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São Paulo, segunda-feira, 03 de novembro de 2003

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SAÚDE

Ônibus com mamógrafo percorre o interior de SP fazendo exames grátis

"Mamamóvel" faz exames de câncer em mulheres

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Aos 55 anos, a dona-de-casa Nadir Venturin da Silva nunca havia feito uma mamografia. Moradora na periferia de uma pequena cidade do interior, ela decidiu fazer o exame ao ver um ônibus equipado com mamógrafo passar em frente a sua casa. O exame revelou um câncer de mama em estágio inicial, que foi extirpado com uma cirurgia simples.
A cena, que parece ficção, aconteceu há cinco meses em Guaraci (476 km de São Paulo). O ônibus mencionado faz parte de um projeto do Hospital do Câncer de Barretos, em parceria com a Secretaria de Estado da Saúde e o Instituto Avon.
Ele percorre as periferias de 19 municípios da região noroeste do Estado, realizando exames em mulheres carentes de 40 a 69 anos, faixa etária de maior risco para câncer de mama -o que mais mata a mulher brasileira.
O Ministério da Saúde estima que neste ano serão diagnosticados 41.610 novos casos de câncer de mama, com 9.335 mortes, aproximadamente um óbito por hora. Nos últimos 20 anos, houve um aumento de 80% na taxa de mortalidade desse tipo de câncer.
A maioria das cidades atendidas pelo ônibus, assim como 91% dos municípios brasileiros, não tem aparelhos de mamógrafos disponíveis na rede pública de saúde. Nos locais onde o serviço é oferecido, a fila de espera para o exame é, em média, de três meses.
De maio a setembro, 3.495 mulheres tiveram as mamas examinadas dentro do ônibus. A exemplo da "dona Nadir", 43% delas fizeram a mamografia pela primeira vez na vida. O resultado dessa busca ativa é surpreendente: foram encontrados 35 casos suspeitos de câncer e quatro confirmados. Nos dois casos, os tumores eram menores de 2 cm e com gânglios negativos, situação que propicia 96% de chances de cura.
Segundo o médico Edmundo Carvalho Mauad, diretor-técnico do Hospital do Câncer de Barretos, o "mamamóvel" é equipado de uma antena parabólica que envia, via satélite, os dados das mulheres examinadas no ônibus para o departamento de mastologia do Hospital do Câncer de Barretos.
Quando são detectadas lesões suspeitas, a mulher é chamada ao hospital para complementar a investigação com exames mais sofisticados -biopsia dirigida ou mamotomia, por exemplo.
Confirmando o câncer, é adotado o procedimento mais adequado para o estágio da doença. Nos casos de Nadir e Teresa, foi realizada uma quadrantectomia, em que apenas um pequeno pedaço da mama é retirado. Todo o tratamento -cirurgia, quimioterapia ou radioterapia- é coberto pelo Sistema Único de Saúde.
Até maio do próximo ano, o projeto de prevenção ao câncer de mama pretende atender 80% das 41.790 mulheres de 40 a 69 anos da região de Barretos -os 20% restantes seriam de mulheres que já realizam a mamografia com médico particular ou convênio.
Na unidade móvel, Mauad estima conseguir realizar 35% das mamografias dessa população de mulheres. Os outros 65% serão feitos no hospital em Barretos. Dentro do programa, foram realizadas 2.425 mamografias no hospital desde maio.
Se somadas as mamografias feitas no ônibus e no hospital, o número é 22% maior do que o total de exames realizados em 2002 na região de Barretos pela Secretaria de Estado da Saúde. Foram 5.920 contra 4.860 exames.
Na opinião de Nelson Pesciota, coordenador de saúde do interior da Secretaria de Estado da Saúde, uma das razões de o projeto realizar mais mamografias é que "coisa nova chama mais atenção".
"O ônibus é bonito, e o tratamento é muito bom. O serviço de saúde está ali sempre, as pessoas acabam não valorizando", afirma.
Questionado sobre o fato de as mulheres esperarem de três a quatro meses para a realização do exame, Pesciota diz que, por ser um exame de rotina, a mamografia poderia ser planejada. "Se a mulher é agregada ao serviço de saúde, a dificuldade é menor."
Para a dona-de-casa Elza Euclides Rivaldi, 59, que sempre fez seus exames preventivos no posto de saúde e decidiu "testar" o ônibus, a grande vantagem do "mamamóvel" é a rapidez no atendimento. "Em cinco minutos fiz a mamografia e o papanicolaou. No posto, perco o dia inteiro", diz.
Segundo Luiz Cláudio Thuler, chefe da divisão de detecção precoce do Inca (Instituto Nacional do Câncer), a iniciativa de Barretos é "perfeitamente aplicável" a outras cidades brasileiras que tenham as mesmas características do município paulista.



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