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EDUCAÇÃO
Secretaria das Finanças faz liberação de verbas de última hora para tentar se aproximar do que a lei determina
SP tenta 'legalizar' gasto com ensino
FERNANDO ROSSETTI
da Reportagem Local
A educação da cidade de São
Paulo terminou 98 na mesma situação dos três anos anteriores:
com uma espécie de caixa-preta
em torno dos números relacionados aos investimentos no ensino.
E, como antes, há vários indicativos de que a rede municipal recebeu menos do que deveria.
O gabinete do vereador Nelson
Proença (PSDB) -um dos especialistas da Câmara na área de estatísticas envolvendo o orçamento
municipal- estima que o investimento no ensino em 1998 vai ficar
em 27,1% dos impostos e transferências (recursos que a cidade recebe dos níveis estadual e federal).
A Lei Orgânica do Município estabelece que a cidade deve investir
em educação 30% da arrecadação
e transferências. Em 97, a caixa-preta foi tamanha que até hoje
corre ação na Justiça questionando os gastos do prefeito Celso Pitta
(PPB). Paulo Maluf (PPB) descumpriu a lei em 95 e 96.
A área técnica da vereadora Ana
Maria Quadros (PSDB), ex-dirigente da Apase (sindicato dos supervisores de ensino), calcula que
o investimento em 98 vai ficar em
25,3%. O Sinpeem (sindicato dos
professores da rede), cujo presidente Claudio Fonseca é do PC do
B, estima "menos de 25%". A liderança do PT na Câmara, 23%.
Embora divergentes, são estimativas bem fundadas que aplicam,
sobre os dados orçamentários de
1998 que a prefeitura apresentou
até o dia 31, a fórmula usada em
1997 para provar um investimento
de 30,4% na educação.
Fora da meta
Nas quatro estimativas de oposicionistas, mesmo que se incluam
como gastos da educação despesas
que a legislação não considera
atribuíveis à área (leia quadro nesta página), não dá para se chegar
aos 30% exigidos.
O secretário municipal das Finanças, José Antônio de Freitas
"vai ter de fazer alguma mágica
para conseguir fechar as contas de
98", diz Claudio Fonseca.
Freitas afirma, pela assessoria de
imprensa, que só é possível apresentar dados consistentes sobre a
execução orçamentária a partir do
dia 11 de janeiro -data proposta
por ele para uma entrevista pedida
na segunda-feira passada, dia 28
de dezembro. Vereadores da situação afirmam que Pitta seguiu a
lei (leia texto nesta página).
De última hora
O que se vê no "Diário Oficial"
do Município é uma liberação de
recursos de última hora para a
educação. Só no dia 28 de dezembro, foram liberados cerca de R$
43 milhões -o que dá em torno
de 0,8% da arrecadação de 98, segundo o PT.
Esse repasse vai ajudar Freitas a
fechar uma prestação de contas
mais próxima do que manda a lei.
As despesas com aposentados e
pensionistas mostram como são
amplas as possibilidades de o secretário das Finanças atribuir à
educação outros tipos de gastos.
A legislação atual veda a inclusão de aposentados e pensionistas
no investimento em educação,
por exemplo. Mas a prefeitura faz
uma interpretação diferente dessa
legislação. Como o Tribunal de
Contas do Município aceita, é essa
interpretação que acaba valendo.
Outras áreas
Além disso, a Secretaria das Finanças inclui entre os aposentados da educação pessoal de outras
secretarias que prestam serviço ao
ensino, como a Cultura. O resultado é que 48% dos recursos que a
prefeitura gasta nessa área são
atribuídos à educação.
Os gastos com aposentados da
educação também oscilam muito
nas prestações de contas do governo. Até agosto, os professores do
ensino fundamental tinham consumido 29% do total gasto com
aposentados da prefeitura. No
projeto orçamentário para 1999,
consumirão só 21%.
Cada um desses pontos percentuais representa cerca de R$ 7 milhões. A diferença de oito pontos
percentuais entre a declaração de
agosto e a previsão de 1999 representa um total de recursos suficiente para construir 56 escolas
-o que daria para resolver definitivamente o problema de falta de
vagas no ensino do município.
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