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TRANSPORTE
Para prefeitura, ação "tem características de locaute'; paralisação confronta o TRT; rodízio deve ser suspenso
Motoristas de ônibus devem manter greve
Ayrton Vignola/Folha Imagem
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Usuários tentam embarcar em ônibus lotado na av. Padre José Maria, zona sul de SP, ontem, quando a greve prejudicou 3,5 mi de pessoas |
ALENCAR IZIDORO
PALOMA COTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Os motoristas e cobradores de
ônibus de São Paulo começaram
uma paralisação geral ontem para
discutir pendências trabalhistas e
pressionar por mudanças na licitação do futuro sistema de transporte coletivo -cuja entrega dos
envelopes estava marcada para
ontem, mas que teve sua continuidade suspensa pela prefeitura.
O movimento coincidiu com os
interesses das viações paulistanas,
que também defendem mudanças na concorrência e pretendem
postergá-la. O vice-prefeito Hélio
Bicudo, em nota oficial, disse que
a greve "tem características de locaute". O secretário dos Transportes, Jilmar Tatto, reforçou essa
acusação. "Há uma parceria entre
empresários e sindicato dos trabalhadores. Foi uma ação para
não permitir que essa fase de transição funcione", afirmou Tatto.
A paralisação deve seguir hoje,
embora haja determinação do
TRT (Tribunal Regional do Trabalho) para a manutenção de 80%
da frota nos horários de pico (das
5h às 8h e das 17h às 20h) e de 60%
no resto do dia, sob pena de multa
diária de R$ 50 mil aos responsáveis -0,8% da arrecadação dos
ônibus paulistanos nos dias úteis.
Segundo a SPTrans (São Paulo
Transporte, órgão municipal que
gerencia o setor), 90% dos veículos não rodaram ontem, prejudicando 3,5 milhões de passageiros.
Todos os 14 terminais ficaram fechados. Foram depredados 79
ônibus das quatro viações que circularam (39 operam na capital).
A greve foi a maior desde junho.
Neste ano, é a terceira, menos de
um mês depois do reajuste da tarifa de R$ 1,40 para R$ 1,70. A continuidade da paralisação deve ser
discutida hoje à tarde pelos motoristas e cobradores, depois de
uma audiência de conciliação no
TRT, às 13h. Se for confirmada a
adesão à greve pela manhã, a prefeitura voltará a suspender as regras do rodízio de veículos, do
cartão zona azul e da proibição
nos corredores de ônibus.
Motivos
A greve dos trabalhadores acontece num momento em que nenhuma empresa de ônibus mantém salários atrasados. O pagamento é previsto para amanhã.
A categoria decretou a paralisação sob a alegação de pendências
trabalhistas antigas. Por exemplo,
a falta de recolhimento do FGTS.
O presidente do sindicato dos
condutores, Edivaldo Santiago,
reconheceu ontem, porém, que
um dos objetivos da mobilização
é trazer mudanças na licitação
que a prefeitura quer concluir para selecionar novos operadores
do transporte por até 25 anos.
"Aproveitamos esse momento
para colocar os problemas do edital. Não podemos permitir que
haja uma mudança no sistema
-que o modernize- na qual os
trabalhadores fiquem em uma situação pior que a de hoje. Se vai
mudar, os trabalhadores também
têm que usufruir dos benefícios."
Santiago quer uma solução da
gestão Marta Suplicy para as dívidas trabalhistas de viações que
deixaram de operar -de Romero
Niquini, que teve seus contratos
rescindidos em 2002, e de Wagner
de Almeida Vieira, que entregou
as linhas da América do Sul na última sexta. As pendências com
9.000 trabalhadores são estimadas em R$ 18 milhões.
O sindicalista diz temer que,
com a implantação do novo sistema de transporte, os condutores
fiquem sem esses direitos. Uma
alternativa, afirma, é incluir essa
dívida na licitação, para que seja
bancada por quem assumir as
áreas. Ele cobra ainda garantia
imediata de que as viações depositarão os encargos trabalhistas.
As reivindicações não foram
atendidas por Jilmar Tatto, que
descartou a possibilidade de injetar recursos para resolver esses
problemas ou fazer mudanças na
licitação. "Não vamos ceder, não
vamos aceitar essa pressão, não
vamos usar dinheiro público para
bancar empresários incompetentes", disse Tatto, que propôs apenas a criação de uma comissão
entre prefeitura, viações e condutores para discutir esses temas.
Os empresários de ônibus dizem reconhecer os direitos dos
motoristas, mas rebatem com
veemência a acusação de locaute.
"Não aceito essa acusação. O prejuízo com a greve é extraordinário. A receita de hoje vai fazer
muita falta amanhã", disse Sérgio
Pavani, presidente do Transurb.
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