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EDUCAÇÃO
Estados que puseram adultos em turmas regulares para obter mais recursos agora têm falsa explosão de cursos supletivos
Rateio de verba distorce estatística de ensino
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Depois de transferir adultos de supletivos para turmas regulares
para ganhar mais recursos federais, alguns Estados e municípios
voltaram atrás e estão rematriculando esses alunos em classes de
educação de jovens e adultos.
A medida, uma brecha legal para conseguir mais recursos, acabou distorcendo as estatísticas de
educação de jovens e adultos em
Estados como Bahia e Tocantins,
de acordo com os dados do Censo
Escolar de 2002 do Ministério da
Educação.
No Tocantins, por exemplo, o
número de jovens e adultos matriculados no supletivo aumentou
de 2.382 em 1998 para 56.805 em
2002, um crescimento de 2.284%.
Situação parecida aconteceu na
Bahia, onde, pelas estatísticas oficiais, o número de alunos dos supletivos saltou em quatro anos de
12.341 para 120.953, uma expansão de 880%. No mesmo período,
a expansão da matrícula nessa
modalidade de ensino em todo o
Brasil foi de 32%.
Não houve uma "explosão" de
novos estudantes jovens e adultos
em 2002. O que aconteceu foi uma
readequação da estatística à realidade, já que muitos estavam matriculados em turmas do ensino
fundamental, e não em supletivos, como deveriam.
Isso aconteceu porque, a partir
de 1997, alguns Estados e municípios passaram a receber verbas de
complementação do governo federal para atingir o valor mínimo
estabelecido pelo Fundef (fundo
criado pelo Ministério da Educação em 1997).
O fundo não beneficia alunos
matriculados na rede de educação
de jovens e adultos. O valor que é
repassado a cada Estado pelo governo federal, como forma de
complementação, é calculado de
acordo com o número de alunos
do ensino fundamental, destinado a crianças de 7 anos a 14 anos.
Com isso, ao transferir alunos
adultos para as classes regulares
do ensino fundamental, os Estados conseguiam inflar artificialmente o valor do repasse.
Na Bahia, principalmente a partir de 1998, os adultos eram matriculados nas mesmas salas em que
estudavam adolescentes, usando
o mesmo material didático e com
os mesmos professores.
Essa situação começou a mudar
no ano passado, quando foi criado o programa Recomeço, do Ministério da Educação, que transfere recursos para os Estados e municípios mais pobres que queiram abrir mais vagas na educação de jovens e adultos.
Enquanto o Fundef complementa a verba por aluno dependendo do valor que cada Estado tem para gastar, no Recomeço é transferido um valor fixo per capita de R$ 230 por ano.
"No momento em que se criou o programa Recomeço, as secretarias de Educação fizeram a comparação de quanto ganhariam com cada um dos programas e transferiram os alunos adultos de volta", disse Maria Clara di Pierro, coordenadora de políticas de educação de adultos da ONG Ação Educativa.
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