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São Paulo, quinta-feira, 03 de julho de 2003

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EDUCAÇÃO

Responsável pelo provão deixou o governo após receber, da Casa Civil, orientação para dar cargo a indicado pelo PC do B

Nomeação imposta levou a demissão no Inep

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), Otaviano Helene, pediu demissão anteontem, como antecipou a Folha, por não aceitar uma nomeação imposta pela Casa Civil, do ministro José Dirceu.
Por determinação da Casa Civil, Helene foi obrigado a demitir, na semana passada, a diretora de Avaliação para a Certificação de Competência do Inep, Dirce Gomes, e nomear Newton Cardoso de Oliveira, da cota do PC do B.
A nomeação imposta detonou a saída de Helene, que já enfrentava divergências com o ministro Cristovam Buarque (Educação).
Gomes e Helene haviam sido indicados para o Inep -órgão responsável pelo provão e pela avaliação do ensino médio- pelo deputado Ivan Valente (PT-SP) e pela corrente petista Força Socialista. A indicação de Helene foi negociada com Cristovam pelo presidente nacional do PT, José Genoino.
A entrega de uma diretoria do Inep para o PC do B ocorre em um momento em que o governo procura reforçar a base aliada no Congresso. O PC do B faz parte da base, mas nem toda a bancada está acompanhando as decisões da cúpula partidária.
A liberação de cargos também coincide com a perda de poder de grupos mais à esquerda do PT, por não concordarem com alguns pontos das reformas apresentadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No caso de Helene -integrante da chamada esquerda petista-, seu grupo já estava enfraquecido no MEC desde que ele e Cristovam demonstraram discordância em relação ao provão.
Cristovam tem dito que o provão não acabará, mas será aperfeiçoado. Helene sempre demonstrou ter mais restrições em relação ao exame que avalia o ensino superior.
No mês passado, em entrevista à Folha, o ex-ministro Paulo Renato Souza atacou Helene por ter criticado o provão às vésperas do exame. "Parece que há uma divisão clara no Ministério da Educação. De um lado está o Cristovam, que tem uma trajetória respeitável. Do outro, há uma divisão no MEC contemplando os grupos mais radicais", afirmou, citando Helene como um desses radicais.
Além das divergências quanto ao provão, sempre negadas oficialmente por Helene e Cristovam, a confusão causada pela tentativa do presidente do Inep de anular a licitação para escolher o grupo que realizaria o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) também contribuiu para seu enfraquecimento.

Carta
Ontem, em São Paulo, o ministro afirmou que ainda não havia lido a carta de renúncia. Por isso, segundo ele, Helene continuava no cargo. A Folha apurou que a demissão será aceita.
O ministro participou em São Paulo de um encontro promovido pela Cives (Associação Brasileira de Empresários pela Cidadania), que debateu programas contra o analfabetismo.
Oficialmente, Helene está de férias. Ele disse que não comentaria os motivos de seu pedido de demissão. Alegou apenas questões pessoais. O diretor de estatística da educação básica do Inep, Luiz Araújo, vai ocupar interinamente a presidência do instituto.


Colaboraram GABRIELA ATHIAS e LUCIANA CONSTANTINO, da Sucursal de Brasília, e a Reportagem Local


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