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DANUZA LEÃO
A moda
Na última segunda-feira,
estive em um jantar oferecido a editoras de moda de publicações estrangeiras, essas deusas
que dizem o que se deve usar, o
que não se pode, o que é permitido, o que é definitivamente proibido. Fui ao cabeleireiro, fiz uma
escova, e como estava com um
quilo a mais do que meu peso
normal, comprei uma cinta, para
que nem um só grama de gordura
aparecesse aos olhos das moças.
Passei horas pensando em como
me vestir, e sem saber -como
não sei- o que é moda hoje em
dia, resolvi usar um pretinho básico, simples, daqueles que não
deixam a menor dúvida. E ainda
botei um colarzinho de pérolas,
pobre de mim.
Fui pontual, e quase passei mal
durante o jantar, sem poder respirar. Logo foram chegando as que
entendem de tudo e começou, então, minha depressão.
Elas eram de diversas nacionalidades: havia duas alemãs, duas
francesas, duas americanas, uma
inglesa, uma espanhola, uma
portuguesa. Como estavam? Vou
tentar contar.
Para começar, os cabelos. Era
visível que nenhuma havia pisado num cabeleireiro nos últimos
dois anos, nem para cortar, nem
para pintar, nem para fazer luzes,
nem para nada. Havia de tudo:
desde uma ruiva meio manchada
até uma morena crespa pela própria natureza; todas deixaram
claro que não ligam para essas
coisas. Eu, com meus cabelos lisos
e impecáveis, me senti um lixo.
Para piorar a situação (eu estava espremida como uma lingüiça), pelo menos três delas eram
gordas, muito gordas mesmo, e
quando cruzavam descuidadamente as pernas, nem ligavam
para a grossura das coxas, que
pareciam um pernil; vários pernis. Comeram de tudo, repetiram,
e nem é preciso dizer que a palavra dieta não foi pronunciada em
nenhum idioma. Como eu posso
ser tão ridícula?
As roupas das que entendem de
tudo eram, por assim dizer, incompreensíveis: desde vestidos
com grandes estampas e decotes,
mostrando seios imensos, até calça comprida com três tops, sendo
que nenhum tendo nada a ver
com o outro.
As bolsas e bijuterias não combinavam nem com os sapatos
nem com nada, uma delas usava
um vestido de gaze plissado, cor
da pele, cintura no lugar, cinturão de couro debaixo dos seios e
bolsinha de paetês coloridos. Eu
me sentia cada vez pior, quando
felizmente entrou uma jovem trajada de maneira que consegui,
mais ou menos, entender: saia
preta, cheia de babados, e por cima, uma jaquetinha jeans bem
apertada.
Voltei para casa humilhada,
ofendida, infeliz, achando -com
razão- que não entendo de nada. A primeira providência que
tomei, antes de me deitar, foi entrar no chuveiro e lavar a cabeça
para dormir com o cabelo molhado, me arriscando a uma pneumonia, para ficar mais moderna.
No dia seguinte telefonei para
uma amiga do ramo que me assegurou que, para chegar àquele visual, com os cabelos pavorosos e
nada combinando com nada, elas
passam o tempo todo pensando
-um talento que eu invejo.
Olhei disfarçadamente para o
espelho e quando me vi desgrenhada pensei que talvez já estivesse mais aceitável no mundo da
moda. Abri meu armário e comecei a tentar misturar mentalmente peças do meu guarda-roupa,
sem que nenhuma tivesse nada a
ver com a outra; não consegui.
Todas as tentativas foram inúteis,
pois -pobre de mim- ainda
acredito em uma certa harmonia
no visual, e quem pensa dessa
maneira não pode nem chegar
perto do mundo sofisticado e incompreensível da alta (ou baixa,
depende do ponto de vista) costura atual.
E já decidi: da próxima vez que
me convidarem para um jantar
da moda -se é que haverá uma
próxima vez-, vou apagar a luz
do quarto e ir pegando as peças de
roupas sem olhar, talvez assim
consiga ser mais aceitável; não tenho a pretensão de conseguir,
mas pelo menos não vou pensar
que morri e esqueceram de me
avisar.
Muito triste, essa vida.
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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