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MASSACRE NO CENTRO
Em ato para lembrar as vítimas do ataque, manifestantes pediram abrigos e empregos; Erasmo Dias foi vaiado
Na Câmara, morador de rua cobra respeito
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
Todos de pé para o início da sessão. "Play" na melodia do Hino
Nacional. Logo na primeira estrofe, a fita engasgou e a melodia sumiu, mas os 55 moradores de rua
que ocupavam as cadeiras dos vereadores de São Paulo elevaram a
voz e prosseguiram, verso a verso
e em coro, a cantar à capela.
Foi assim, ontem no plenário da
Câmara Municipal de São Paulo,
o início do ato público em solidariedade às vítimas dos ataques a
pessoas em situação de rua.
A sessão, organizada pela Comissão de Direitos Humanos da
Câmara, foi presidida pelo morador de rua Ciro Susumo, que chamou outros colegas para falar na
tribuna do plenário da Casa.
Alguns mais envergonhados,
outros despachados, eles foram,
um a um, à Mesa Diretora.
"Só albergue não serve para nós.
Queremos dignidade e soluções",
bradou um em camisa social.
"Hoje, estamos dando um novo
passo rumo à cidadania", comemorou ao microfone do plenário
Renato Sena, 39. "Acordamos para a participação social", disse ele.
A Mesa Diretora foi composta
também pelo padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua,
pela pastora Mabel Garcia, da Associação Evangélica Beneficente,
e pelos vereadores Lucila Pizani
Gonçalves (PT), Alcides Amazonas (PC do B), Flávia Pereira (PT)
e Beto Custódio (PT).
A sessão também foi acompanhada pelo presidente da Casa, o
vereador Arselino Tatto (PT), e
pelo vereador Erasmo Dias (PP),
que, quando falou do atendimento ao morador de rua de 30 anos
atrás, época em que foi secretário
da Segurança Pública, foi vaiado
ao usar a palavra mendigo.
"Os mendigos eram abordados
pela polícia, levados para um
abrigo e tinham de tomar banho
com neocid [inseticida]", contou
Dias. "Depois, os policiais diziam
que, se o sujeito fosse encontrado
outra vez, seria autuado por vadiagem e detido por 30 dias."
Da platéia, veio um grito: "A ditadura nunca defendeu os direitos
humanos. Aqui é a casa do povo,
hoje é o nosso dia e estamos de luto. O senhor nos respeite!"
Dias retrucou: "Retiro-me constrangido e humilhado. Não posso
aceitar ser vaiado aqui". E veio a
grande vaia. "Que Deus os perdoe", completou o deputado. E a
platéia, em coro: "Amém!".
Os moradores de rua votaram
propostas de concessão de 80 vagas em locação social e de 200 bolsas-aluguel. Eles pediram mais
vagas para famílias em albergues
e em moradias provisórias.
Pediram ainda o atendimento
em repúblicas terapêuticas para
doentes mentais e acesso às Unidades Básicas de Saúde.
Propuseram a abertura de mais
frentes de trabalho e que as empresas que prestam serviços para
a prefeitura destinem 5% de suas
vagas para eles. Também pediram
para que possam tomar banho
em banheiros públicos.
O presidente da Casa disse que
todas as propostas apresentadas
eram "perfeitamente factíveis" e
que elas seriam analisadas durante a votação do Orçamento.
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