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ANÁLISE
Precisaremos de mais gerontólogos
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Como não poderia deixar de
ser, o envelhecimento da população implica mudanças importantes também no perfil da
mortalidade do brasileiro.
Embora ainda enfrentemos
um número incômodo de óbitos por patologias típicas de
países pobres e jovens -como
as diarreias-, vão ganhando
peso cada vez maior as doenças
características de faixas etárias
mais avançadas, como os cânceres e as demências.
O ritmo dessas mudanças
tem sido rápido, considerando-se que a demografia lida com
uma escala que se mede mais
em gerações do que em anos.
Em 1950, 40% dos óbitos registrados no Brasil se deviam a
moléstias infectocontagiosas e
12% a doenças cardiovasculares. Agora os termos praticamente se inverteram: as infecciosas respondem por menos de 10% dos óbitos e as cardíacas
ficam perto dos 40%.
E o movimento continua. As
causas cardíacas já começam a
perder espaço para os cânceres,
que tendem a tornar-se a principal razão de óbito. De 1996
para 2005, as moléstias cardiovasculares caíram de 38,1% das
mortes entre maiores de 60
anos para 36,5%, enquanto as
neoplasias passaram de 13,3%
para 16%. Nos países desenvolvidos, o câncer já ultrapassou
ou está para ultrapassar as
doenças cardíacas como principal causa de morte.
O envelhecimento populacional também se materializa
na forma de maior prevalência
de doenças crônicas. De acordo
com o IBGE, 29,9% da população brasileira relatou sofrer de
alguma moléstia persistente
em 2003. Entre os idosos, esse
índice atingia 75,5% -dos
quais 64,4% se queixavam de
múltiplas patologias.
É interessante aqui observar
que perduram diferenças de
classe social e de gênero. A taxa
de moléstias crônicas fica em
80,2% entre as mulheres e
69,3% entre os homens; entre
os 20% mais pobres da população, ela atinge 69,9%.
Como não há razões biológicas para tamanha diferença, é
mais razoável atribuí-la ao subdiagnóstico. Homens e pobres
vão menos ao médico.
É importante que o Brasil
aproveite esse tipo de informação fornecida pelo IBGE para
preparar seu sistema de saúde
para o futuro. As correções necessárias também podem levar
tempo, pois não se limitam à
compra de aparelhos. Elas envolvem também planejamento
de longo prazo e a própria formação dos médicos. Precisaremos de menos pediatras e de
mais gerontologistas.
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