São Paulo, terça-feira, 03 de dezembro de 2002

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VIOLÊNCIA

Suspeitos atuariam como seguranças do líder da facção Terceiro Comando, que é hoje o traficante mais procurado do Rio

Policiais pagos por Linho são investigados

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

Um levantamento reservado feito pela Cinpol (Coordenadoria de Inteligência da Polícia Civil do Rio) indica que 30 policiais militares de três batalhões, três policiais civis, dois policiais federais, agentes do Desipe (Departamento do Sistema Penitenciário) e oficiais do Corpo de Bombeiros estão atuando como seguranças do traficante mais procurado do Rio, Paulo César Silva dos Santos, o Linho, 30, líder da facção criminosa TC (Terceiro Comando).
Segundo as investigações da Cinpol, os policiais recebem salários mensais que variam entre R$ 10 mil e R$ 20 mil para proteger o criminoso toda vez que ele se desloca de um reduto para outro ou para outros Estados.
De acordo com a Cinpol, o esquema de segurança é montado até mesmo quando Linho vai a restaurantes ou boates.
Os nomes dos envolvidos estão sendo mantidos em sigilo para não atrapalhar o trabalho de apuração da polícia.
A Cinpol informou que os PMs suspeitos de participar do esquema trabalham no 22º, que é responsável pelo policiamento no complexo de favelas da Maré, principal reduto de Linho, no 9º (Rocha Miranda, zona norte) e no 21º (São João de Meriti, Baixada Fluminense) batalhões.

Deslocamento
O levantamento da Cinpol revela que o traficante passa pelo menos três dias da semana no Rio e os outros quatro entre os Estados de São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais, onde possui negócios. Segundo a polícia, Linho é dono de uma transportadora na capital paulista, que presta serviços também em Estados da região Sul.
Os agentes federais envolvidos com Linho, diz a Cinpol, facilitam o embarque do traficante em vôos nacionais nos aeroportos Santos Dumont (centro) e Internacional (Ilha do Governador, zona norte) ou a passagem dele por blitzes feitas por policiais rodoviários.
As investigações indicam que, quando está no Rio, Linho passa a maior parte do tempo no morro da Pedreira, em Costa Barros (zona norte), onde receberia proteção de policiais do 9º BPM.
A Polícia Civil está planejando realizar uma operação na favela para tentar capturar o traficante.
Segundo a Cinpol, Linho tem circulado também pelos redutos de Ernaldo Pinto de Medeiros, o Uê, traficante morto em rebelião no presídio Bangu 1 (zona oeste) em 11 de setembro, para oferecer apoio logístico e armamentos.
Com a morte de Uê, Linho passou a ser o maior rival de Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, já que atua também como atacadistas de drogas.
A Corregedoria Geral Unificada e a Subsecretaria de Inteligência da Secretaria Estadual de Segurança Pública também investigam informações passadas por um ex-traficante.
Segundo o informante, PMs de três batalhões ajudam a quadrilha de Linho a invadir redutos da facção rival CV (Comando Vermelho) em troca de propinas que variam de R$ 1,5 mil a R$ 10 mil. O informante está recebendo proteção da polícia.
Um dossiê elaborado pelo serviço Disque-Denúncia, que armazena informações sobre o suposto envolvimento de policiais com Linho, também está sendo investigado pela polícia.


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