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Agente prisional é assassinado a tiros na zona norte de SP
Foi a 4ª morte do tipo no Estado desde quarta-feira; carro de
outro agente foi alvejado em Guarulhos, mas ele não se feriu
Secretaria sabia de
contra-ataque do PCC desde
terça-feira, depois que
interceptou mensagem da
facção planejando mortes"
RICARDO GALLO
KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL
O agente penitenciário Otacílio do Couto, 40, foi assassinado a tiros, ontem à noite, no
Jaçanã (zona norte de SP). Foi
a quarta morte de agentes de
segurança no Estado desde a
quarta-feira em seis ataques.
A polícia não adiantou se há
ligação entre o crime e o PCC
(Primeiro Comando da Capital). A facção escolheu os agentes como o novo alvo. A primeira tentativa ocorreu há uma semana, quando a polícia informou ter abortado uma suposto
ataque contra agentes penitenciários em São Bernardo do
Campo. Treze pessoas apontadas como suspeitas morreram.
O crime de ontem ocorreu no
Jardim Joamar, às 20h30. Segundo a Polícia Militar, Couto
estava num orelhão quando foi
atacado por "três ou quatro"
homens numa Parati vermelha.
Baleado, chegou a ser socorrido
no pronto-socorro do Jaçanã.
Pai de dois filhos, salário de
cerca de R$ 1.500 mensais,
Couto trabalhava no CDP
(Centro de Detenção Provisória) Belém 2, na zona leste. Ele
trabalhava havia 17 anos no sistema prisional. Um colega de
trabalho dele o definiu como
"tranqüilo" e disse que, a exemplo de toda a categoria, Couto
temia ser atacado.
Ainda ontem, o agente penitenciário Joselito Francisco da
Silva, do CPD de Guarulhos, foi
alvo de uma tentativa de homicídio, segundo a PM. Seu carro
foi atingido por tiros por volta
das 21h. De acordo com a PM,
Silva decidiu que, por enquanto, não registrará ocorrência.
Outros ataques
A primeira vítima dos ataques atribuídos ao PCC morreu
na quarta-feira. O agente penitenciário Nilton Celestino, 41,
foi assassinado a tiros em frente à casa onde morava, em Itapecerica da Serra (Grande São
Paulo). Casado, pai de seis filhos, salário de cerca de R$
2.000, ele estava há 15 anos no
sistema prisional.
No dia seguinte, o carcereiro
Gilmar Francisco da Silva, 39,
foi morto por volta das 22h40
na frente de sua casa, no Jardim Panamericano (zona norte). Silva trabalhava
havia 11 anos no Cadeião de Pinheiros, na zona oeste.
No mesmo dia, outro carcereiro da mesma unidade também sofreu um atentado a tiros,
no Jardim Arpoador (zona oeste), mas escapou. A.C.S., 49, estava na frente de casa. Dois homens em uma moto atiraram
contra o carcereiro. O filho dele
tentou desarmar os agressores.
A dupla fugiu, e pai e filho não
se feriram. A terceira vítima foi
o agente penitenciário Eduardo Rodrigues, 41, assassinado
na sexta de manhã com quatro
tiros, no Jardim João 23 (zona
oeste). Ele era funcionário da
Penitenciária Feminina de
Santana.
Um dia antes do assassinato
de Nilton Celestino, o primeiro
dos três agentes de segurança
mortos em 72 horas na última
semana, a Secretaria de Estado
da Administração Penitenciária interceptou uma mensagem
que apontava para um contra-ataque do PCC (Primeiro Comando da Capital) em resposta
aos 13 suspeitos mortos pela
polícia na segunda passada.
Eles eram acusados de planejar atentados contra agentes
em São Bernardo e Diadema.
"Passar para todas as faculdades [penitenciárias] que é
para estar de luto por três dias a
contar de hoje (27/6/06). Após
a luta é para botar para quebrar
sem piedade", diz trecho da
mensagem, datada de terça-feira, obtida pela Folha.
O texto, divulgado por e-mail
aos diretores das unidades prisionais pelo serviço de inteligência da SAP, foi confirmado
ontem, por sua assessoria.
"Botar para quebrar", na linguagem dos presos, significava
seguir às ordens da facção para
matar agentes penitenciários,
novo alvo dos criminosos.
No documento enviado às
cadeias a que a Folha teve
acesso, a SAP recomenda "que
a postura de cautela tomada
pelos funcionários deve continuar -sem pânico". E lembra
"mais uma vez (...) que os diretores devem fazer contato com
a PM e solicitar intensificação
de policiamento. Os órgãos da
SSP [Secretaria de Estado da
Segurança Pública] continuam
empenhados na prevenção e
combate às ameaças".
Protesto esvaziado
Por conta da iminência de rebeliões, devido ao plano de greve dos agentes penitenciários,
diretores de unidades procuraram os presos para negociar,
segundo informaram à Folha
funcionários destas prisões na
Grande SP e interior. Para não
se rebelarem, detentos exigiram que a visita fosse liberada
no fim de semana. Agentes quiseram proibi-la no Estado em
protesto à morte de Celestino.
A SAP nega o acordo.
O Sifuspesp, órgão que defende agentes, também diz que
diretores das cadeias ameaçaram grevistas. "Falaram em
suspensão, sindicância e transferência", diz Antônio Ferreira,
secretário da entidade. "Prometeram nos levar a "Venceslonge'", conta João (nome fictício), sobre Presidente Venceslau (620 km de São Paulo).
Com medo de represália, a
adesão a greve foi pequena. Ontem, só CDPs (Centros de Detenção Provisória) de Mauá e
Belém 1 e 2 -800 familiares
não entraram- vetaram visita.
Anteontem, foram seis das 144
unidades, mas parcialmente.
O secretário da SAP, Antônio
Ferreira Pinto, disse, por sua
assessoria, "que os trabalhos
não foram prejudicados". Mas
o Sindasp, outro sindicato dos
agentes, promete greve hoje.
Foi enterrado ontem em
Embu (Grande SP) Eduardo
Rodrigues, terceiro agente
morto por supostos ataques do
PCC. Na quinta, fora o carcereiro Gilmar da Silva.
Colabou o "AGORA"
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