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TRAGÉDIA NO ATLÂNTICO
Modelo teve 2 panes na Austrália em 2008
Em um dos incidentes, o computador desligou o piloto automático e fez o avião realizar manobras bruscas para cima e para baixo
Esse histórico técnico, ligado às hipóteses sobre a tempestade enfrentada pelo voo da Air France, gera nova linha de especulação
IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No campo das especulações
sobre o que pode ter ocorrido
ao voo AF 447, a análise do histórico de problemas técnicos
recentes envolvendo o Airbus-330 destaca um defeito de computador que já ocorreu anteriormente com modelos semelhantes que poderia comprometer o controle do avião.
Naturalmente, assim como o
comentado fator meteorológico, é apenas uma suposição de
fator contribuinte para o acidente -raramente aviões caem
por motivos únicos, exceto em
casos como atentados.
Isso dito, dois incidentes
com Airbus-330 da empresa
australiana Qantas no ano passado poderiam, em hipótese,
associar-se a outros fatores como causa do acidente.
Em ambos os casos, um instrumento chamado Adiru (sigla
inglesa para Unidade de Dados
Aéreos de Referência Inercial)
"enlouqueceu" e passou dados
errados de ângulo de voo, velocidade e altitude para o computador principal.
Panes
No primeiro incidente, ocorrido num voo de cruzeiro entre
Perth e Cingapura em 7 de outubro, o computador desligou o
piloto automático e jogou o
avião para cima, por entender
que ele estava descendo rapidamente. Depois, jogou-o de bico
para baixo por entender que o
ângulo de subida estava perigoso, podendo levar o avião a perder sustentação.
Setenta e quatro dos 313 passageiros saíram feridos, mas o
avião conseguiu pousar. Diferentemente do AF 447, não estava no meio de uma tempestade violenta, onde recuperar o
controle seria mais difícil.
No segundo caso, ocorrido na
mesma rota em 27 de dezembro, o painel indicou a falha e o
piloto automático foi desligado,
mas os pilotos perceberam o
problema a tempo.
Alerta
Segundo a FAA (Administração Federal de Aviação), órgão
que regulamenta o setor nos
EUA e estipula padrões que são
seguidos no mundo todo, o problema pode levar "à perda de
controle do avião". Em 5 de
março, a FAA emitiu uma ordem sobre o caso para a família
Airbus-330 e 340, inclusive o
modelo A-330/200 igual ao
avião acidentado.
A ordem, chamada Diretiva
de Aeronavegabilidade, é um
alerta para problemas que são
relatados por investigações de
acidentes, incidentes, testes e
manutenções. É feita uma apuração sobre a falha, em conjunto com empresas e fabricantes,
e indicam soluções.
O problema ocorre quando o
sistema IR (altitude do solo)
apresenta falha, "enlouquecendo" um subsistema do Adiru
chamado ADR-1. A solução é a
mesma que foi definida pela
Airbus: desligar o IR e o ADR-1.
A questão é que é preciso que o
piloto note o sinal de falha no
IR, indicado só por um pequeno sinal luminoso de desligado
-o que não ocorreu no primeiro incidente da Qantas, quando
os pilotos alegaram ter sido pegos de surpresa.
É impossível saber o que
aconteceu neste momento. "É
muito cedo", disse à Folha o
engenheiro aerospacial que assina a diretiva, Vladimir Ulyanov, antes de se desculpar por
não comentar o caso.
Dados técnicos
O único dado técnico conhecido do acidente não está sendo
tratado abertamente pela Air
France, que informou que às
23h14 do domingo o avião emitiu uma mensagem automática
de despressurização e pane elétrica. Foi o último sinal do voo,
por meio do sistema Acars de
mensagens de texto, que informa dados aos técnicos da empresa imediatamente.
Ocorre que ontem um porta-voz da empresa falou em "dezenas" de mensagens, indicando
falhas diversas. A revista virtual
"Aviation Herald" sugeriu ontem, sem revelar sua fonte, que
as mensagens na realidade começaram a aparecer às 23h10,
justamente com o piloto automático sendo desligado.
Na sequência, teria sido informada a perda do Adiru e seu
sistema de "back-up". A última
mensagem, essa sim das 23h14,
indicaria alarme de velocidade
vertical -ou seja, queda.
Nada disso é verificável no
momento, até porque a Air
France trabalha sob as estritas
leis francesas de divulgação de
dados de acidentes aeronáuticos. Certamente ela possui
mais dados, mas o sistema
Acars não traz uma radiografia
tão detalhada do avião quanto a
caixa-preta de dados.
As mais recentes das 204 diretivas da FAA sobre a família
Airbus-330 relatam também
problemas na fuselagem, que
pode apresentar rachaduras.
A mais recente foi editada
dois dias antes do acidente e fala de uma área a ser inspecionada na junção da quilha da fuselagem com o bloco das asas.
Mas associar tais fragilidades
ao efeito de uma turbulência
devastadora é precipitação.
Esses alertas são comuns para todos os tipos de avião, e
quase sempre são preventivos e
têm longo prazo para implementação. São como os alertas
mais assustadores de bulas de
remédios, e têm o mesmo objetivo: evitar acidentes.
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