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PÉ-DE-GUERRA
ONG diz que só diálogo encerra conflito
Moradores do Butantã pretendem expulsar travestis de ruas do bairro
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
Ruas do Butantã, zona sul de
São Paulo, foram transformadas
em palco de um briga ferrenha.
De um lado estão moradores e comerciantes. O outro lado começa
a chegar no fim da tarde: são mulheres e travestis que, há alguns
meses, começaram a se prostituir
no entorno da av. Vital Brasil.
Na última quinta-feira, mais de
cem pessoas se reuniram com representantes da prefeitura e das
polícias Civil e Militar, entre outros órgãos, para encontrar uma
forma de expulsar o novo público
da região. Entre as propostas, surgiu até mesmo a idéia de fotografar os carros dos clientes dos travestis para enviar as fotos de maridos infiéis a suas famílias.
"Há quatro meses tenho que tomar Lexotan para dormir, porque
elas ficam conversando, dando
gritos e rindo na frente do meu
portão. E toda manhã tem camisinha no chão da frente da minha
casa", diz a comerciante Joana
-os nomes são fictícios, a pedido
dos organizadores da reunião.
O comerciante João, por exemplo, diz já ter sido vítima de vingança. Ele conta que discutiu com
um travesti que estava na frente
de sua casa e na manhã seguinte
encontrou seu carro -que fica
estacionado na rua- com a pintura destruída.
"O nosso papel a gente está fazendo. O problema agora é de legislação. Enquanto ela não mudar, vamos ficar discutindo a
mesma coisa", disse o delegado
Marcos Gomes de Moura, do 51º
DP, no Butantã.
Para o travesti Alcione Carvalho, presidente da ONG Associação dos Profissionais do Sexo de
São Paulo, o conflito no Butantã
só será resolvido se houver diálogo entre os moradores e os travestis e prostitutas, que devem ser
chamados para as reuniões. "As
soluções têm que ser encontradas
em conjunto. A gente pode ter um
trabalho educativo, para ensinar a
falar mais baixo, não jogar preservativo no chão, mas para isso é
preciso conversa. Se for no grito,
ninguém consegue nada e o conflito continuará", diz.
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