São Paulo, quinta-feira, 03 de setembro de 2009

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Tráfico planejou protesto em favela, diz PM

Polícia Militar afirma ter encontrado bilhete que convocava protesto em troca de cesta básica; moradores dizem que não é verdade

Delegado do caso duvida da tese do bilhete; governador Serra defendeu ação dos policiais militares para conter "vandalismo"

AFONSO BENITES
DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Militar afirma que o protesto de moradores da favela de Heliópolis (zona sul) ocorrido anteontem por causa da morte de uma jovem de 17 anos foi orquestrado por traficantes.
A PM diz ter encontrado com moradores um bilhete, escrito à mão, que os convocava a participar da manifestação em troca de uma cesta básica.
Moradores da favela dizem que isso não é verdade. O delegado titular do 95º DP, Gilmar Contrera, duvida da tese.
No fim da noite de segunda, Ana Cristina de Macedo, 17, mãe de uma criança de um ano e oito meses, voltava da escola quando foi atingida por uma bala perdida durante perseguição de guardas-civis de São Caetano do Sul (Grande SP) a suspeitos de roubar um carro.
A atuação da GCM (Guarda Civil Municipal) foi criticada ontem pelo governador José Serra (PSDB). "[Foi] Um evento lamentável deflagrado por uma guarda civil que é despreparada para enfrentar situações como essa", disse.
Serra defendeu a ação da PM, que usou balas de borracha e bombas de efeito moral contra os manifestantes. "O direito do protesto é algo que defendemos. Mas vandalismo é outra coisa." No ato, nove veículos foram incendiados.
Na entrevista coletiva em que divulgou a suspeita da PM, o capitão Maurício de Araújo não exibiu bilhete. Afirmou apenas que criminosos sempre tentam angariar apoio de moradores para protegê-los.
Mais tarde, a Polícia Civil apresentou cópia do panfleto.
Moradores de Heliópolis e parentes de Ana Cristina criticaram a hipótese da PM.
"Isso tudo é inverídico. Cansamos de apanhar da polícia e resolvemos protestar", disse a doméstica Marilene Pereira de Souza, sogra da jovem.
"O problema é que 99% de pessoas honestas acabam pagando pelo erro de 1% de desonestos", afirmou o líder comunitário Paulo Sérgio Maciel.
A Folha ouviu 25 moradores da comunidade. Nenhum deles viu ou recebeu o bilhete. "Ficamos sabendo da história pela televisão", disse um morador.
O delegado Contrera afirmou desconfiar da tese da PM, mas, mesmo assim, investigará a procedência do bilhete.
À tarde, um novo bilhete circulou pela favela "convidando" os moradores para um protesto às 18h, que não ocorreu. Prometia dar um celular ou um videogame a quem participasse.

Manhã
De manhã, o clima ainda era tenso em Heliópolis. Garis limpavam os estilhaços de vidros de um ônibus incendiado, mães andavam rápido pelas ruas com seus filhos e policiais faziam ronda por ruas da favela. À noite, a polícia reforçou a presença no local, por precaução.
O confronto de anteontem durou cinco horas e envolveu cerca de 600 manifestantes e 320 policiais. Os moradores montaram barricadas em ruas e incendiaram três ônibus, dois micro-ônibus e quatro carros.
Segundo a PM, o único ferido foi um policial que levou uma pedrada. Na madrugada, foram soltas as 20 pessoas que haviam sido detidas.


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