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Doação de órgãos no Brasil cai
pelo terceiro ano consecutivo
Pela primeira vez, transplante de fígado teve queda
THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA
MATHEUS PICHONELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Pelo terceiro ano seguido,
caiu no país o número de doadores por milhão de habitantes
no primeiro semestre. E, pela
primeira vez, foi registrada
queda nos transplantes de fígado, iniciados nos anos 1980.
Os dados, da ABTO (Associação Brasileira de Transplante
de Órgãos), fizeram com que a
entidade antecipasse sua campanha nacional para alertar a
população sobre a baixa taxa.
No primeiro semestre deste
ano, o índice nacional ficou em
5,4 doadores a cada um milhão
de pessoas -menos que no
mesmo período de 2006 (5,8),
2005 (6,4) e 2004 (7,6).
O número também ficou
abaixo dos primeiros seis meses de 2003, quando 5,6 pessoas a cada um milhão se tornaram doadores efetivos. Houve
2.221 transplantes no primeiro
semestre deste ano.
Para Valter Duro Garcia, responsável pelo Registro Brasileiro de Transplantes, da ABTO, a ausência de uma política
estabelecida para os transplantes, a desigualdade na distribuição dos centros e a dificuldade
no fornecimento de medicamentos são alguns dos fatores
que explicam a nova queda. "É
apenas a ponta do iceberg do
apagão dos transplantes", diz.
"O país está chegando a resultados iguais aos de 1998. Tudo o que avançou nesses anos
está se perdendo agora. A nossa
expectativa era crescer pelo
menos 0,5 [doadores por milhão de habitantes] por ano."
O país é uma das exceções na
América Latina, onde as doações têm aumentado, e com a
nova queda fica ainda mais distante de países desenvolvidos.
Na Espanha, por exemplo, a taxa é de 35.
Para Renato Gomes, diretor
da ONG Adote (Aliança Brasileira pela Doação de Órgãos e
Tecidos), do Rio, o dado é reflexo da crise na saúde no país.
"Tem até médico cardiologista
em greve. E o problema não é só
de uma região ou de outra, é de
todo o Brasil", afirma.
Segundo os dados da ABTO,
Santa Catarina foi o único Estado onde houve crescimento nas
doações -o índice catarinense
ficou em 14,7 doadores por milhão de habitantes. No Rio
Grande do Sul, houve estagnação. Todos os outros Estados
apresentaram recuo. No Amazonas, não foi registrada nem
sequer uma doação; nos Estados do Piauí e Alagoas, a taxa
não ultrapassou 0,7.
Gomes diz que a estrutura
"horrível" dos hospitais, onde o
atendimento é "péssimo", também contribuiu para esse dado.
Bahia, Goiás e o Distrito Federal tiveram doações que não foram concretizadas por falta de
infra-estrutura.
Garcia diz que a falta de capacitação profissional em boa
parte dos hospitais no trabalho
de captação de possíveis doadores também ajuda a manter
baixos os índices. "Os coordenadores hospitalares não são
remunerados. Falta incentivo."
Um outro fator que continua
sendo um entrave é a não-autorização da família. No Piauí, esse foi o motivo de 69,2% das
doações não concretizadas. Em
Mato Grosso do Sul, 66,7% das
doações também não ocorreram por esse motivo.
Apesar dos dados negativos,
o país realizou um procedimento inédito neste primeiro
semestre: um transplante de
coração e fígado para um mesmo receptor. Segundo a ABTO,
uma cirurgia como essa jamais
havia sido relatada no Brasil.
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