São Paulo, quarta-feira, 03 de setembro de 2008

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Após confissão, juiz manda soltar os jovens

Delegado que ouviu depoimento de maníaco sobre morte de Vanessa diz ter certeza de que os três rapazes presos são inocentes

Na época em que os três foram presos, a polícia disse que ex-namorado da menina confessou o crime de forma espontânea


DA REPORTAGEM LOCAL

O juiz Leandro Jorge Bittencourt Cano, do Tribunal do Júri de Guarulhos, determinou na noite de ontem que Renato Correia de Brito, 24, William César de Brito Silva, 28, e Wagner Conceição da Silva, 25, sejam soltos ainda hoje.
Em seu despacho, o juiz considerou os detalhes do assassinato de Vanessa Batista de Freitas apresentados por Leandro Basílio Rodrigues, o "maníaco de Guarulhos". Um deles foi o fato de que a vítima teve o corpo coberto por um véu carregado por ela em sua bolsa.
Outros detalhes dados por Rodrigues ao delegado Jackson Cesar Batista, como a posição em que o corpo da vítima estava, o matagal onde ela foi atacada e a roupa (saia e bota) usadas por Vanessa também foram considerados para libertá-los.
Rodrigues levou os policiais ao local do crime na noite da última sexta-feira, dia 29, para narrar todos os detalhes. Disse também ter roubado o celular de Vanessa e tê-lo trocado por 15 pedras de crack.
No exame necroscópico feito à época do crime, a perícia constatou que um objeto foi introduzido em Vanessa. Rodrigues, em alguns dos casos de violência sexual que confessou à polícia, disse que as violentava, por exemplo, com um pedaço de madeira.

Inocentemente
A partir desses detalhes, o delegado Batista escreveu um ofício (n.º 1.192/08) e afirmou: "Renato Correia de Brito, William César de Brito e Wagner Conceição da Silva estão presos no CDP [Centro de Detenção Provisória] 1 de Guarulhos e, conforme se verifica do próprio interrogatório de Leandro [o "maníaco de Guarulhos'], estão presos inocentemente". A palavra inocentemente aparece em letras maiúsculas no ofício.
À época das prisões de Renato, de seu primo William e de Wagner, a polícia divulgou que Vanessa havia sido morta porque seu ex-companheiro (Renato) não queria que ela o acionasse judicialmente e, para isso, teria contratado os outros dois para "dar um susto" nela.
Ao chegarem no CDP 1 de Guarulhos, os três tiveram de prestar esclarecimentos aos outros presos sobre as acusações que pesavam contra eles. Como os detentos não toleram violência sexual, os rapazes receberam um prazo para provar que haviam sido presos mediante tortura de policiais civis e militares. Passado o prazo, os outros presos os consideraram inocentes e, por isso, eles não sofreram represálias na cadeia.

As torturas
No boletim de ocorrência n.º 9.456/06, do 1º Distrito Policial de Guarulhos, o delegado Paulo Roberto Poli Martins escreveu que Renato confessou o crime "espontânea e voluntariamente" aos policiais militares que o prenderam em sua casa, ainda na manhã em que o corpo de Vanessa fora encontrado, e também que ele teria tentado suborná-los com R$ 20 mil.
Assim como disse à Justiça várias vezes, Renato, o primeiro a ser preso na manhã em que o corpo de Vanessa foi achado, afirma ter sido levado para um matagal na estrada do Cabuçu e ter sido torturado por policiais militares para confessar o crime. Além de espancamentos, Renato diz que os PMs também jogaram gás de pimenta em seus olhos.
De acordo com o promotor Marcelo Alexandre de Oliveira, os PMs Ezequiel Ramos da Motta e Richardson Alves de Alcântara são investigados por suspeita de terem torturado Renato, preso às 10h e só apresentado ao delegado Martins por volta das 16h30. O segundo a ser preso foi William e, por último, Wagner.
Os três relataram à Justiça que também foram torturados diversas vezes, inclusive com aplicação de choques com uma máquina de manivela e com a colocação de sacos plásticos em suas cabeças para sufocamento, dentro do 1º DP. O delegado que fez a prisão do trio e outros policiais civis também são investigados pela tortura.
(ANDRÉ CARAMANTE)



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