São Paulo, terça-feira, 03 de julho de 2007

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Pilotos desligaram transponder, diz FAB

Comissão de inquérito da Aeronáutica concluiu que americanos confundiram o aparelho anticolisão e o rádio do Legacy

Joe Lepore e Jan Paladino teriam digitado os códigos de freqüência do rádio no transponder, prejudicando o funcionamento de ambos

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

A comissão de inquérito da Aeronáutica que investiga as causas da queda do Boeing da Gol em 29 de setembro do ano passado concluiu que os pilotos americanos Joe Lepore e Jan Paladino desligaram involuntariamente o transponder do jato Legacy que se chocou com o avião, confundindo esse aparelho e o rádio. Os dois ficam dentro da mesma "caixa" do painel de controle.
Conforme a Folha apurou, os pilotos teriam digitado os códigos de freqüência do rádio no transponder e, assim, prejudicado o funcionamento de ambos. O erro apontado pode explicar por que tanto o transponder estava inoperante quanto o rádio não funcionava adequadamente quando ocorreu o choque entre os dois aviões, em pleno ar, resultando na morte de 154 pessoas.
Mais de 20 tentativas de comunicação com o controle em terra foram em vão, porque, segundo as investigações, a freqüência de rádio estava errada e o transponder desligou depois de duas tentativas de inserção de códigos não reconhecidos pelo aparelho.
A digitação equivocada pode ter sido possível porque os pilotos não estavam devidamente preparados para pilotar o Legacy em sua primeira viagem ao sair da fábrica da Embraer em São José dos Campos (SP). Além disso, o rádio e o transponder ficam na mesma "caixa" do painel, entre o piloto e o co-piloto, e são parecidos.
Com o erro, o transponder ficou inoperante e imediatamente apareceu ao lado direito, em frente à poltrona do co-piloto Paladino, sem que ele se desse conta, a mensagem "TCAS off", informando que o TCAS (Traffic Allert and Collision Avoidance System, ou sistema anticolisão) se encontrava desligado.
Acionado pelo transponder, o TCAS evita acidentes com alertas visuais e sonoros aos pilotos, acompanhados da indicação de como eles devem agir, desviando o avião na horizontal e na vertical.
Conforme a gravação das conversas entre Lepore e Paladino, na caixa-preta do Legacy, um deles reagiu com surpresa ao perceber, depois do choque com o Boeing, que o sistema anticolisão estava desligado.
"Cara, você está com o TCAS ligado?", pergunta. O outro admite: "É. O TCAS está desligado". Cerca de dois minutos depois, o aparelho voltou a funcionar, com o transponder enviando sinais normalmente para os centros de controle de tráfego aéreo em terra. Isso indica que foi religado.
Resolvido o último grande mistério do acidente, a comissão poderá antecipar de setembro para agosto o anúncio oficial do resultado das causas do choque, confirmando as informações sobre a seqüência de falhas humanas, tanto dos pilotos quanto dos controladores de vôo, especialmente do Cindacta-1, de Brasília, que resultaram no maior acidente da história da aviação comercial brasileira.
O Comando da Aeronáutica afirma que não influencia conclusões nem prazos para a finalização do inquérito, mas a Folha apurou que vê com bom grado a antecipação do anúncio. Acha que isso poderá tirar um dos focos de tensão dos controladores de vôo, que desde o acidente têm se rebelado contra o Comando e promovido uma série de operações-padrão e greves, na tentativa de denunciar falhas do sistema de controle aéreo.
Caso seja confirmada a apuração de que os pilotos digitaram erroneamente os códigos do rádio e do transponder, isso aliviará, por exemplo, a importância no acidente da existência apontada por controladores de vôo de um "buraco negro" na região onde ocorreu o choque, em Mato Grosso, na altura da serra do Cachimbo.
O relatório deverá mostrar que, apesar de não conseguir contato com o Legacy, os Cindactas tanto de Brasília quanto de Manaus tinham comunicação normal com outras aeronaves na mesma hora e no mesmo espaço, que é sujeito a interferências magnéticas.


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