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Destruição emerge da cidade quase toda alagada
Em visita a São Luiz, Serra afirma que governo vai mapear prejuízo histórico
Tucano diz que não deixará de tentar a recuperação dos imóveis tombados que foram destruídos; Carnaval é cancelado pela prefeita
DO ENVIADO ESPECIAL A SÃO LUIZ DO
PARAITINGA
O centro histórico de São
Luiz do Paraitinga começou a
emergir ontem. Paus, pedras,
tijolos e fios retorcidos davam
os contornos do esqueleto de
um dos maiores conjuntos de
arquitetura histórica do país.
O cenário é de destruição. A
perspectiva, desanimadora. Segundo a própria administração
municipal, dos 90 prédios tombados pelo Condephaat (órgão
responsável pelo patrimônio
histórico do Estado), 80% deles
não vão escapar da destruição.
O centro histórico é preservado oficialmente desde 1982.
"É um patrimônio colonial bastante significativo. Inclusive,
estava sendo tombado também
pelo Iphan [Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional], na esfera federal", disse
Maria Tereza Luchiari, pesquisadora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e
especialista em estudos sobre
tombamentos de prédios.
A maior parte das construções nos arredores da praça Oswaldo Cruz -o médico sanitarista é um dos filhos ilustres da
cidade, como o geógrafo Aziz
Ab'Saber-, tinha fundações
feitas de barro, característica
dos imóveis construídos durante o século 19 e início do 20.
Por isso, as estruturas não
aguentaram a enxurrada. A
igreja matriz de São Luiz de Tolosa, que ruiu no sábado, era do
início do século 20.
A Defesa Civil só concluirá o
levantamento de casas interditadas quando as águas voltarem
ao nível normal, o que deve
ocorrer amanhã, se não chover.
Estão cobertos pela água, segundo autoridades municipais,
pelo menos 600 imóveis. A estimativa do prejuízo na cidade
supera os R$ 100 milhões.
São Luiz do Paraitinga, com
seus 10.908 habitantes, foi atingida por forte chuva na virada
do ano. Na madrugada de sábado, o volume de água elevou em
nove metros o nível do rio Paraitinga e cobriu a região central, onde está a maior parte
dos imóveis tombados.
Cerca de 5.000 moradores ficaram desalojados. Um número próximo disso está isolado
na região do Alto do Cruzeiro.
Desses moradores, cerca de
1.500 foram resgatados por botes e helicópteros da polícia e
do Exército. A maioria era de
mulheres, crianças e idosos.
Nem todos deixaram suas casas, pois desde a noite de sábado começaram os saques em residências vazias. Na região, falta água potável. Não há luz e
muito menos telefone. Alimentos e remédios também eram
itens escassos até ontem, quando começou a distribuição.
Carnaval
O tradicional Carnaval de Paraitinga, uma das principais
fontes de renda da cidade, que
atrai foliões de todo o país, não
será realizado este ano por causa das chuvas. O governador
José Serra (PSDB), ontem em
visita à cidade, ofereceu ajuda
para tentar realizar o evento,
que reúne 240 mil pessoas.
A prefeita Ana Lúcia Sicherle
(PSDB) disse que não há clima
para festa. Segundo ela, no Carnaval, a ideia é fazer um ato de
solidariedade a desabrigados.
Serra disse que vai pedir à Secretaria de Estado da Cultura
uma análise de como pode ajudar na recuperação do patrimônio histórico do município.
Ontem, cerca de 300 pessoas
participavam das equipes de
apoio e resgate. Uma das estradas que ligam o município a
Ubatuba, a Oswaldo Cruz, deve
ter a liberação parcial amanhã.
Ontem, nos arredores da cidade, houve deslizamentos. Uma
pessoa está desaparecida.
Colaborou EDUARDO GERAQUE
da Reportagem Local
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