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27% dos brasileiros tiveram sintomas de gripe desde junho
Pesquisa Datafolha mostra que, nos últimos três meses e meio, o equivalente a 51,3 milhões de pessoas experimentou quadro gripal
Até julho, o vírus da gripe suína correspondia a 40% dos casos leves, o que sugere que 20,5 milhões de pessoas podem ter contraído a doença
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Pesquisa Datafolha mostra
que 27% dos brasileiros com
mais de 16 anos relataram ter
tido "sintomas de gripe" entre
junho e a data da entrevista (de
9 a 11/9). Extrapolando essa
porcentagem para a população
geral, isso significa que algo em
torno de 51,3 milhões de pessoas experimentaram um quadro gripal nos últimos três meses e meio.
Mais ou menos a metade delas (14% dos entrevistados, ou
cerca de 26,6 milhões) declararam ter procurado um médico
-o que explica, com folga, a superlotação dos hospitais.
Evidentemente, nem todo
"sintoma de gripe" é de fato
provocado por vírus, nem todo
vírus respiratório é o da gripe e
nem toda gripe tem como agente causador o H1N1 pandêmico.
Dados do Ministério da Saúde sobre os casos menos graves
indicam que o novo H1N1 respondia por 40% das amostras
processadas até o fim de julho.
A partir daí, a pasta concluiu
que o esforço de fazer o diagnóstico laboratorial de quadros
leves não compensava e passou
a testar só os mais graves. Nessa
situação, no auge da epidemia
(primeira semana de agosto), o
H1N1 foi identificado como
causador de 58% das síndromes respiratórias agudas graves notificadas e testadas.
Se aplicarmos o "deflator" de
40% aos 51,3 milhões de quadros gripais, chegamos a 20,5
milhões, que representam, na
opinião de infectologistas, uma
estimativa bruta defensável
dos casos de gripe suína ocorridos até o momento.
"Não dá para publicar um artigo científico no "New England
Journal of Medicine", mas, com
as devidas ressalvas, [esse método] serve para dar uma ideia
do tamanho da epidemia aqui",
disse Esper Kallas, da USP e do
Hospital Sírio-Libanês.
O principal problema, aponta, é que não dá para equiparar o
autodiagnóstico a um diagnóstico médico. "Mas não há como
avançar mais numa entrevista
simples [como a do Datafolha]."
O médico afirmou também
que não se surpreenderia nem
se os 27% tivessem tido a gripe
suína. Ele disse que já há estudos apontando para uma circulação de 30% do H1N1 no Chile.
Celso Granato, do Laboratório Fleury, que ajudou a Folha a
preparar o questionário do Datafolha, considerou os 27% um
índice elevado: "Não esperava
tanto!". Relativizou o problema
do autodiagnóstico lembrando
que o ministério acaba de fazer
uma longa campanha na TV
para explicar o que é gripe.
Também disse que o índice
de 14% de procura por um médico sugere consistência no
comportamento dos entrevistados. "Ninguém vai ao médico
por um resfriadinho", afirmou.
Nordeste
O diretor do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, David
Uip, surpreendeu-se com a
porcentagem de quadros gripais apurada no Nordeste, que
superou a do Sudeste. "Só isso
já merece uma investigação."
Uma possibilidade aventada
pelo médico é que a ampla repercussão midiática da epidemia tenha contribuído para inflar os números nordestinos.
A literatura médica é quase
unânime em apontar incidência decrescente de gripe conforme se avança para o norte.
Também não se verificou, no
Nordeste, pressão tão forte sobre o sistema de saúde quanto a
observada no Sul e no Sudeste.
Kallas, porém, disse que, com
a circulação cada vez maior de
pessoas entre cidades e regiões,
não esperaria taxas tão menores no Nordeste.
Vale ainda observar que os
51,3 milhões constituem uma
extrapolação conservadora,
pois a metodologia do Datafolha não considera a população
até os 16 anos, justamente a
mais suscetível a contrair vírus
respiratórios em geral. Esse recorte etário representa cerca
de 25% da população.
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