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EDUCAÇÃO
Responsável pelo provão deixou o governo após receber, da Casa Civil, orientação para dar cargo a indicado pelo PC do B
Nomeação imposta levou a demissão no Inep
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente do Inep (Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais), Otaviano Helene,
pediu demissão anteontem, como
antecipou a Folha, por não aceitar
uma nomeação imposta pela Casa Civil, do ministro José Dirceu.
Por determinação da Casa Civil,
Helene foi obrigado a demitir, na
semana passada, a diretora de
Avaliação para a Certificação de
Competência do Inep, Dirce Gomes, e nomear Newton Cardoso
de Oliveira, da cota do PC do B.
A nomeação imposta detonou a
saída de Helene, que já enfrentava
divergências com o ministro Cristovam Buarque (Educação).
Gomes e Helene haviam sido indicados para o Inep -órgão responsável pelo provão e pela avaliação do ensino médio- pelo
deputado Ivan Valente (PT-SP) e
pela corrente petista Força Socialista. A indicação de Helene foi
negociada com Cristovam pelo
presidente nacional do PT, José
Genoino.
A entrega de uma diretoria do
Inep para o PC do B ocorre em
um momento em que o governo
procura reforçar a base aliada no
Congresso. O PC do B faz parte da
base, mas nem toda a bancada está acompanhando as decisões da
cúpula partidária.
A liberação de cargos também
coincide com a perda de poder de
grupos mais à esquerda do PT,
por não concordarem com alguns
pontos das reformas apresentadas pelo presidente Luiz Inácio
Lula da Silva.
No caso de Helene -integrante
da chamada esquerda petista-,
seu grupo já estava enfraquecido
no MEC desde que ele e Cristovam demonstraram discordância
em relação ao provão.
Cristovam tem dito que o provão não acabará, mas será aperfeiçoado. Helene sempre demonstrou ter mais restrições em relação ao exame que avalia o ensino
superior.
No mês passado, em entrevista
à Folha, o ex-ministro Paulo Renato Souza atacou Helene por ter
criticado o provão às vésperas do
exame. "Parece que há uma divisão clara no Ministério da Educação. De um lado está o Cristovam,
que tem uma trajetória respeitável. Do outro, há uma divisão no
MEC contemplando os grupos
mais radicais", afirmou, citando
Helene como um desses radicais.
Além das divergências quanto
ao provão, sempre negadas oficialmente por Helene e Cristovam, a confusão causada pela tentativa do presidente do Inep de
anular a licitação para escolher o
grupo que realizaria o Enem
(Exame Nacional do Ensino Médio) também contribuiu para seu
enfraquecimento.
Carta
Ontem, em São Paulo, o ministro afirmou que ainda não havia
lido a carta de renúncia. Por isso,
segundo ele, Helene continuava
no cargo. A Folha apurou que a
demissão será aceita.
O ministro participou em São
Paulo de um encontro promovido pela Cives (Associação Brasileira de Empresários pela Cidadania), que debateu programas contra o analfabetismo.
Oficialmente, Helene está de férias. Ele disse que não comentaria
os motivos de seu pedido de demissão. Alegou apenas questões
pessoais. O diretor de estatística
da educação básica do Inep, Luiz
Araújo, vai ocupar interinamente
a presidência do instituto.
Colaboraram GABRIELA ATHIAS e LUCIANA CONSTANTINO, da Sucursal de
Brasília, e a Reportagem Local
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