São Paulo, terça-feira, 03 de setembro de 2002

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BAHIA

Religioso permitiu obra em patrimônio histórico após esperar 6 anos por restauração do Iphan

Frade é alvo de processo por reformar igreja

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Depois de aguardar por quase seis anos a restauração da igreja de São Francisco, uma das mais importantes obras da arquitetura barroca luso-brasileira, frei Lucas Dolle, 73, foi processado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) por autorizar reformas no local.
Dolle permitiu a intervenção em capela anexa à igreja, inaugurada em 1720. Ele deverá depor à Justiça na próxima semana.
"Passei muito tempo pedindo ao Iphan a liberação de verbas para recuperar a capela", disse Dolle, que é alemão. Revoltado com a demora, ele gastou R$ 20 mil para substituir por concreto o assoalho apodrecido de uma sala de 40 m2, usada para depósito.
O frei autorizou a colocação de laje pré-moldada sob o telhado da capela. "A antiga estrutura, de madeira, estava infestada de cupins e causava infiltração."
Ao tomar conhecimento da intervenção, a diretoria do Iphan encaminhou ao Ministério Público uma ação contra o frei. O Ministério Público, então, recomendou à Justiça Federal a abertura de um processo contra Dolle. Por decisão da Justiça, as obras foram embargadas.
Dolle foi processado com base em uma lei de 1937, que considera crime a realização de obras em bens tombados sem autorização prévia dos órgãos do patrimônio.
Segundo notificação da Justiça, Dolle terá de refazer as obras com aspecto e material originais. Ele pode ser condenado a um ano de prisão. O religioso contratou uma advogada para se defender e mover uma ação contra o Iphan.
"Por causa da burocracia e morosidade do Iphan, o convento perdeu 11 volumes das obras de Santo Agostinho, em latim e grego, editadas em Portugal no início do século 17", disse o frei. Segundo ele, outros 200 livros -alguns com mais de 250 anos- ficaram parcialmente destruídos por causa de infiltrações.
Pelo cronograma do Iphan, a restauração da igreja só deverá ser iniciada em 2004. A Agência Folha tentou falar ontem com a superintendente do órgão na Bahia, Adalgisa Maria Bonfim D'Eça. Sua secretária informou que ela só poderia comentar o caso hoje.


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