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VIOLÊNCIA
Jornalista temia fazer reportagem sobre tráfico e foi a favela por imposição de sua chefia, diz advogado da família
Viúva de Tim Lopes faz acusações à Globo
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
Exatamente três meses após a
morte do repórter Tim Lopes, da
TV Globo, sua mulher, a estilista
Alessandra de Araújo Wagner, fez
novas revelações sobre o caso ao
cogitar a suspeita de que ele tenha
sido traído por seu informante na
favela Vila Cruzeiro (Rio).
O advogado de Alessandra, André Martins, acusou a Globo de
estar protegendo o informante.
Ele disse que Lopes foi exposto a
perigo pelos chefes imediatos na
emissora -crime previsto no artigo 132 do Código Penal (detenção de três meses a um ano).
"Alessandra quer que a verdade
aflore e acha que a TV Globo
substitui o Estado, ao dar proteção a uma testemunha que, ao ver
dela, é suspeita. A Globo tinha conhecimento de que havia homens
armados. Ele ir sozinho, com a cara e a coragem, é expor a vida do
trabalhador a perigo", afirmou.
Informada sobre as declarações
da viúva do repórter, a Globo divulgou nota (leia ao lado).
Lopes fazia reportagem na Vila
Cruzeiro (zona norte) quando,
em 2 de junho, foi capturado, torturado e morto. Era sua quarta ida
à favela com uma câmera oculta.
São acusados o traficante Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, e oito homens de seu bando.
Alessandra depôs como testemunha no processo, no 1º Tribunal do Júri. Por ordem do juiz Alexandre Abrahão, saiu da sessão
sem dar entrevistas.
Segundo ela, o motorista da
Globo que a levou ao enterro de
Lopes -e que havia ido com ele à
Vila Cruzeiro nas três vezes anteriores- disse tê-lo alertado de
que a fonte era "peixe" (traidor).
Alessandra disse que, como Lopes não voltou para casa no horário marcado, até as 23h, ficou
preocupada e desencadeou a operação de alerta. Ligou para a Globo às 4h do dia 3 de junho, tendo
sabido que o motorista havia voltado, depois que Lopes não aparecera no horário previsto.
O motorista Rudmann Guilherme Castro também depôs ontem.
Disse que aguardou Lopes até a
0h10 (quando o horário previsto
era das 21h30 às 22h30) e que, depois de ligar pelo menos três vezes
para a emissora, decidiu partir.
Às 7h do dia seguinte, segundo
Alessandra, ela falou com a chefia
de reportagem da Globo. Pediram-lhe que esperasse, pois a reportagem poderia ter rendido, e
Tim, continuado na favela.
Posteriormente, Alessandra recebeu uma ligação da emissora,
informando que as autoridades
do Estado haviam sido avisadas e
que o informante fora localizado.
Soube também que a fonte dissera
não ter visto o jornalista no domingo, fora retirada da favela e estava sob proteção da Globo.
Segundo ela, Lopes estava nervoso com a reportagem, que não
havia sido proposta por ele e sim
pautada pela Globo, informada
pela o homem que guiou Lopes.
"Tim já estava dizendo que não
tinha mais idade e que queria fazer matérias mais leves. Disse que
aquela matéria era barra pesada.
Chegou a dizer: "Essa eu faço
questão de não assinar'", afirmou.
A estilista contou ainda que Lopes, quando fazia as reportagens,
comprava e consumia drogas nas
favelas, pois não tinha como adquirir o produto e jogá-lo fora.
Manifestação
A Penha, bairro onde Tim Lopes foi morto, irá homenageá-lo.
O ato público ocorrerá no próximo domingo. Segundo o presidente do Sindicato dos Jornalistas do Rio, Nacif Elias, o evento será uma repetição dos anteriores,
com seus participantes cobrando maior rigor do governo na punição aos assassinos de Lopes.
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