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Agências de modelo vigiam peso de meninas de 11 anos
Interessadas na carreira sofrem controle mensal das medidas; médicos condenam prática
"Isso pode ser muita pressão para uma menina; é aí que ela pode começar a tomar diurético, laxante e fazer loucuras", afirma médico
Danilo Verpa/Folha Imagem
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Menina aspirante a modelo participa de peneira em agência |
DANIEL BERGAMASCO
DA REPORTAGEM LOCAL
Meninas de 11 e 12 anos, que
mal entraram na puberdade,
têm sido vigiadas por representantes de agências de modelo
como Ford, Elite e Way.
Periodicamente, quase mês a
mês, suas medidas são tiradas
num recado claro: se continuarem bem magrinhas (até 62 cm
de cintura e 90 cm de quadril,
mesmo com 1,80 m de altura),
terão a chance de um dia, quem
sabe, serem contratadas.
A prática é condenada por
endocrinologistas e mostra que
pouca coisa mudou no mercado
de moda desde que a modelo
Ana Carolina Reston, de 21
anos, morreu de anorexia em
novembro de 2006, com 1,74 m
e absurdos 40 quilos.
Na época, houve até um acordo judicial, intermediado pelo
Ministério Público, por meio
do qual foi estabelecido que nenhuma menina com menos de
16 anos poderia desfilar no São
Paulo Fashion Week, o maior
evento de moda do país.
Desde então, as agências, de
fato, passaram a só contratar
garotas mais velhas. Mas, como
não querem perder as "promissoras" para a concorrência, têm
recrutado pré-adolescentes,
que acabam vivendo a puberdade no crivo da fita métrica.
"Isso pode ser muita pressão
para uma menina de 11 ou 12
anos. Por mais que elas sejam
magras, o corpo está mudando
nessa fase, formando contornos femininos. Sair das medidas pode ser desesperador. É aí
que ela pode começar a tomar
diurético, laxante e fazer loucuras", afirma o endocrinologista
João Cesar Castro Soares, da
Unifesp (Universidade Federal
de São Paulo).
O endocrinologista Bruno
Geloneve, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), concorda e rebate o principal argumento das agências
para defenderem a prática -o
de que não estimulam ninguém
a fechar a boca, porque só escolhem meninas que já são magras e indicam nutricionistas
para que se alimentem bem.
"Nenhum médico pode saber
se uma menina magra de 12
anos vai continuar magra aos
15, mesmo mantendo uma alimentação saudável. O máximo
que pode se prever é a altura,
mas não o peso", diz Geloneve.
Segundo a psiquiatra Gizela
Turkiewicz, que atende no
Hospital das Clínicas crianças e
adolescentes com transtornos
alimentares, a pressão para não
sair das medidas pode surtir
efeitos diversos. "Uma situação
assim [de ultrapassar as medidas exigidas] pode ser o gatilho
para anorexia, se a garota tiver
predisposição genética para isso. Mas a pressão pode causar
outros problemas, como ansiedade, que pode se refletir em
dificuldades familiares e na escola", explica.
Lição de casa
Olheiros das agências costumam viajar pelo Sul do Brasil,
tradicional celeiro de tops, em
busca de possíveis modelos.
Mas, em geral, são as meninas
que batem a suas portas.
Gaúcha de São Leopoldo
(RS), Luciana (nome fictício),
de 11 anos, chegou a São Paulo
há duas semanas em um ônibus
de excursão com outras aspirantes à carreira.
Foi selecionada pela Way
Model (que agencia tops como
Carol Trentini) para o monitoramento -no qual o único pagamento é a própria oportunidade de talvez virar modelo.
O agente Alisson Chornak foi
quem a escolheu e passou algumas tarefas: cuidar da pele (hoje, com espinhas), do cabelo
(maltratado pela tintura loira)
e vigiar bem as medidas.
Com 1,73 m de altura, sem
nem ainda ter menstruado, a
estudante contabiliza 55 cm de
cintura e 85 cm de quadril. Até
completar 14 ou 15 anos, enviará suas centimetragens atualizadas à agência e, vez ou outra,
será medida pessoalmente.
Sua mãe, dona de casa, diz
não ver problemas se a filha
precisar fazer dieta. "Ela está
acostumada a comer pouco. E,
se tem vontade de ser modelo,
vai ter que se controlar", diz.
Renato Sprovieri Junior, diretor comercial da Elite Model,
conta que manda um representante medir as meninas pessoalmente. "Não dá para confiar nas medidas que elas passam. Precisamos que alguém as
meça para termos garantia."
Ele conta que, ano passado,
uma jovem de 13 anos quis parecer tão magra que manipulou
sua imagem no Photoshop e "o
pé parecia um palito de fósforo,
de tanto que tinha se esticado".
A paranoia não é gratuita. Há
meninas que recebem a encomenda expressa de perder peso. "Se [a tarefa] é emagrecimento, todo mês a gente pede
[para um representante medi-las], inclusive para ter um incentivo de uma meta a cumprir.
Falamos: "E aí, "tá" chegando o
dia de você vir aqui medir..." Fazemos isso para poder estimulá-las", diz Sprovieri.
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