São Paulo, segunda-feira, 03 de novembro de 2008

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FLÁVIO PINTO VIEIRA (1939-2008)

O intelectual que foi trabalhar no Cairo

RICARDO GALLO
DA REDAÇÃO

Naqueles anos difíceis de ditadura militar, Flávio Pinto Vieira estava decidido: era hora de deixar o Brasil. "Único aprovado" entre 15 candidatos a uma vaga na rádio Cairo, mandou-se com a mulher do Rio para o Egito e foi ser "redator-locutor-tradutor" por dois anos.
Antes de partir, vendera a TV comprada "à vista na rua Uruguaiana", uma poltrona de couro e algumas "edições preciosas": lá se foram obras de Baudelaire, Stendhal e Cortázar. Era 1971, oportunidade de bom salário, de conhecer a Europa ("principalmente Paris"), de dar "adeus ao governo militar de Médici" e "ao sufoco financeiro", como diz crônica sua no site "Socialismo e Liberdade". Sufoco que, aliás, o acompanhou quando mudou-se para o Rio, vindo de Belo Horizonte, nos anos 1960. Crítico de cinema, teve de começar com um emprego na Rede Ferroviária Federal.
Foi nessa época que incendiou um colchão depois de dormir com um cigarro "aceso para a última tragada", conta, noutra crônica. Acordou com a porta arrombada pelos bombeiros.
Escreveu para o "Pasquim" e no "Última Hora", publicou livros, trabalhou como editor na France Presse. Intelectual, foi amante do existencialismo de Sartre e da boemia regada a vodca. Era "calmíssimo, desapegado e feliz". Não tinha filhos. Morreu sozinho em seu apartamento, anteontem, aos 69, de ataque cardíaco.

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