São Paulo, terça-feira, 03 de setembro de 2002

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EDUCAÇÃO

Estados que puseram adultos em turmas regulares para obter mais recursos agora têm falsa explosão de cursos supletivos

Rateio de verba distorce estatística de ensino

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Depois de transferir adultos de supletivos para turmas regulares para ganhar mais recursos federais, alguns Estados e municípios voltaram atrás e estão rematriculando esses alunos em classes de educação de jovens e adultos.
A medida, uma brecha legal para conseguir mais recursos, acabou distorcendo as estatísticas de educação de jovens e adultos em Estados como Bahia e Tocantins, de acordo com os dados do Censo Escolar de 2002 do Ministério da Educação.
No Tocantins, por exemplo, o número de jovens e adultos matriculados no supletivo aumentou de 2.382 em 1998 para 56.805 em 2002, um crescimento de 2.284%.
Situação parecida aconteceu na Bahia, onde, pelas estatísticas oficiais, o número de alunos dos supletivos saltou em quatro anos de 12.341 para 120.953, uma expansão de 880%. No mesmo período, a expansão da matrícula nessa modalidade de ensino em todo o Brasil foi de 32%.
Não houve uma "explosão" de novos estudantes jovens e adultos em 2002. O que aconteceu foi uma readequação da estatística à realidade, já que muitos estavam matriculados em turmas do ensino fundamental, e não em supletivos, como deveriam.
Isso aconteceu porque, a partir de 1997, alguns Estados e municípios passaram a receber verbas de complementação do governo federal para atingir o valor mínimo estabelecido pelo Fundef (fundo criado pelo Ministério da Educação em 1997).
O fundo não beneficia alunos matriculados na rede de educação de jovens e adultos. O valor que é repassado a cada Estado pelo governo federal, como forma de complementação, é calculado de acordo com o número de alunos do ensino fundamental, destinado a crianças de 7 anos a 14 anos.
Com isso, ao transferir alunos adultos para as classes regulares do ensino fundamental, os Estados conseguiam inflar artificialmente o valor do repasse.
Na Bahia, principalmente a partir de 1998, os adultos eram matriculados nas mesmas salas em que estudavam adolescentes, usando o mesmo material didático e com os mesmos professores.
Essa situação começou a mudar no ano passado, quando foi criado o programa Recomeço, do Ministério da Educação, que transfere recursos para os Estados e municípios mais pobres que queiram abrir mais vagas na educação de jovens e adultos.
Enquanto o Fundef complementa a verba por aluno dependendo do valor que cada Estado tem para gastar, no Recomeço é transferido um valor fixo per capita de R$ 230 por ano.
"No momento em que se criou o programa Recomeço, as secretarias de Educação fizeram a comparação de quanto ganhariam com cada um dos programas e transferiram os alunos adultos de volta", disse Maria Clara di Pierro, coordenadora de políticas de educação de adultos da ONG Ação Educativa.


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