São Paulo, segunda-feira, 03 de julho de 2006

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Agente prisional é assassinado a tiros na zona norte de SP

Foi a 4ª morte do tipo no Estado desde quarta-feira; carro de outro agente foi alvejado em Guarulhos, mas ele não se feriu

Secretaria sabia de contra-ataque do PCC desde terça-feira, depois que interceptou mensagem da facção planejando mortes"


RICARDO GALLO
KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL

O agente penitenciário Otacílio do Couto, 40, foi assassinado a tiros, ontem à noite, no Jaçanã (zona norte de SP). Foi a quarta morte de agentes de segurança no Estado desde a quarta-feira em seis ataques.
A polícia não adiantou se há ligação entre o crime e o PCC (Primeiro Comando da Capital). A facção escolheu os agentes como o novo alvo. A primeira tentativa ocorreu há uma semana, quando a polícia informou ter abortado uma suposto ataque contra agentes penitenciários em São Bernardo do Campo. Treze pessoas apontadas como suspeitas morreram.
O crime de ontem ocorreu no Jardim Joamar, às 20h30. Segundo a Polícia Militar, Couto estava num orelhão quando foi atacado por "três ou quatro" homens numa Parati vermelha. Baleado, chegou a ser socorrido no pronto-socorro do Jaçanã.
Pai de dois filhos, salário de cerca de R$ 1.500 mensais, Couto trabalhava no CDP (Centro de Detenção Provisória) Belém 2, na zona leste. Ele trabalhava havia 17 anos no sistema prisional. Um colega de trabalho dele o definiu como "tranqüilo" e disse que, a exemplo de toda a categoria, Couto temia ser atacado.
Ainda ontem, o agente penitenciário Joselito Francisco da Silva, do CPD de Guarulhos, foi alvo de uma tentativa de homicídio, segundo a PM. Seu carro foi atingido por tiros por volta das 21h. De acordo com a PM, Silva decidiu que, por enquanto, não registrará ocorrência.

Outros ataques
A primeira vítima dos ataques atribuídos ao PCC morreu na quarta-feira. O agente penitenciário Nilton Celestino, 41, foi assassinado a tiros em frente à casa onde morava, em Itapecerica da Serra (Grande São Paulo). Casado, pai de seis filhos, salário de cerca de R$ 2.000, ele estava há 15 anos no sistema prisional.
No dia seguinte, o carcereiro Gilmar Francisco da Silva, 39, foi morto por volta das 22h40 na frente de sua casa, no Jardim Panamericano (zona norte). Silva trabalhava havia 11 anos no Cadeião de Pinheiros, na zona oeste.
No mesmo dia, outro carcereiro da mesma unidade também sofreu um atentado a tiros, no Jardim Arpoador (zona oeste), mas escapou. A.C.S., 49, estava na frente de casa. Dois homens em uma moto atiraram contra o carcereiro. O filho dele tentou desarmar os agressores. A dupla fugiu, e pai e filho não se feriram. A terceira vítima foi o agente penitenciário Eduardo Rodrigues, 41, assassinado na sexta de manhã com quatro tiros, no Jardim João 23 (zona oeste). Ele era funcionário da Penitenciária Feminina de Santana.
Um dia antes do assassinato de Nilton Celestino, o primeiro dos três agentes de segurança mortos em 72 horas na última semana, a Secretaria de Estado da Administração Penitenciária interceptou uma mensagem que apontava para um contra-ataque do PCC (Primeiro Comando da Capital) em resposta aos 13 suspeitos mortos pela polícia na segunda passada.
Eles eram acusados de planejar atentados contra agentes em São Bernardo e Diadema.
"Passar para todas as faculdades [penitenciárias] que é para estar de luto por três dias a contar de hoje (27/6/06). Após a luta é para botar para quebrar sem piedade", diz trecho da mensagem, datada de terça-feira, obtida pela Folha.
O texto, divulgado por e-mail aos diretores das unidades prisionais pelo serviço de inteligência da SAP, foi confirmado ontem, por sua assessoria.
"Botar para quebrar", na linguagem dos presos, significava seguir às ordens da facção para matar agentes penitenciários, novo alvo dos criminosos.
No documento enviado às cadeias a que a Folha teve acesso, a SAP recomenda "que a postura de cautela tomada pelos funcionários deve continuar -sem pânico". E lembra "mais uma vez (...) que os diretores devem fazer contato com a PM e solicitar intensificação de policiamento. Os órgãos da SSP [Secretaria de Estado da Segurança Pública] continuam empenhados na prevenção e combate às ameaças".

Protesto esvaziado
Por conta da iminência de rebeliões, devido ao plano de greve dos agentes penitenciários, diretores de unidades procuraram os presos para negociar, segundo informaram à Folha funcionários destas prisões na Grande SP e interior. Para não se rebelarem, detentos exigiram que a visita fosse liberada no fim de semana. Agentes quiseram proibi-la no Estado em protesto à morte de Celestino. A SAP nega o acordo.
O Sifuspesp, órgão que defende agentes, também diz que diretores das cadeias ameaçaram grevistas. "Falaram em suspensão, sindicância e transferência", diz Antônio Ferreira, secretário da entidade. "Prometeram nos levar a "Venceslonge'", conta João (nome fictício), sobre Presidente Venceslau (620 km de São Paulo).
Com medo de represália, a adesão a greve foi pequena. Ontem, só CDPs (Centros de Detenção Provisória) de Mauá e Belém 1 e 2 -800 familiares não entraram- vetaram visita. Anteontem, foram seis das 144 unidades, mas parcialmente.
O secretário da SAP, Antônio Ferreira Pinto, disse, por sua assessoria, "que os trabalhos não foram prejudicados". Mas o Sindasp, outro sindicato dos agentes, promete greve hoje.
Foi enterrado ontem em Embu (Grande SP) Eduardo Rodrigues, terceiro agente morto por supostos ataques do PCC. Na quinta, fora o carcereiro Gilmar da Silva.


Colabou o "AGORA"

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