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Banhistas esvaziam parte de lago na Juréia no feriado
Usando pás, grupo cavou uma vala até o mar para provocar pororoca artificial
Polícia Civil de São Sebastião investiga caso; dois participantes negam crime ambiental e dizem que objetivo era se divertir
DE SÃO SEBASTIÃO
Um grupo de cerca de 15 banhistas esvaziou boa parte do
lago da Juréia, em São Sebastião, no litoral norte de São
Paulo, no feriado do dia 1º de janeiro, sem o consentimento
das autoridades ambientais locais. Usando pás, eles cavaram
uma vala entre o lago e a praia,
para fazer uma pororoca artificial para surfar.
A Polícia Civil de São Sebastião investiga o caso. Dois participantes da ação negaram à Folha ter ocorrido crime ambiental e disseram que o objetivo
era se divertir.
A força das águas da pororoca
artificial chegou a arrastar um
homem, que teve de ser resgatado, e duas famílias com crianças ficaram mais de uma hora
isoladas numa das margens.
A pororoca é o encontro das
águas de um rio com o mar, que
causa fortes ondas e costuma
atrair surfistas. A mais conhecida é a do rio Amazonas. Geralmente, os esportistas usam
pororocas naturais, já que é
proibido provocá-las, para evitar danos ao ambiente.
Sem licença
Para o promotor de Justiça
do Meio Ambiente de São Sebastião, Bruno Márcio de Azevedo, intervenções sem licenças ambientais são ações criminosas. "Se for confirmado o crime, eles poderão ser processados no campo civil e terão que
pagar pelo dano ambiental,
mas também penalmente."
Segundo ele, o artigo 54 da
Lei de Crimes Ambientais (lei
9.605/98) prevê reclusão de
um a quatro anos, mais multa a
ser fixada. Um laudo técnico terá de comprovar o dano.
O perito Humberto Mattazo,
da Polícia Científica de São Sebastião, disse que será preciso
acionar especialistas da Secretaria do Meio Ambiente para
apurar os prejuízos ambientais.
Incorporadoras
"Fiz isso porque sou homem
e porque isso é areia. Isso não é
crime ambiental", disse Pedro
Nitsche, 31, um dos banhistas
que participaram das escavações. Segundo ele, o objetivo
era se divertir. "Quem comete
crimes ambientais são as incorporadoras que constroem condomínios", afirmou.
"Isso aconteceria com ou
sem nossa interferência, porque o rio estava cheio por causa
das chuvas. Portanto, estava
prestes a romper", disse João
Nitsche, 27, irmão de Pedro,
que também surfava na pororoca artificial.
Na avaliação do diretor da
Samoju (Sociedade de Amigos
da Juréia), Luis Atier, o maior
prejuízo foi para os animais, já
que é época de desova dos peixes da lagoa.
"Ao estourarem a lagoa, eles
liberaram uma grande quantidade de matéria orgânica em
decomposição, o que provocou
mortandade de peixes e prejuízos ambientais", disse a médica
Liane Beringhs, que é pesquisadora de contaminação ambiental do Instituto Brasileiro de
Pesquisas Louis Blanc. Ela passava o feriado na praia e presenciou o fato.
Chamada às 15h pela Samoju,
a Polícia Civil só apareceu às
20h, quando os banhistas já haviam deixado a praia. O delegado José Manuel Cardoso do
Amaral, de Juqueí, registrou a
ocorrência no dia seguinte e
disse que disse investigar o caso. A Polícia Ambiental, também acionada no mesmo horário, não foi por falta de veículo.
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