São Paulo, quinta-feira, 03 de setembro de 2009

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ANÁLISE

Precisaremos de mais gerontólogos

HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Como não poderia deixar de ser, o envelhecimento da população implica mudanças importantes também no perfil da mortalidade do brasileiro.
Embora ainda enfrentemos um número incômodo de óbitos por patologias típicas de países pobres e jovens -como as diarreias-, vão ganhando peso cada vez maior as doenças características de faixas etárias mais avançadas, como os cânceres e as demências.
O ritmo dessas mudanças tem sido rápido, considerando-se que a demografia lida com uma escala que se mede mais em gerações do que em anos. Em 1950, 40% dos óbitos registrados no Brasil se deviam a moléstias infectocontagiosas e 12% a doenças cardiovasculares. Agora os termos praticamente se inverteram: as infecciosas respondem por menos de 10% dos óbitos e as cardíacas ficam perto dos 40%.
E o movimento continua. As causas cardíacas já começam a perder espaço para os cânceres, que tendem a tornar-se a principal razão de óbito. De 1996 para 2005, as moléstias cardiovasculares caíram de 38,1% das mortes entre maiores de 60 anos para 36,5%, enquanto as neoplasias passaram de 13,3% para 16%. Nos países desenvolvidos, o câncer já ultrapassou ou está para ultrapassar as doenças cardíacas como principal causa de morte.
O envelhecimento populacional também se materializa na forma de maior prevalência de doenças crônicas. De acordo com o IBGE, 29,9% da população brasileira relatou sofrer de alguma moléstia persistente em 2003. Entre os idosos, esse índice atingia 75,5% -dos quais 64,4% se queixavam de múltiplas patologias.
É interessante aqui observar que perduram diferenças de classe social e de gênero. A taxa de moléstias crônicas fica em 80,2% entre as mulheres e 69,3% entre os homens; entre os 20% mais pobres da população, ela atinge 69,9%.
Como não há razões biológicas para tamanha diferença, é mais razoável atribuí-la ao subdiagnóstico. Homens e pobres vão menos ao médico.
É importante que o Brasil aproveite esse tipo de informação fornecida pelo IBGE para preparar seu sistema de saúde para o futuro. As correções necessárias também podem levar tempo, pois não se limitam à compra de aparelhos. Elas envolvem também planejamento de longo prazo e a própria formação dos médicos. Precisaremos de menos pediatras e de mais gerontologistas.


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