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São Paulo, terça-feira, 04 de fevereiro de 2003

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TRANSPORTE

Para prefeitura, ação "tem características de locaute'; paralisação confronta o TRT; rodízio deve ser suspenso

Motoristas de ônibus devem manter greve

Ayrton Vignola/Folha Imagem
Usuários tentam embarcar em ônibus lotado na av. Padre José Maria, zona sul de SP, ontem, quando a greve prejudicou 3,5 mi de pessoas


ALENCAR IZIDORO
PALOMA COTES

DA REPORTAGEM LOCAL

Os motoristas e cobradores de ônibus de São Paulo começaram uma paralisação geral ontem para discutir pendências trabalhistas e pressionar por mudanças na licitação do futuro sistema de transporte coletivo -cuja entrega dos envelopes estava marcada para ontem, mas que teve sua continuidade suspensa pela prefeitura.
O movimento coincidiu com os interesses das viações paulistanas, que também defendem mudanças na concorrência e pretendem postergá-la. O vice-prefeito Hélio Bicudo, em nota oficial, disse que a greve "tem características de locaute". O secretário dos Transportes, Jilmar Tatto, reforçou essa acusação. "Há uma parceria entre empresários e sindicato dos trabalhadores. Foi uma ação para não permitir que essa fase de transição funcione", afirmou Tatto.
A paralisação deve seguir hoje, embora haja determinação do TRT (Tribunal Regional do Trabalho) para a manutenção de 80% da frota nos horários de pico (das 5h às 8h e das 17h às 20h) e de 60% no resto do dia, sob pena de multa diária de R$ 50 mil aos responsáveis -0,8% da arrecadação dos ônibus paulistanos nos dias úteis.
Segundo a SPTrans (São Paulo Transporte, órgão municipal que gerencia o setor), 90% dos veículos não rodaram ontem, prejudicando 3,5 milhões de passageiros. Todos os 14 terminais ficaram fechados. Foram depredados 79 ônibus das quatro viações que circularam (39 operam na capital).
A greve foi a maior desde junho. Neste ano, é a terceira, menos de um mês depois do reajuste da tarifa de R$ 1,40 para R$ 1,70. A continuidade da paralisação deve ser discutida hoje à tarde pelos motoristas e cobradores, depois de uma audiência de conciliação no TRT, às 13h. Se for confirmada a adesão à greve pela manhã, a prefeitura voltará a suspender as regras do rodízio de veículos, do cartão zona azul e da proibição nos corredores de ônibus.

Motivos
A greve dos trabalhadores acontece num momento em que nenhuma empresa de ônibus mantém salários atrasados. O pagamento é previsto para amanhã.
A categoria decretou a paralisação sob a alegação de pendências trabalhistas antigas. Por exemplo, a falta de recolhimento do FGTS.
O presidente do sindicato dos condutores, Edivaldo Santiago, reconheceu ontem, porém, que um dos objetivos da mobilização é trazer mudanças na licitação que a prefeitura quer concluir para selecionar novos operadores do transporte por até 25 anos.
"Aproveitamos esse momento para colocar os problemas do edital. Não podemos permitir que haja uma mudança no sistema -que o modernize- na qual os trabalhadores fiquem em uma situação pior que a de hoje. Se vai mudar, os trabalhadores também têm que usufruir dos benefícios."
Santiago quer uma solução da gestão Marta Suplicy para as dívidas trabalhistas de viações que deixaram de operar -de Romero Niquini, que teve seus contratos rescindidos em 2002, e de Wagner de Almeida Vieira, que entregou as linhas da América do Sul na última sexta. As pendências com 9.000 trabalhadores são estimadas em R$ 18 milhões.
O sindicalista diz temer que, com a implantação do novo sistema de transporte, os condutores fiquem sem esses direitos. Uma alternativa, afirma, é incluir essa dívida na licitação, para que seja bancada por quem assumir as áreas. Ele cobra ainda garantia imediata de que as viações depositarão os encargos trabalhistas.
As reivindicações não foram atendidas por Jilmar Tatto, que descartou a possibilidade de injetar recursos para resolver esses problemas ou fazer mudanças na licitação. "Não vamos ceder, não vamos aceitar essa pressão, não vamos usar dinheiro público para bancar empresários incompetentes", disse Tatto, que propôs apenas a criação de uma comissão entre prefeitura, viações e condutores para discutir esses temas.
Os empresários de ônibus dizem reconhecer os direitos dos motoristas, mas rebatem com veemência a acusação de locaute. "Não aceito essa acusação. O prejuízo com a greve é extraordinário. A receita de hoje vai fazer muita falta amanhã", disse Sérgio Pavani, presidente do Transurb.



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