São Paulo, terça-feira, 04 de janeiro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SOB SUSPEITA

Gestão Alckmin diz que policial suspeito de corrupção não foi condenado e, portanto, merece voto de confiança

Governo mantém delegado acusado no cargo

ALEXANDRE HISAYASU
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo Geraldo Alckmin (PSDB) decidiu manter o delegado Wagner Giudice na direção da Divisão Anti-Seqüestro, apesar de ele ter sido denunciado pelo Ministério Público à Justiça sob acusação de crime de corrupção. O caso deve ser analisado em 15 dias pela 24ª Vara Criminal. Giudice diz que a denúncia é mentirosa.
Ontem, o delegado -que integra a elite da Polícia Civil- colocou o seu cargo à disposição. Mas o pedido não foi aceito pela cúpula da polícia de São Paulo, com respaldo da Secretaria da Segurança Pública e do gabinete do governador. A avaliação é que ele ainda não foi julgado e, portanto, merece voto de confiança.
O delegado Giudice foi denunciado na semana passada pelo promotor Gabriel Inellas, do Gecep (Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial), sob acusação de ter recebido dinheiro do professor de direito civil da USP Alcides Tomasetti Júnior para não indiciá-lo no inquérito policial que investigou a morte da mulher dele, a procuradora do Estado Denise Piovani, em dezembro de 1996.
O processo sobre a morte de Denise ainda tramita na Justiça. Em agosto de 2002, a Promotoria decidiu impronunciar (não levar a júri) o professor Tomasetti, por falta de provas. Os advogados da família da vítima recorreram ao Tribunal de Justiça, que ainda não julgou o caso.
O professor alega que sua mulher se suicidou, mas acabou indiciado sob acusação de homicídio pelo delegado Eduardo Camargo Lima, que substituiu Giudice. Tomasetti não foi localizado pela Folha. O seu advogado, Eduardo Carnelós, segundo a funcionária de seu escritório, não comentaria o caso porque está viajando.
Também foram denunciados pela Promotoria por crime de corrupção o perito Paulo Villa Hutterer e o ex-escrivão Marcelo Rodrigues Dantas. O primeiro disse, por meio da assessoria da Secretaria da Segurança Pública, que não comentaria o caso. Rodrigues Dantas não foi localizado pela reportagem. Os dois eram subordinados de Giudice na época das investigações.

Contas bancárias
O Ministério Público diz que o delegado tinha movimentação bancária incompatível com seu salário durante o caso. Segundo o promotor Inellas, quantias correspondentes a valores que saíam da conta de Tomasetti Júnior apareciam nas dos acusados.
O promotor Inellas afirma ainda na denúncia "que, em virtude da corrupção ativa cometida por Alcides Tomasetti, do suborno, das vantagens pecuniárias indevidas, recebidas continuamente, o delegado de polícia Wagner Giudice, aos 14 de julho de 1997, adquiriu para si o apartamento designado pelo preço de R$ 36.291". O imóvel fica no bairro do Paraíso, na zona sul da capital paulista. Segundo o promotor, foram analisados os extratos bancários e as declarações de imposto de renda do delegado da Divisão Anti-Seqüestro. "São quantias incompatíveis com o seu salário", disse.
A Folha procurou o governador para comentar o caso. Sua assessoria disse que o secretário da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, falaria sobre o assunto. A secretaria divulgou nota oficial e escalou o delegado-geral Marco Antônio Desgualdo para falar com a reportagem. "Não vou pré-julgá-lo", afirmou Desgualdo.
Desgualdo confirmou que foi procurado por Giudice. "O melhor a fazer é aguardar a decisão da Justiça até para saber se não houve precipitação na denúncia."


Texto Anterior: Justiça: Liminar impede mudança em escola de SP
Próximo Texto: "Ele é da minha confiança", diz chefe da polícia
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.