São Paulo, terça-feira, 03 de junho de 2008

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15% dos usuários do SUS em SP pagam planos de saúde

Índice apontado em pesquisa equivale a 1,1 milhão de moradores da capital paulista

Clientes recorrem à rede pública porque planos impõem carências e não cobrem serviços como hemodiálise e transplantes

RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

Todo mês, um terço do salário da professora Andréa Baro, 37, vai para os planos de saúde dela e do filho Guilherme, 11. Apesar do gasto, é da rede pública que ela depende para os tratamentos do filho.
"Achava que ficaria tranqüila com o convênio. Nada disso. O plano não cobre o remédio de crescimento que meu filho toma. E a fonoaudiologia só agora entrou nos planos, mas com um número limitado de sessões", diz ela, que mora num bairro de classe média de São Paulo. "Nunca tinha me imaginado num posto de saúde."
Pouco mais de 1,1 milhão de pessoas na cidade de São Paulo estão em situação parecida, segundo uma pesquisa do Ibope à qual a Folha teve acesso. Dos moradores da capital que usam o SUS (Sistema Único de Saúde), 15% têm plano médico.
Os pesquisadores visitaram quase 25 mil pessoas entre dezembro de 2007 e fevereiro de 2008. O estudo foi encomendado pela Secretaria Municipal da Saúde, com o objetivo de identificar os bairros onde mais se depende do SUS.
Hoje se comemoram os dez anos da Lei dos Planos de Saúde, que contempla 39 milhões de brasileiros. Com a lei, atitudes abusivas das operadoras, como alta exagerada e ausência de certos procedimentos médicos, passaram a ser inibidas.
Para especialistas, a pesquisa mostra problemas da saúde brasileira. "Se tantas pessoas com plano de saúde procuram o serviço público é porque o plano deixa a desejar", diz Hélio Gastaldi, diretor do Ibope.
Um dos problemas é a lista de serviços médicos pagos pelos convênios, considerada curta. Quem precisa de procedimentos caros, como hemodiálise e transplantes mais complexos, deve recorrer ao SUS.
O médico e deputado José Aristodemo Pinotti (DEM-SP) dá mais uma explicação para a existência de pessoas que fazem uso simultâneo das redes privada e pública. Diz que operadoras pressionam seus médicos a transferir doentes para hospitais públicos quando são necessários exames e cirurgias caros. "Para as operadoras, o ideal é que o médico tenha um emprego público e um privado. Elas objetivam lucro", critica.
Outro problema são os períodos de carência impostos até que se possa ter direito a todos os serviços do convênio.
Além disso, muitos clientes têm contratos coletivos ou antigos (anteriores à Lei dos Planos de Saúde). A esses dois casos, a lei não se aplica integralmente. Os planos antigos e os coletivos muitas vezes não cobrem todos os procedimentos fixados pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar).
Segundo o Ibope, 58% dos convênios em São Paulo são coletivos e 42% são antigos. "Como a ANS deixa tanta gente descoberta?", afirma Mário Scheffer, do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde.
O grupo de 1,1 milhão de pessoas com convênio inclui as que obtêm na rede pública vacinas, como a da gripe, e remédios, de comprimidos para dor de cabeça ao coquetel anti-Aids. "De 1,5 milhão de receitas que recebemos por mês, 40% vêm da rede privada", diz o secretário municipal da Saúde, Januario Montone.
A pesquisa reacende o debate sobre a necessidade de as operadoras ressarcirem o SUS.


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