São Paulo, sexta-feira, 04 de janeiro de 2002

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SISTEMA PRISIONAL

Contagem repetida de corpos e informações erradas de presos teriam levado ao número inicial, de 45 mortes

Levantamento final indica 27 mortos em RO

FERNANDA KRAKOVICS
DA AGÊNCIA FOLHA

Após ter divulgado a morte de 45 presos no presídio Doutor José Mário Alves da Silva, o Urso Branco, na madrugada de anteontem, em Porto Velho, o governo de Rondônia voltou atrás e reduziu o número para 27.
As mortes foram causadas por uma briga entre facções rivais. Segundo peritos do IML (Instituto Médico Legal), os presos foram mortos com golpes nas costas de armas artesanais ("chucho"). Um corpo estava decapitado, alguns não tinham pernas ou braços.
O governador em exercício, Miguel de Souza (PFL), disse que a confusão deveu-se à contagem repetida de corpos e a informações dadas por presos. O governador José Bianco (PFL) está em férias até dia 30. "Ele está no Brasil acompanhando de longe."
O estopim teria sido uma restrição da circulação no presídio. O juiz Arlen de Souza, responsável pela medida, pediu ontem a apuração das mortes porque a ordem judicial teria sido "desvirtuada".
Em nota, ele diz que a ordem era "somente recolher em cárcere os presos que tinham trânsito livre no interior do presídio, e não transferir apenados que se encontravam no seguro (ameaçados de morte) para celas dos pavilhões".
Na madrugada de anteontem, os rebelados derrubaram as paredes das celas onde estavam os detentos no seguro e começaram a matá-los. O arcebispo de Porto Velho, dom Moacir Grechi, disse que já havia alertado para a iminência de "carnificina" no local.
O presídio abrigava 843 detentos, e sua capacidade é para 360.
Segundo a diretoria de segurança da penitenciária, na revista após a chacina foram encontrados dois revólveres calibre 38, munição e cem "chuchos". Em reunião ontem do Comitê de Gestão de Crises, composto por representantes da Vara de Execuções Penais, OAB, Polícia Militar e Arquidiocese de Porto Velho, foi proposta a desativação do local.
A secretária nacional de Justiça, Elizabeth Sussekind, disse ontem que Rondônia não recebeu verbas da União para presídios em 2001 por estar inadimplente com a prestação das contas de 2000.
Segundo ela, só em 26 de dezembro as contas foram aprovadas. Ela vai hoje para Porto Velho.


Colaborou a Sucursal de Brasília


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