São Paulo, terça-feira, 03 de junho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Na Unifesp, cotista só fica atrás nos cursos de exatas

Beneficiados têm desempenho igual aos demais durante a graduação em 21 das 23 carreiras

Universidade destina 10% de suas vagas a estudantes cotistas e critica projeto no Congresso que estipula reserva de 50% das vagas

FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os estudantes cotistas na Universidade Federal de São Paulo têm desempenho semelhante aos demais durante a graduação em 21 dos seus 23 cursos. As duas exceções estão em carreiras na área de exatas.
Os dados fazem parte de uma pesquisa da pró-reitoria de graduação da instituição, que aponta problemas no ensino público como uma das explicações para o baixo desempenho dos cotistas nas exatas.
O estudo também serve como base para crítica ao projeto a ser votado no Congresso, que determina que as universidades reservem metade de suas vagas a alunos da rede pública.
Há três anos, a Unifesp destina 10% das vagas a alunos de escolas públicas que se declarem negros, pardos ou indígenas.
Com a reserva, os cotistas chegam a ser aprovados no vestibular com nota 30% inferior aos demais. Em geral, a diferença desaparece no início da graduação, inclusive em medicina.
Já em engenharia química e em ciências da computação, os únicos cursos de exatas da Unifesp, os cotistas estão piores. Neste último, por exemplo, as médias foram 6,9 e 5, na escala de 0 a 10, sendo 7 o mínimo exigido (veja quadro ao lado).
"Os cotistas parecem estar mais preparados para as adversidades e têm condições de melhorar rapidamente", afirma o pró-reitor de graduação da Unifesp, Luiz Eugênio Mello.
Sobre os cursos de exatas, a explicação apontada por Mello é que a rede média pública esteja mais deficiente nessa área.
Os dados divulgados em março pela Secretaria da Educação da gestão Serra (PSDB) reforçam a tese: 96% dos alunos do ensino médio tiveram notas insatisfatórias em matemática no exame aplicado pelo governo; em português, foram 79%.
Procurada ontem, a pasta diz investir "maciçamente" na melhoria da rede, com recuperações aos alunos, por exemplo.

Crítica a projeto de lei
Para Mello, os dados indicam que o projeto a ser votado reduzirá a qualidade dos cursos. Isso porque, além das notas nas exatas, a reprovação é maior entre os cotistas na Unifesp -43% repetiram ao menos uma disciplina em 2007; entre os demais, 34%. "Dez por cento de cotas parecem o nosso limite. Se aumentar, vamos perder em qualidade", diz.
Defensor da lei, o coordenador do Movimento dos Sem Universidade, Sérgio Custódio, rebate: "Como podem criticar os 50% se nem tentaram? Os dados deles próprios mostram o potencial da rede pública."
Outras instituições já divulgaram estudos que indicam que os beneficiados por ações inclusivas podem ter boas notas.
Na Unicamp, que dá pontos no vestibular a alunos da rede pública, os beneficiados chegam a ter médias até mais altas na graduação. "Isso só ocorre porque tivemos liberdade. Fixar um projeto para todos é um erro", afirma o coordenador da seleção, Leandro Tessler.


Texto Anterior: Conselho manda demitir promotor que matou rapaz
Próximo Texto: Butantan vai produzir vacina antidengue a partir de 2010
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.