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SAÚDE
Ônibus com mamógrafo percorre o interior de SP fazendo exames grátis
"Mamamóvel" faz exames de câncer em mulheres
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Aos 55 anos, a dona-de-casa Nadir Venturin da Silva nunca havia
feito uma mamografia. Moradora
na periferia de uma pequena cidade do interior, ela decidiu fazer o
exame ao ver um ônibus equipado com mamógrafo passar em
frente a sua casa. O exame revelou
um câncer de mama em estágio
inicial, que foi extirpado com
uma cirurgia simples.
A cena, que parece ficção, aconteceu há cinco meses em Guaraci
(476 km de São Paulo). O ônibus
mencionado faz parte de um projeto do Hospital do Câncer de
Barretos, em parceria com a Secretaria de Estado da Saúde e o
Instituto Avon.
Ele percorre as periferias de 19
municípios da região noroeste do
Estado, realizando exames em
mulheres carentes de 40 a 69 anos,
faixa etária de maior risco para
câncer de mama -o que mais
mata a mulher brasileira.
O Ministério da Saúde estima
que neste ano serão diagnosticados 41.610 novos casos de câncer
de mama, com 9.335 mortes,
aproximadamente um óbito por
hora. Nos últimos 20 anos, houve
um aumento de 80% na taxa de
mortalidade desse tipo de câncer.
A maioria das cidades atendidas
pelo ônibus, assim como 91% dos
municípios brasileiros, não tem
aparelhos de mamógrafos disponíveis na rede pública de saúde.
Nos locais onde o serviço é oferecido, a fila de espera para o exame
é, em média, de três meses.
De maio a setembro, 3.495 mulheres tiveram as mamas examinadas dentro do ônibus. A exemplo da "dona Nadir", 43% delas fizeram a mamografia pela primeira vez na vida. O resultado dessa
busca ativa é surpreendente: foram encontrados 35 casos suspeitos de câncer e quatro confirmados. Nos dois casos, os tumores
eram menores de 2 cm e com gânglios negativos, situação que propicia 96% de chances de cura.
Segundo o médico Edmundo
Carvalho Mauad, diretor-técnico
do Hospital do Câncer de Barretos, o "mamamóvel" é equipado
de uma antena parabólica que envia, via satélite, os dados das mulheres examinadas no ônibus para
o departamento de mastologia do
Hospital do Câncer de Barretos.
Quando são detectadas lesões
suspeitas, a mulher é chamada ao
hospital para complementar a investigação com exames mais sofisticados -biopsia dirigida ou
mamotomia, por exemplo.
Confirmando o câncer, é adotado o procedimento mais adequado para o estágio da doença. Nos
casos de Nadir e Teresa, foi realizada uma quadrantectomia, em
que apenas um pequeno pedaço
da mama é retirado. Todo o tratamento -cirurgia, quimioterapia
ou radioterapia- é coberto pelo
Sistema Único de Saúde.
Até maio do próximo ano, o
projeto de prevenção ao câncer de
mama pretende atender 80% das
41.790 mulheres de 40 a 69 anos
da região de Barretos -os 20%
restantes seriam de mulheres que
já realizam a mamografia com
médico particular ou convênio.
Na unidade móvel, Mauad estima conseguir realizar 35% das
mamografias dessa população de
mulheres. Os outros 65% serão
feitos no hospital em Barretos.
Dentro do programa, foram realizadas 2.425 mamografias no hospital desde maio.
Se somadas as mamografias feitas no ônibus e no hospital, o número é 22% maior do que o total
de exames realizados em 2002 na
região de Barretos pela Secretaria
de Estado da Saúde. Foram 5.920
contra 4.860 exames.
Na opinião de Nelson Pesciota,
coordenador de saúde do interior
da Secretaria de Estado da Saúde,
uma das razões de o projeto realizar mais mamografias é que "coisa nova chama mais atenção".
"O ônibus é bonito, e o tratamento é muito bom. O serviço de
saúde está ali sempre, as pessoas
acabam não valorizando", afirma.
Questionado sobre o fato de as
mulheres esperarem de três a
quatro meses para a realização do
exame, Pesciota diz que, por ser
um exame de rotina, a mamografia poderia ser planejada. "Se a
mulher é agregada ao serviço de
saúde, a dificuldade é menor."
Para a dona-de-casa Elza Euclides Rivaldi, 59, que sempre fez
seus exames preventivos no posto
de saúde e decidiu "testar" o ônibus, a grande vantagem do "mamamóvel" é a rapidez no atendimento. "Em cinco minutos fiz a
mamografia e o papanicolaou. No
posto, perco o dia inteiro", diz.
Segundo Luiz Cláudio Thuler,
chefe da divisão de detecção precoce do Inca (Instituto Nacional
do Câncer), a iniciativa de Barretos é "perfeitamente aplicável" a
outras cidades brasileiras que tenham as mesmas características
do município paulista.
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