ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL

Henrique Vailati Filho era professor desde os 18 anos. Ensinava história, geografia, português e latim. Tinha uma memória assombrosa. Há algumas semanas, um ex-aluno seu, formado na metade dos anos 50, ligou para seu filho, Henrique Vailati Neto, para saber se o seu antigo mestre estava vivo.
O filho respondeu: "Liga para ele que você vai saber", e passou-lhe um número. O ex-aluno fez a chamada e, ao ouvi-lo, do outro lado da linha, perdeu a fala. Professor Henrique lembrava exatamente quem ele era e até onde ele se sentava durante a oitava série: era perto da janela. Assim o filho justifica a excelente memória fotográfica do pai: "A paixão da vida dele era o magistério".
Cidadão da Mooca (zona leste de SP), onde nasceu, era filho do diretor das Indústrias Reunidas Minetti Gamba. Em 1945, formou-se em direito pela USP. Além de advogado, foi nomeado promotor da Justiça Militar no início da década de 60. Deu aula em vários colégios, como o São Bento e o Santa Cruz, do qual foi um dos fundadores. Segundo o filho, Henrique deu aula até para Chico Buarque. Costumava dizer: "Alunos e filhos a gente cria para a vida".
Apaixonado por Carmen Miranda, por poesias e pela cidade de Santos, era um contador de piadas e de histórias sobre São Paulo. Morreu na terça da semana passada, véspera do dia de são João -de que ele tanto gostava-, aos 89, após sofrer uma parada cardíaca. Deixa viúva, dois filhos e seis netos. Seria bisavô no próximo mês.

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