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INTOLERÂNCIA
Moradores relatam ameaças a adeptos de religiões afro, proibição de reuniões e fechamento de terreiros
Tráfico é acusado de vetar umbanda no Rio
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO
Traficantes de drogas estão
proibindo ou restringindo as religiões afro-brasileiras, como a umbanda e o candomblé, em favelas
do Rio de Janeiro, segundo relatos
de líderes de associações de moradores e religiosos ouvidos pela
Folha. Terreiros foram fechados
e, em 2002, um pai-de-santo foi
assassinado.
Para representantes de religiões
afro, um dos motivos seria o envolvimento de traficantes ou seus
familiares com igrejas evangélicas, que têm correntes que associam a umbanda e o candomblé a
manifestações demoníacas.
No morro do Dendê, na Ilha do
Governador (zona norte), Fernando Gomes de Freitas, o Fernandinho, acusado de liderar o
tráfico local e que se diz evangélico, determinou o fechamento de
ao menos três terreiros nos últimos meses e proibiu que pessoas
circulem pela favela com cordões
ou pulseiras com alusão às religiões afro, segundo testemunhos
ouvidos pela Folha.
Despachos de macumba e reuniões são proibidos nas ruas do
complexo de favelas de Senador
Camará (zona oeste), onde traficantes freqüentam cultos da Igreja Assembléia de Deus dos Últimos Dias. Um dos adeptos era
Róbson André da Silva, o Robinho Pinga, chefe do tráfico local e
atualmente preso. Na sua apresentação pela polícia, Robinho
Pinga apareceu com uma bíblia e
afirmando-se evangélico.
Nas favelas de Jacarezinho,
Mangueira, Manguinhos e Vigário Geral, todas nas zona norte e
onde a venda de droga é dominada pelo Comando Vermelho, os
terreiros não têm mais sessões.
Há cerca de um mês, um traficante ameaçou agredir uma mulher
em Manguinhos, porque ela se
disse adepta da religião afro.
A polícia já flagrou a participação de traficantes em cultos próximos de pontos de venda de droga. Alberico Azevedo de Medeiros, o Derico, acusado de liderar a
venda de drogas na favela de Acari (zona norte), foi filmado orando num palco de uma igreja evangélica, pouco antes de ser preso.
Um pai-de-santo foi morto na
favela da Carobinha, em Campo
Grande, em 2002, por divergências religiosas com o então presidente da associação de moradores, suspeito de ligação com o tráfico, dizem líderes comunitários.
No morro da Fazendinha, no
complexo do Alemão (zona norte), os traficantes mandaram fechar dois terreiros no ano passado, porque o som dos atabaques
atrapalhava o movimento de drogas e a percepção deles sobre uma
possível ação da polícia.
No ano passado, um centro de
umbanda foi fechado em Piedade
(zona norte) por ordem do tráfico
porque estava havendo uma
guerra entre quadrilhas rivais,
que temiam a infiltração policial.
Outro lado
A Ordem dos Pastores Evangélicos Mundial, que reúne várias seitas evangélicas, informou desconhecer qualquer problema entre
evangélicos e umbandistas. Segundo a organização, se houver
algum tipo de atrito, é de cunho
particular. A entidade admite que
pastores realizam trabalhos de
evangelização com traficantes de
drogas, visando sua recuperação.
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