São Paulo, segunda-feira, 03 de novembro de 2008

Próximo Texto | Índice

Cidades aprovam mais alunos para melhorar a nota no Ideb

674 municípios elevaram índice, mesmo sem melhora no desempenho em matemática e português

Ideb é um indicador criado pelo Ministério da Educação para monitorar as metas de melhoria da qualidade da educação básica no país

Rafael Andrade/Folha Imagem
Alunos do Ciep Agostinho Neto, no Rio; município amplia aprovação

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

Seiscentos e setenta e quatro municípios brasileiros conseguiram melhorar ou manter seu Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) de 2005 a 2007 única e exclusivamente por causa do aumento nas taxas de aprovação.
Nessas cidades, o desempenho dos alunos nos testes de matemática e português caiu ou ficou estagnado, mas foi compensado pelo aumento, em alguns casos surpreendentes, da aprovação em dois anos.
Esses municípios representam 16% dos avaliados pelo MEC no primeiro ciclo do ensino fundamental (de primeira a quarta séries). Em outros 2.497 (58%), a aprovação também contribuiu para melhorar a nota, mas não foi o único fator.
O Ideb é um indicador criado pelo MEC para monitorar as metas de melhoria da qualidade da educação básica. Ele é composto pelas taxas de aprovação e pelo desempenho dos estudantes em testes de português e matemática. Por isso, a nota pode variar tanto por causa da aprovação quanto pelo desempenho dos alunos.
Para o presidente-executivo do movimento Todos Pela Educação, Mozart Ramos, as cidades que cresceram seu Ideb só por causa da aprovação terão agora que melhorar em português e matemática, o que é mais difícil. "O próximo secretário de Educação dessas cidades não terá mais essa gordura para queimar, já que os que aumentaram a aprovação de forma acentuada chegaram perto do limite. Seu Ideb poderá estagnar ou até piorar se o desempenho dos alunos não avançar."
Preocupado com o aumento só pela via da aprovação em alguns casos, o movimento Todos Pela Educação fez a mesma conta, mas considerando apenas as capitais. Foram identificadas nove cidades no primeiro ciclo do ensino fundamental (primeira a quarta) e sete no segundo ciclo (quinta a oitava) em que o Ideb aumentou, mas houve piora no desempenho em português ou matemática.
Para o presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, órgão do MEC responsável pelas avaliações), Reynaldo Fernandes, o resultado dessas cidades deve ser acompanhado nas próximas avaliações. "Se a cidade deu um salto na aprovação e o desempenho dos estudantes não cair, isso é ótimo. Mas, se aprovou demais sem saberem nada, a tendência é o Ideb cair."
Um cálculo do Inep com base no Ideb mostra que o aumento das taxas de aprovação foi responsável por 41% da melhoria do resultado. O componente que mais explicou o avanço, no entanto, segundo essa conta, foi a melhoria do desempenho em matemática (46%). Português foi responsável por 14%.
Pesquisador da USP-Ribeirão Preto e ex-diretor do Inep, José Marcelino Rezende Pinto afirma ser difícil avaliar se os índices de aprovação melhoraram de forma real ou artificial.
"Numa situação normal, o aumento da aprovação seria motivo de festa. Em um sistema no qual se vinculam recursos à taxa de promoção, o dado é de difícil mensuração."
Ele diz, porém, que o aumento da aprovação também é desejável. "Mas aprovar não significa que o aluno aprendeu ou que a escola cumpriu sua função de ensinar."


Próximo Texto: Município na BA agora tem 100% de aprovados
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.