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FLÁVIO PINTO VIEIRA (1939-2008)
O intelectual que foi trabalhar no Cairo
RICARDO GALLO
DA REDAÇÃO
Naqueles anos difíceis de
ditadura militar, Flávio Pinto Vieira estava decidido: era
hora de deixar o Brasil. "Único aprovado" entre 15 candidatos a uma vaga na rádio
Cairo, mandou-se com a mulher do Rio para o Egito e foi
ser "redator-locutor-tradutor" por dois anos.
Antes de partir, vendera a
TV comprada "à vista na rua
Uruguaiana", uma poltrona
de couro e algumas "edições
preciosas": lá se foram obras
de Baudelaire, Stendhal e
Cortázar. Era 1971, oportunidade de bom salário, de conhecer a Europa ("principalmente Paris"), de dar "adeus
ao governo militar de Médici" e "ao sufoco financeiro",
como diz crônica sua no site
"Socialismo e Liberdade".
Sufoco que, aliás, o acompanhou quando mudou-se
para o Rio, vindo de Belo Horizonte, nos anos 1960. Crítico de cinema, teve de começar com um emprego na Rede Ferroviária Federal.
Foi nessa época que incendiou um colchão depois de
dormir com um cigarro "aceso para a última tragada",
conta, noutra crônica. Acordou com a porta arrombada
pelos bombeiros.
Escreveu para o "Pasquim" e no "Última Hora",
publicou livros, trabalhou
como editor na France Presse. Intelectual, foi amante do
existencialismo de Sartre e
da boemia regada a vodca.
Era "calmíssimo, desapegado e feliz". Não tinha filhos.
Morreu sozinho em seu
apartamento, anteontem,
aos 69, de ataque cardíaco.
obituario@folhasp.com.br
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