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São Paulo, terça-feira, 04 de fevereiro de 2003

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VIOLÊNCIA

Em Campinas, músico atirou o bebê após colidir com outro veículo; em seguida, mulher bateu a cabeça da filha em árvore

Pai joga filho de 1 ano em pára-brisa de carro

Leandro Ferreira/AAN
Fernando Pompeu de Camargo na picape que teve o vidro quebrado pelo bebê lançado contra o pára-brisa


MÁRIO TONOCCHI
FREE-LANCE PARA A FOLHA CAMPINAS

A polícia de Campinas prendeu anteontem um casal de músicos que tentou matar os dois filhos -de um e seis anos. O pai, Alexandre Alvarenga, 31, chegou a arremessar o bebê, José Alexandre Rosolen Alvarenga, contra o pára-brisa de uma picape. A criança quebrou o vidro do veículo e caiu no colo do motorista.
A mulher do músico, Sara Maria Rosolen Alvarenga, 32, após a ação do marido, passou a bater a cabeça da filha, Alessa Rosolen Alvarenga, 6, em uma árvore.
As informações foram colhidas por meio de depoimentos de pessoas que presenciaram a cena.
O casal foi preso em flagrante por tentativa de homicídio. Os dois estão internados no Hospital Celso Pierro, da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Campinas, e passaram o dia de ontem sedados. Um primeiro laudo médico, feito num momento em que eles não estavam sob o efeito dos sedativos, apontou que os dois tiveram um surto psicótico. Um exame toxicológico não apontou a presença de drogas.
O casal já gravou dois CDs. A dupla sertaneja usava o nome Xandy e Sara e se preparava para lançar o terceiro trabalho. Alvarenga também fez o arranjo de cordas da música "Meu País", da dupla Zezé di Camargo & Luciano -música usada na campanha do ano passado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O casal estava em um Palio, com as duas crianças, quando se envolveu em um acidente. Alvarenga teria jogado seu carro contra o veículo do engenheiro Alexandre Camargo Vicentini, 35, que dirigia no sentido contrário, no bairro Guanabara. "Tive a impressão de que ele queria matar toda a família", disse o engenheiro. Ninguém ficou ferido na colisão.
O advogado Carlos Eduardo Pereira Sobrinho, que mora em frente ao local do acidente, disse que o casal desceu transtornado do veículo. "Ele começou a gritar "meu pai, meu pai", enquanto dava cabeçadas no automóvel."
Segundo testemunhas, a mulher agarrou os dois filhos e saiu correndo para a rua. O pai então retirou o bebê do colo da mãe e o arremessou contra o pára-brisa de uma picape Blazer que passava.
O aposentado Fernando Pompeu de Camargo, 74, que dirigia a picape, afirmou que viu Alvarenga arremessar a criança e gritar "fica para você". A criança atravessou o vidro, bateu no peito do aposentado e caiu em seu colo. Camargo, que inicialmente achou que fosse um boneco, assustou-se ao ver que era um bebê.
Enquanto as testemunhas, com o auxílio do médico Jorge Vicente Chiarini Júnior, 52, socorriam o bebê, o casal correu com a filha de seis anos para o bosque dos Alemães, uma área de lazer do bairro. De acordo com a polícia, dentro da mata a mãe passou a bater a cabeça da filha em uma árvore, enquanto gritava que era "em nome de Deus".
Os moradores que assistiam apavorados à cena de horror conseguiram retirar a menina da mãe, mas não conseguiram controlar o casal. "Somente depois de muita luta conseguimos segurá-los até a chegada da Polícia Militar", afirmou Sobrinho.
O casal só foi dominado 40 minutos depois, quando foram aplicados sedativos pelos médicos do Samu (Serviço de Atendimento Médico de Urgência).
O bebê sofreu traumatismo craniano e está internado na UTI do Hospital Municipal Mário Gatti em estado gravíssimo. A respiração e a pressão arterial estão sendo controladas com o auxílio de aparelhos.
Já a menina foi medicada e liberada na noite de anteontem. A Promotoria da Infância e Juventude deve entregar a guarda provisória à avó paterna, Maria José Camargo Alvarenga.
Os pais foram levados para a unidade psiquiátrica do Hospital Celso Pierro, onde permaneceram internados em observação.
De acordo com o advogado contratado pela família, Luiz Henrique Cirilo, 38, a psiquiatra do Celso Pierro Luciana Cortizo de Argolo Nobre já emitiu um parecer preliminar afirmando que o casal necessita de tratamento psiquiátrico. "Já entrei com o pedido na Justiça para que eles sejam tratados", afirmou.
A delegada do 3º DP de Campinas, Iara Eli Marques da Silva, esteve ontem à tarde no hospital para interrogar o casal, mas não conseguiu falar com os acusados devido aos sedativos. Foi aberto inquérito policial para investigar os motivos que levaram os músicos a tentar matar seus filhos.


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