|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Tráfico planejou protesto em favela, diz PM
Polícia Militar afirma ter encontrado bilhete que convocava protesto em troca de cesta básica; moradores dizem que não é verdade
Delegado do caso duvida da tese do bilhete; governador Serra defendeu ação
dos policiais militares para conter "vandalismo"
AFONSO BENITES
DA REPORTAGEM LOCAL
A Polícia Militar afirma que o
protesto de moradores da favela de Heliópolis (zona sul) ocorrido anteontem por causa da
morte de uma jovem de 17 anos
foi orquestrado por traficantes.
A PM diz ter encontrado com
moradores um bilhete, escrito
à mão, que os convocava a participar da manifestação em troca de uma cesta básica.
Moradores da favela dizem
que isso não é verdade. O delegado titular do 95º DP, Gilmar
Contrera, duvida da tese.
No fim da noite de segunda,
Ana Cristina de Macedo, 17,
mãe de uma criança de um ano
e oito meses, voltava da escola
quando foi atingida por uma
bala perdida durante perseguição de guardas-civis de São
Caetano do Sul (Grande SP) a
suspeitos de roubar um carro.
A atuação da GCM (Guarda
Civil Municipal) foi criticada
ontem pelo governador José
Serra (PSDB). "[Foi] Um evento lamentável deflagrado por
uma guarda civil que é despreparada para enfrentar situações como essa", disse.
Serra defendeu a ação da PM,
que usou balas de borracha e
bombas de efeito moral contra
os manifestantes. "O direito do
protesto é algo que defendemos. Mas vandalismo é outra
coisa." No ato, nove veículos foram incendiados.
Na entrevista coletiva em
que divulgou a suspeita da PM,
o capitão Maurício de Araújo
não exibiu bilhete. Afirmou
apenas que criminosos sempre
tentam angariar apoio de moradores para protegê-los.
Mais tarde, a Polícia Civil
apresentou cópia do panfleto.
Moradores de Heliópolis e
parentes de Ana Cristina criticaram a hipótese da PM.
"Isso tudo é inverídico. Cansamos de apanhar da polícia e
resolvemos protestar", disse a
doméstica Marilene Pereira de
Souza, sogra da jovem.
"O problema é que 99% de
pessoas honestas acabam pagando pelo erro de 1% de desonestos", afirmou o líder comunitário Paulo Sérgio Maciel.
A Folha ouviu 25 moradores
da comunidade. Nenhum deles
viu ou recebeu o bilhete. "Ficamos sabendo da história pela
televisão", disse um morador.
O delegado Contrera afirmou desconfiar da tese da PM,
mas, mesmo assim, investigará
a procedência do bilhete.
À tarde, um novo bilhete circulou pela favela "convidando"
os moradores para um protesto
às 18h, que não ocorreu. Prometia dar um celular ou um videogame a quem participasse.
Manhã
De manhã, o clima ainda era
tenso em Heliópolis. Garis limpavam os estilhaços de vidros
de um ônibus incendiado, mães
andavam rápido pelas ruas com
seus filhos e policiais faziam
ronda por ruas da favela. À noite, a polícia reforçou a presença
no local, por precaução.
O confronto de anteontem
durou cinco horas e envolveu
cerca de 600 manifestantes e
320 policiais. Os moradores
montaram barricadas em ruas
e incendiaram três ônibus, dois
micro-ônibus e quatro carros.
Segundo a PM, o único ferido
foi um policial que levou uma
pedrada. Na madrugada, foram
soltas as 20 pessoas que haviam
sido detidas.
Texto Anterior: Há 50 Anos Próximo Texto: Histórico: GCM foi expulso da PM por fazer sexo em quartel Índice
|