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ENTREVISTA
JASON DYETT
Diretor mira intercâmbio entre Harvard e o Brasil
Universidade abre escritório em São Paulo para aumentar vínculo entre países em várias áreas de pesquisa, especialmente educação, saúde pública e governo
DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Universidade Harvard, uma das mais conceituadas
do mundo, quer que os estudantes norte-americanos
conheçam realidades diferentes. Para ajudar na internacionalização, abrirá neste mês um escritório em
São Paulo. Segundo da América Latina (há um no Chile), será dirigido por Jason Dyett, 34. Nesta entrevista,
ele explica o interesse no país e diz que brasileiros não
deixarão de estudar lá por falta de dinheiro.
FOLHA - Universidades norte-americanas, como Yale e Harvard, fazem
eventos e abrem seus escritórios no
Brasil. Por que esse interesse?
JASON DYETT - Faz parte de uma
tendência mundial. A formação
internacional é cada vez mais
importante para estudantes e
professores. Na América Latina, que às vezes é vista como
um bloco, o Brasil não tem o peso que merece, mas tende a ganhar ênfase e destaque por seu
tamanho e importância.
FOLHA - Há alguma área em que
Harvard esteja mais interessada?
DYETT - O interesse é aumentar
vínculos em todas, mas há três
de destaque: educação, saúde
pública e governo, que fortalecem a sociedade.
FOLHA - O que essas três áreas têm
no Brasil que chamam a atenção?
DYETT - São fundamentais para
fortalecer a democracia e carecem de fundos, de oportunidades, de profissionais bem preparados. Temos de criar oportunidades para especialistas
trocarem experiências.
FOLHA - O que o escritório fará?
DYETT - Harvard tem muitos
estudos sobre o Brasil, queremos saber como são e em que
áreas. Também desejamos descobrir o que fazem os ex-alunos
brasileiros de Harvard e os de
Harvard que estão aqui.
FOLHA - O escritório vai indicar instituições de pesquisas brasileiras para estudantes de Harvard?
DYETT - Sim, vamos fazer uma
ponte. Dar condições para que
venham ao Brasil pesquisar e
mostrar quem está desenvolvendo um projeto interessante.
A idéia não é oferecer cursos,
mas dar apoio aos estudantes.
FOLHA - Existem muitos estudos
sobre o Brasil em Harvard?
DYETT - Sim, desde estudo de
línguas até pesquisas de ciências na Amazônia, passando
por saúde pública.
FOLHA - Quantos alunos de Harvard estão no Brasil e quantos brasileiros estudam lá?
DYETT - Há 64 brasileiros lá registrados. E sabemos de 15 norte-americanos da graduação
que fazem pesquisa ou estudam línguas aqui.
FOLHA - Com o escritório, o senhor
acha que o número vai aumentar?
DYETT - Sim. Não vamos aplicar
testes de admissão nem fazer
seleção, mas queremos evitar
que potenciais alunos, ou por
falta de conhecimento ou por
desinformação, deixem de procurar Harvard. Não queremos
que a questão financeira seja
um empecilho.
FOLHA - A universidade não vai
abrir curso aqui ou fazer parceria
com universidades?
DYETT - Não vamos abrir nenhum curso. As parcerias podem acontecer um dia.
FOLHA - Estudar em Harvard é caro
para a maioria dos brasileiros.
Quantas bolsas haverá para o país?
DYETT - Ainda não há número
definido, mas serão bolsas
anuais, principalmente nas três
áreas de interesse. Quem conseguir entrar não deixará de ir
por falta de dinheiro.
FOLHA - Qual é o maior desafio do
escritório?
DYETT - Quero ver estudantes
tendo a possibilidade de criar
vínculos em outros países.
Quero que [o escritório] mude,
que abra a cabeça das pessoas,
que tenham uma visão mais internacional e um relacionamento forte com o Brasil. E que
alunos tenham a oportunidade
de estudar em Harvard.
FOLHA - Os estudantes estão preparados para essas mudanças?
DYETT - Acho que se deve incrementar, complementar o tipo
de formação que se tem nos
EUA. Os EUA recebem gente
do mundo inteiro, mas precisam criar o costume de sair, de
ter perspectiva de morar fora
do país para entender quais são
as dificuldades de morar em
outra realidade, para poder ter
uma visão diferente e ampliar
seus horizontes.
FOLHA - O que é mais difícil para
um norte-americano no Brasil?
DYETT - O Brasil é muito grande, tem muita diversidade.Quando algum estudante
norte-americano chega aqui, os
problemas, as dificuldades, surgem rapidamente: a pobreza, o
trânsito. É o que primeiro se vê,
porque não estão acostumados,
mas, ao longo do tempo, o calor
humano e a paciência dos brasileiros são descobertas e isso é
fantástico. Do inverso, o brasileiro chega nos EUA e fica maravilhado com as coisas que
funcionam, com a organização,
dá impressão de que a vida é
mais fácil, mas daí sentem falta
do calor humano e sofrem com
a saudade.
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