São Paulo, quarta-feira, 04 de janeiro de 2006

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ACIDENTE

Matheus de Almeida, 10, recebeu alta ontem após escapar de queda de avião bimotor na serra da Cantareira

"Tive medo de me perder", relata garoto sobrevivente

DA REPORTAGEM LOCAL
DO "AGORA"

Um dia depois de ter sobrevivido a uma queda de avião em plena mata, Matheus de Almeida, 10, contou detalhes do acidente que causou a morte de duas pessoas -entre elas a de seu pai, o piloto Rodinei de Almeida, 40.
"Eu estava dormindo [na parte de trás da aeronave]. Acordei com uma tremedeira no avião, lembro de uma mala [pegando fogo] que veio na minha cabeça. Tirei o cinto [de segurança] e o amigo do meu pai [o empresário Antônio Celso Cortez] me empurrou para fora [do bimotor]. Eu caí no barranco, fui rolando lá para baixo, mas subi de novo e tirei o cinto [de segurança] dele [o empresário]. Aí ele conseguiu sair também, e a gente foi procurar ajuda", relatou.
Ele também recordou o fato de o empresário lhe pedir garrafas de água para apagar o fogo que começava a consumir o avião.
O garoto conversou com a imprensa no intervalo da realização de exames no Hospital Geral de Taipas, onde recebeu alta, por volta das 14h. Matheus estava acompanhado da mãe, Giselly Mageri Semler, 38.
Apesar do acidente, ele disse não ter ficado com medo de avião e, segundo sua mãe, era com esse meio de transporte que voltariam para Campo Grande (MS), onde moram. Mas ele não sonha em ser piloto como o pai: seu desejo é ser peão boiadeiro.
Matheus afirma ter ficado com um pouco de receio de andar na mata fechada e de se perder. Mas, mesmo assim, guiou Cortez, que havia perdido os óculos, pela serra da Cantareira.
"Passavam helicópteros, mas eles não viam a gente. Até que subi numa pedra e vi que tinha uma casa perto", contou.
O garoto dormia no avião e, quando ocorreu a queda, diz ter ficado "meio tonto". "Mas, depois que saí, bati a cabeça, acordei um pouco e fui tirar o Antônio."
A parte mais difícil do dia, de acordo com ele, foi durante a busca por socorro. "Quando ouvia barulho de carros, corria no sentido deles, mas aí o barulho ia para o outro lado", afirma.
Pela manhã, Matheus recebeu a visita de Anderson Alves, 35, e seu enteado Nadson, 13 -que o encontraram na mata após o acidente e chamaram o resgate.
Sua mãe diz que agora Matheus terá duas comemorações de aniversário: uma no dia 1º de dezembro, data em que nasceu, e outra no dia 2 de janeiro, quando "renasceu", ao sair ileso do acidente.
"Foi um milagre. Ele está superbem. Não quebrou nada, nem um dedinho", diz. Segundo ela, o filho ficou menos machucado do que quando levou um tombo de bicicleta, dias atrás.
O garoto, entretanto, mostrou arranhões no joelho e na mão. Antes de ter alta, ele foi submetido a uma ultra-sonografia e a uma tomografia de abdômen. Também precisou fazer raio-X de tórax, crânio e abdômen.
Giselly contou ao filho, na noite de anteontem, sobre a morte do pai. E afirma que, no fundo, ele já sabia que isso havia acontecido.
"A primeira coisa que me perguntou foi com quem iria morar", conta a mãe, que era separada do pai do menino.
Matheus e suas duas irmãs moravam com o pai. As crianças devem ficar com a mãe agora. A segunda questão que passou pela cabeça de Matheus, segundo Giselly, foi quem iria pagar pelo avião destruído. Matheus é o filho caçula e cursará a 4ª série do ensino fundamental neste ano. Após receber alta, ele seguiu para o IML (Instituto Médico Legal). De lá, segundo sua mãe, "pegaria o primeiro vôo" para Campo Grande.

Causas
O tenente-coronel Carlos Henrique Nogueira, do Serviço Regional de Aviação Civil, diz que as investigações sobre as causas do acidente continuam. Ontem, uma equipe voltou ao local do acidente para obter mais dados.
Segundo ele, as condições de vôo estavam prejudicadas no momento do acidente em razão do mau tempo.


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