São Paulo, segunda-feira, 04 de janeiro de 2010

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Destruição emerge da cidade quase toda alagada

Em visita a São Luiz, Serra afirma que governo vai mapear prejuízo histórico

Tucano diz que não deixará de tentar a recuperação dos imóveis tombados que foram destruídos; Carnaval é cancelado pela prefeita

DO ENVIADO ESPECIAL A SÃO LUIZ DO PARAITINGA

O centro histórico de São Luiz do Paraitinga começou a emergir ontem. Paus, pedras, tijolos e fios retorcidos davam os contornos do esqueleto de um dos maiores conjuntos de arquitetura histórica do país. O cenário é de destruição. A perspectiva, desanimadora. Segundo a própria administração municipal, dos 90 prédios tombados pelo Condephaat (órgão responsável pelo patrimônio histórico do Estado), 80% deles não vão escapar da destruição.
O centro histórico é preservado oficialmente desde 1982. "É um patrimônio colonial bastante significativo. Inclusive, estava sendo tombado também pelo Iphan [Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional], na esfera federal", disse Maria Tereza Luchiari, pesquisadora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e especialista em estudos sobre tombamentos de prédios.
A maior parte das construções nos arredores da praça Oswaldo Cruz -o médico sanitarista é um dos filhos ilustres da cidade, como o geógrafo Aziz Ab'Saber-, tinha fundações feitas de barro, característica dos imóveis construídos durante o século 19 e início do 20. Por isso, as estruturas não aguentaram a enxurrada. A igreja matriz de São Luiz de Tolosa, que ruiu no sábado, era do início do século 20.
A Defesa Civil só concluirá o levantamento de casas interditadas quando as águas voltarem ao nível normal, o que deve ocorrer amanhã, se não chover. Estão cobertos pela água, segundo autoridades municipais, pelo menos 600 imóveis. A estimativa do prejuízo na cidade supera os R$ 100 milhões.
São Luiz do Paraitinga, com seus 10.908 habitantes, foi atingida por forte chuva na virada do ano. Na madrugada de sábado, o volume de água elevou em nove metros o nível do rio Paraitinga e cobriu a região central, onde está a maior parte dos imóveis tombados.
Cerca de 5.000 moradores ficaram desalojados. Um número próximo disso está isolado na região do Alto do Cruzeiro. Desses moradores, cerca de 1.500 foram resgatados por botes e helicópteros da polícia e do Exército. A maioria era de mulheres, crianças e idosos. Nem todos deixaram suas casas, pois desde a noite de sábado começaram os saques em residências vazias. Na região, falta água potável. Não há luz e muito menos telefone. Alimentos e remédios também eram itens escassos até ontem, quando começou a distribuição.

Carnaval
O tradicional Carnaval de Paraitinga, uma das principais fontes de renda da cidade, que atrai foliões de todo o país, não será realizado este ano por causa das chuvas. O governador José Serra (PSDB), ontem em visita à cidade, ofereceu ajuda para tentar realizar o evento, que reúne 240 mil pessoas.
A prefeita Ana Lúcia Sicherle (PSDB) disse que não há clima para festa. Segundo ela, no Carnaval, a ideia é fazer um ato de solidariedade a desabrigados. Serra disse que vai pedir à Secretaria de Estado da Cultura uma análise de como pode ajudar na recuperação do patrimônio histórico do município. Ontem, cerca de 300 pessoas participavam das equipes de apoio e resgate. Uma das estradas que ligam o município a Ubatuba, a Oswaldo Cruz, deve ter a liberação parcial amanhã. Ontem, nos arredores da cidade, houve deslizamentos. Uma pessoa está desaparecida.


Colaborou EDUARDO GERAQUE da Reportagem Local

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