo de 1,1 milhão de pessoas com convênio inclui as
que obtêm na rede pública vacinas, como a da gripe, e remédios, de comprimidos para dor
de cabeça ao coquetel anti-Aids. "De 1,5 milhão de receitas
que recebemos por mês, 40%
vêm da rede privada", diz o secretário municipal da Saúde,
Januario Montone.
A pesquisa reacende o debate sobre a necessidade de as
operadoras ressarcirem o SUS.
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