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ACIDENTE
Matheus de Almeida, 10, recebeu alta ontem após escapar de queda de avião bimotor na serra da Cantareira
"Tive medo de me perder", relata garoto sobrevivente
DA REPORTAGEM LOCAL
DO "AGORA"
Um dia depois de ter sobrevivido a uma queda de avião em plena mata, Matheus de Almeida, 10,
contou detalhes do acidente que
causou a morte de duas pessoas
-entre elas a de seu pai, o piloto
Rodinei de Almeida, 40.
"Eu estava dormindo [na parte
de trás da aeronave]. Acordei com
uma tremedeira no avião, lembro
de uma mala [pegando fogo] que
veio na minha cabeça. Tirei o cinto [de segurança] e o amigo do
meu pai [o empresário Antônio
Celso Cortez] me empurrou para
fora [do bimotor]. Eu caí no barranco, fui rolando lá para baixo,
mas subi de novo e tirei o cinto
[de segurança] dele [o empresário]. Aí ele conseguiu sair também, e a gente foi procurar ajuda", relatou.
Ele também recordou o fato de
o empresário lhe pedir garrafas de
água para apagar o fogo que começava a consumir o avião.
O garoto conversou com a imprensa no intervalo da realização
de exames no Hospital Geral de
Taipas, onde recebeu alta, por
volta das 14h. Matheus estava
acompanhado da mãe, Giselly
Mageri Semler, 38.
Apesar do acidente, ele disse
não ter ficado com medo de avião
e, segundo sua mãe, era com esse
meio de transporte que voltariam
para Campo Grande (MS), onde
moram. Mas ele não sonha em ser
piloto como o pai: seu desejo é ser
peão boiadeiro.
Matheus afirma ter ficado com
um pouco de receio de andar na
mata fechada e de se perder. Mas,
mesmo assim, guiou Cortez, que
havia perdido os óculos, pela serra da Cantareira.
"Passavam helicópteros, mas
eles não viam a gente. Até que subi numa pedra e vi que tinha uma
casa perto", contou.
O garoto dormia no avião e,
quando ocorreu a queda, diz ter
ficado "meio tonto". "Mas, depois
que saí, bati a cabeça, acordei um
pouco e fui tirar o Antônio."
A parte mais difícil do dia, de
acordo com ele, foi durante a busca por socorro. "Quando ouvia
barulho de carros, corria no sentido deles, mas aí o barulho ia para
o outro lado", afirma.
Pela manhã, Matheus recebeu a
visita de Anderson Alves, 35, e seu
enteado Nadson, 13 -que o encontraram na mata após o acidente e chamaram o resgate.
Sua mãe diz que agora Matheus
terá duas comemorações de aniversário: uma no dia 1º de dezembro, data em que nasceu, e outra
no dia 2 de janeiro, quando "renasceu", ao sair ileso do acidente.
"Foi um milagre. Ele está superbem. Não quebrou nada, nem um
dedinho", diz. Segundo ela, o filho
ficou menos machucado do que
quando levou um tombo de bicicleta, dias atrás.
O garoto, entretanto, mostrou
arranhões no joelho e na mão.
Antes de ter alta, ele foi submetido
a uma ultra-sonografia e a uma
tomografia de abdômen. Também precisou fazer raio-X de tórax, crânio e abdômen.
Giselly contou ao filho, na noite
de anteontem, sobre a morte do
pai. E afirma que, no fundo, ele já
sabia que isso havia acontecido.
"A primeira coisa que me perguntou foi com quem iria morar",
conta a mãe, que era separada do
pai do menino.
Matheus e suas duas irmãs moravam com o pai. As crianças devem ficar com a mãe agora. A segunda questão que passou pela
cabeça de Matheus, segundo Giselly, foi quem iria pagar pelo
avião destruído. Matheus é o filho
caçula e cursará a 4ª série do ensino fundamental neste ano. Após
receber alta, ele seguiu para o IML
(Instituto Médico Legal). De lá,
segundo sua mãe, "pegaria o primeiro vôo" para Campo Grande.
Causas
O tenente-coronel Carlos Henrique Nogueira, do Serviço Regional de Aviação Civil, diz que as
investigações sobre as causas do
acidente continuam. Ontem, uma
equipe voltou ao local do acidente
para obter mais dados.
Segundo ele, as condições de
vôo estavam prejudicadas no momento do acidente em razão do
mau tempo.
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